Cortez analisa a importância dos vocais na House Music e como isso tem impactado suas produções
Por Laura Stetner.
Quem nunca pensou em ser um mosquitinho em Chicago nos anos 80 para presenciar o nascimento da House Music, que atire a primeira pedra. As batidas 4/4 e basslines são características marcantes da vertente que cresceu e se popularizou, entre os diversos ritmos de música eletrônica, como a mais feliz e dançante. O groove de seus subgêneros, como a disco music e o boogie foram grande influência para o House de hoje, que está sempre recheado de vocais, em sua maioria femininos.
Febre no mundo inteiro, a House Music encanta a todos por onde passa, inclusive do outro lado do mundo, onde está Adriano Cortez, aka Cortez (BR). O DJ e produtor, que já conta com lançamentos pela australiana Motive Recs e Warung Records, é radicado no Japão. Ele conversou com a Play BPM sobre a influência do house em suas produções recentes, a cena eletrônica japonesa e principalmente sobre o elemento chave do House: os vocais.
Tudo começou na infância
Cortez: E aí pessoal da Play BPM, mais uma vez é um prazer compartilhar conhecimento com todos vocês!
Em 1986, eu tinha apenas 4 anos de idade e meu pai comprou o disco Off The Wall do Michael Jackson, lançado em 1979 pelo mestre Quincy Jones pela Epic Records, o primeiro House que ouvi na minha vida foi “Rock With You”. Eu dançava com minha mãe, ouvia esse som no carro com meu pai que gravava suas fitas K7. E até hoje esse som me deixa bem, me traz paz e da vontade de fechar os olhos e sair flutuando.
House é sentimento
Hoje como produtor, vejo que “Rock With You” é uma das músicas mais bem produzidas do mundo na minha opinião. Todo o instrumental é impecável, a Mix e Master eram a frente do seu tempo e o vocal meus amigos, é a alma desse som. A forma que o Michael utiliza as notas, pronuncia cada palavra... é o que passa a sensação de bem estar que falei no início.
Tem músicas que quando ouço e meu braço arrepia inteiro, me vem à vontade de cantar junto, se estou no estúdio já aumento o som para sentir no peito. A última track que mexeu comigo se chama “Tell Me”, de Alain Ducroix, Daniele Quatrini e vocal da Venessa Jackson.
O vocal é a parte mais importante na música
Se o vocal é mais agressivo e você tentar fazer um acompanhamento suave, calmo e sem impacto não vai ornar, não encaixa. O instrumental tem que estar a altura, respeitando sempre as escalas e dando todo suporte para o vocal.
Nas minhas últimas faixas do EP Burn Batucada as tracks “Burn Batucada” e “It Not Mind” são exemplos muito claros de como usar o vocal e como respeitar seus limites. Em “Burn Batucada” o vocal é repleto de energia, traz uma sensação de algo intenso e feliz, esse vocal exige um groove pesado que dê suporte e que de o ritmo que a cantora transmite.
Já em “It Not Mind”, o vocal é poderoso, mas é um pouco mais introspectivo, então a base tem swing, o groove é intenso mas é mais sério e a escala leva o som para um lado mais underground.
A cena no Japão
O Japão aparentemente parece ser um país com uma cultura onde as pessoas são mais reservadas, isso está correto porém, somente no dia-a-dia!
Em uma festa os japoneses não tem barreiras, se soltam na pista, cada um dança a sua maneira sem olhares de julgamento e respeitam muito o DJ! A música é muito respeitada por aqui, se a música é boa eles vão para cima!
Tive experiências maravilhosas aqui e a resposta do público do House e Tech House é fantástica! E na festa o público japonês vibra, grita, aplaude e vem apertar sua mão e abraçar, isso muda tudo que imaginamos sobre esse povo maravilhoso! Eu não vejo a hora das festas voltarem ao normal para sentir essa vibe novamente!
5 clássicos que você precisa ouvir:
Too Many Fish - Frankie Knuckles
U Don’t know me - Arman Van Helden
Lola’s Theme - The Shapeshifter
Pra completar, tem uma playlist especial montada por Cortez para você entrar ainda mais na vibe de House com vocais: