
O gênero que resistiu ao tempo: o Drum & Bass está mais vivo do que nunca!
Nascido na Inglaterra e exportado para o Brasil, o Drum and Bass foi uma febre brasileira nos anos 90 e 2000, época em que a música eletrônica não tinha tanta força popular como hoje, mas os clubes noturnos adoravam o ritmo acelerado. Foi um tempo importante para o gênero: artistas eram vistos pela televisão e DJs viajavam constantemente com gigs espalhadas pelo país.
Conquistando a atenção e o respeito pelo mundo, o gênero viveu uma verdadeira época de ouro entre os brasileiros. Criamos nossa própria subvertente, o Brazilian Drum and Bass — ou, como o músico Marcos Valle chamava, Drum and Bossa. Com uma identidade tupiniquim, nosso som trouxe elementos do MPB, samba e bossa nova, uma mistura que conquistou as pistas em tempos mais antigos.
Porém, a atual geração da música eletrônica, em grande parte, mal conhece esse passado tão crucial para o desenvolvimento do mercado. Muitos não sabem quem foram os heróis que expuseram a música eletrônica para a mídia brasileira, os desbravadores que, mesmo sem recursos, viajaram à Europa para levar o som do Brasil e conquistar o cenário internacional. Poucos conhecem pioneiros como DJ Patife, DJ Andy, XRS, Kaleidoscópio e Drumagick, ou mesmo entendem por que DJ Marky é tão respeitado mundo afora.
Um universo musical tão rico acabou se enfraquecendo devido ao preconceito de anos atrás com o 'público que atraía'. Isso resultou em uma desconexão da atual geração de ouvintes de música eletrônica, a ponto de ignorarmos fatos como a existência da DNBB Records, a maior gravadora de Drum and Bass da América Latina. Por isso, artistas brasileiros que conquistam o mundo, como Urbandawn, Alibi e S.P.Y, não recebem o devido reconhecimento em seu próprio país.
“Aí você vê né? Como é que o negócio cresceu…A gente tocava na vila, depois teve uma época que todo mundo quis acabar com o “junguinho” véio nosso. Falaram que era música de maloqueiro, que atraía briga, etc., etc. etc…O mundo dá volta né?! É incrível, e eu gosto disso!!”
DJ Patife no documentário "Introduzindo Drum'n'Bass no Brasil"O Drum & Bass no mundo
Diferentemente do Brasil, o Drum & Bass continuou tendo seu espaço na gringa — claro, com seus altos e baixos —, porém a comunidade foi crescendo. Selos como a lendária Metalheadz, Planet V, UKF, Hospital Records, Helix Records, Liquicity, entre tantas outras, foram responsáveis por apresentar novos artistas e enriquecer a cena.
O Spotify revelou parte dessa força no final do ano passado. Ao compartilhar dados do crescimento da vertente no Reino Unido, a gigante do streaming apontou um aumento de 94% no número de ouvintes nos últimos três anos. Dentro desses novos ouvintes, 68% têm menos de 34 anos — o que revela um interesse em ascensão por parte do público mais jovem. Além do relatório, que convidou diversos artistas – inclusive o brasileiro S.P.Y. –, foi lançado um mini-documentário, descrito como uma 'carta de amor' para a comunidade.
"O Drum and Bass resistiu o teste do tempo, porque nunca, jamais, parou…Ele está sempre mudando”
Sota em "Dnb: In For Life"A divulgação desses dados reflete um movimento que vem acontecendo nas pistas de grandes festivais. Reconquistando a atenção global, o Drum & Bass vem se destacando entre as tracks mais tocadas dos maiores eventos de música eletrônica. No EDC Las Vegas do ano passado, tivemos quatro tracks de D&B entre as mais tocadas: “Baddadan”, de Chase & Status; “levemealone”, do Fred Again..; o remix de “It’s That Time”, do Dimension; e “MHITR”, do Hedex. Já no Ultra Miami deste ano, o gênero ganhou ainda mais destaque.
Logo no Top 10 veio Sub Focus com “On & On”; em 5º, Grafix & Culture Shock com “Make It Pump”; e, reinando nos pódio, vieram Chase & Status com “Baddadan”, “Liquor & Cigarettes” e “Backbone”.
Não apenas as faixas originais se destacam, mas uma enxurrada de remixes de músicas famosas agora ganha força nos sets dos DJs, como 'Jungle', de Arcando, e 'This Feeling', de Andromedik.
Atentos a esse movimento, artistas mainstream como deadmau5, John Summit e Steve Aoki começaram a se aventurar no Drum & Bass. Alguns, inclusive, já criaram projetos focados no gênero, como o alias 'Malaa (Alter Ego)', e 'Control Alt Delete', de Don Diablo. Esse avanço internacional gradualmente vem influenciando o Brasil a investir mais na vertente.
Eventos no Brasil
Ao falarmos em Drum & Bass no Brasil, o Tomorrowland tem sido um grande aliado do gênero. Prova disso é que, no evento de anúncio da edição brasileira, para marcar o início de um dia inesquecível, a organização escalou a lenda DJ Marky — que, aliás, esteve presente em todas as edições até então. Já na sua edição de estreia, em 2015, o festival contou com a presença de brasileiros como DJ Patife, S.P.Y. e DJ MS2, além dos estrangeiros Netsky, Dirtyphonics, Ed Rush e One87. Em 2016, DJ Andy, Andrezz e L-side apareceram no line-up, juntamente com o pioneiro britânico DJ Hype.
No retorno do Tomorrowland ao Brasil, já em uma nova geração do Drum & Bass, o festival marcou a estreia de Andromedik e do brasileiro Urbandawn. Na edição de 2023, Netsky, que havia se apresentado no Tulip, ganhou uma vaga no Mainstage ao substituir Amber Broos. Contudo, foi em 2024 que o gênero brilhou de vez, com um palco comandado pela Rampage — uma das maiores labels da vertente. O festival recebeu uma chuva de DJs internacionais, como Murdock, Teddy Killerz, Justin Hawkes, Koven e Netsky, além de Andromedik, que se destacou no mainstage. Para completar, o Brasil foi apresentado ao artista mais jovem da história do evento: o prodígio Kallel, de apenas 16 anos.
O surgimento de crews
Após a dissolução de vários núcleos em 2010, emergiu o ForBass&Tendence , um grupo essencial que nasceu da unificação de eventos com o objetivo de dar espaço a novos DJs e produtores. Unindos os amigos Thiago Un, David Almeida, Thiago Borges, Vagner Borges e José Carlos, o primeiro evento da crew ocorreu em 2011. Essa parceria frutificou, e em 2013, Thiago idealizou o 'I Love Bass Festival'.
Este braço do coletivo promove encontros gratuitos para os amantes do gênero, fomentando há 14 anos o Drum & Bass. O grupo administrado por Critycal Dub (David), DJ Tikko (Vagner) e VJ Mole (José) segue ativo na cena, realizando eventos como o recente 'I Love Bass', que contou com a participação de nomes como Marky e Andy.
O clube Top #8 do mundo, Laroc, abriu recentemente as portas para o Drum & Bass, trazendo nomes de peso do gênero. A casa apresentou ao seu público um som diferente do que estão habituados. Primeiro, surpreenderam ao escalar Andromedik e Dimension para o maior carnaval eletrônico do Brasil: o Ame Laroc Festival. Logo depois, em parceria com a Skol Beats, trouxeram Netsky para o Road to Tomorrowland.
Segundo a própria Laroc, são três artistas que traduzem perfeitamente o DnB de hoje: melódico, pulsante e acessível. Em conversa com Silvio Soul, um dos sócios-fundadores do clube, entendemos o motivo dessa aposta e recebemos alguns spoilers do que podemos esperar para o futuro.
Na verdade eu, particularmente, sempre quis incorporar. É um gênero que faz parte da cultura eletrônica e que tem uma história incrível no Brasil. Então juntou essa curiosidade, a conexão pessoal com o som e, claro, o momento do gênero no mundo, quebrando muitas barreiras e flertando cada vez mais com o grande público. Senti que era hora de abrir esse espaço no Laroc. E pra quem queria spoiler, já estamos desenhando nossa própria label focada em Drum'n'Bass. Teremos novidades em breve!”
Comentou Silvio Soul sobre o Drum and BassJá na capital, uma outra importante pista é a do D-Edge, que frequentemente abre espaço para o gênero, realizando eventos marcantes que entram para a história — como quando a ucraniana Nastia, referência no techno, fez um memorável set de D&B ao lado de Marky.
Agora, a extensão carioca da casa também vem se tornando palco para o gênero, expandindo a sonoridade para além de São Paulo e levando o ritmo acelerado de volta à Cidade Maravilhosa.
Outro destaque que vem botando seus pés no RJ — ou melhor, suas bicicletas — é o projeto paulistano 888dnb, que nasceu após seu fundador, João Pedro Villar, questionar a falta de festas de Drum & Bass no Brasil. Desse desejo por mais eventos, importou-se uma ideia gringa super empolgante, que gerou uma comunidade unida, em constante crescimento e ganhando visibilidade pelas ruas.
Isso porque, ao misturar música e atividade física, o projeto criou o 'DNB na Bike' — um movimento que reúne centenas de amantes do gênero para uma passeata em meio aos prédios das grandes cidades, tudo embalado por muito Drum & Bass. Com planos de expansão para novas cidades, o 888dnb demonstra a popularidade duradoura do gênero na música eletrônica — fãs que se juntam não só em bikes, mas também em skates, patins, patinetes e a pé, movidos pelo som que tanto amam.
A chama não pode se apagar
Os holofotes se virando novamente para o Drum and Bass é algo que não podemos deixar passar em branco. Os fãs do gênero devem intensificar ainda mais esse movimento: fazer barulho, interagir, curtir, comentar, compartilhar. Devemos provar aos contratantes que há um público sólido e engajado no Brasil, dissipando qualquer dúvida sobre investir na cena nacional e também, na vinda de artistas internacionais.
Então, apoie os pequenos eventos; procure saber quem vem fazendo rolês perto de você, quem são os artistas brasileiros que espalham o ritmo para dentro e fora do país. O sucesso desse som vai depender de quem ajuda e faz acontecer. Vamos fazer com que o Drum & Bass volte ao topo da música eletrônica, tendo o destaque que sempre mereceu.
Imagem de capa: Reprodução.
Sobre o autor

Pablo Brandine
Se emocionar, dançar e cantar até ficar rouco. Seu amor por música caminha por todos os gêneros da eletrônica.
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