Entrevistas

'Alterando a realidade para capturar a essência', é assim que Fernando descreve os 8 anos da Sigma F

Quando estamos imersos na música e na atmosfera dos eventos, é muito comum não lembrarmos de tirar fotos. São tantas emoções que o celular acaba ficando de lado e os momentos tornam-se apenas memórias. No entanto, existem aqueles artistas que conseguem capturar os mais incríveis flashes, transformando sentimento em imagem . É o caso dos fotógrafos da Sigma F , coletivo de fotografia idealizado e fundado em 2013 por Fernando Sigma .

Se você é um frequentador assíduo de festas e festivais, você com certeza já viu – ou foi visto – por algum desses mestres das lentes . Sempre atentos aos sentimentos que invadem as pistas de dança, eles são responsáveis por eternizar os mais sinceros sorrisos, abraços e beijos, e fazem de tudo para capturar cada emoção, com capacidade de materializar cada sensação vivida por nós , acompanhando a vibe sempre atentos, do break ao drop.

Idealizada e fundada por Fernando Sigma em 2013, a Sigma F é a aniversariante do dia e uma referência no mercado de fotografia de eventos, principalmente de música eletrônica, e mesmo que você não saiba, com certeza já se deparou com alguma foto dessa equipe braba ! Ditando uma era no ramo da fotografia, a forma de enxergar, fotografar, capturar e editar do coletivo fizeram com que ele se tornasse uma das figuras mais marcadas e admiradas no Brasil. Sorte a daqueles que já foram clicados por esses feras!

Comemorando os 8 anos de estrada , conversamos com seu próprio criador, Fernando Sigma , e entendemos mais sobre a história da Sigma F , que “altera a realidade para capturar a essência” , como eles mesmos falam. Confira abaixo!

Oi, Sigma! Tudo bem? Primeiramente, parabéns pelo trabalho incrível que você faz! Agora vamos lá para as perguntas sobre os 8 anos de carreira da Sigma F!

Em primeiro lugar, conte um pouquinho da sua história com a fotografia. Da onde surgiu a vontade de ser fotógrafo? É a profissão que você sempre quis ou foi algo que foi acontecendo naturalmente e quando você percebeu, estava totalmente imerso nesse mundo?

Primeiramente gostaria de agradecer a PLAY BPM pelo espaço e pela entrevista. Bem, a vontade de ser fotógrafo, na verdade, veio de uma necessidade. Quando eu comecei a fotografar, eu estava iniciando um curso para ser piloto de avião, mas já frequentava algumas festinhas e sempre via que tinha fotógrafos fazendo as fotos da galera. O curso de aviação é um curso muito caro, o valor das horas de voo estava longe da minha realidade naquele momento, e como eu já tinha uma câmera semiprofissional e um pequeno conhecimento na fotografia, decidi comprar uma câmera melhor e começar a me dedicar mais à profissão para complementar a minha renda e conseguir pagar as horas de voo. Comecei fotografando eventos pequenos que normalmente frequentava com meus amigos, eventos open bar que tocava funk ou rap, mas tudo isso sem uma pretensão profissional, apenas para conseguir uma grana extra. O tempo foi passando, e comecei a fotografar cada dia mais eventos, me apaixonando pela profissão. Era algo que tinha muito mais a ver com a minha personalidade do que a aviação, então acabei largando o curso para me dedicar a fotografia.

Ainda sobre o início da carreira da Sigma F, como foi começar e quais as dificuldades e desafios que você enfrentou nesse período que te tornaram mais forte para chegar até o atual momento?

Como o começo de tudo, foi muito difícil, por vários motivos. Eu era muito novo na época que criei a Sigma F, tinha apenas 17 anos, então a primeira dificuldade apareceu: a aprovação da família para aceitar aquela ideia. Acredito que boa parte dos artistas que começam novos passam por essa dificuldade. A minha família, que é tradicional, não gostava da ideia de eu largar um curso profissionalizante de aviação para fotografar festas, viam muita instabilidade nessa minha escolha e o apoio deles demorou para chegar. Além disso, no começo, os cachês da época eram muito baixos e a frequência de trabalhos era pequena. No primeiro ano, normalmente eu fotografava de 2 a 3 eventos por mês com cachês que variavam de R$100 a R$250, e essa condição estava longe do que meus pais desejavam para mim e também da condição que eu precisava para me estabilizar financeiramente, ajudar meus pais em casa e conseguir investir em equipamento para melhorar a qualidade do meu trampo. No começo, foram muitas as vezes que pensei em desistir da fotografia e arrumar um trabalho de carteira assinada. Todas essas situações mais a falta de espaço e reconhecimento da fotografia onde eu estava envolvido me fizeram duvidar muito de que aquilo seria o ideal para a minha vida.

Desde sempre você se interessou pela fotografia de grandes eventos? Era algo que você tinha em mente e que colocava como objetivo desde quando começou a empresa ou esse é um mercado que despertou seu interesse depois de algum tempo?

Sim, desde que comecei a me dedicar 100% a fotografia, meu desejo era estar presente em grandes eventos. Meu foco desde o início era a fotografia de eventos e sempre quis aperfeiçoar isso para fotografar os melhores.

Como foi o processo até que você fosse chamado para trabalhar em grandes festivais, como a Tribe e a Time Warp?

Foi um processo lento e de muito trabalho, demorou cerca de 3 a 4 anos e precisei fotografar mais de 300 eventos pequenos de funk ou rap antes de conseguir entrar na área da música eletrônica. Por um lado, foi muito bom ter essa experiência. Eu amava o que estava fazendo e ao mesmo tempo juntava uma grande experiência e portfólio para me preparar para eventos mais profissionais e entrar no mercado de dance music da forma certa, competindo de igual para igual com outros grandes fotógrafos do mercado, mesmo com pouco nome e poucos contatos, mas com uma fotografia de qualidade. Finalmente entrando na história da Sigma F na música eletrônica, para atingir os primeiros objetivos e começar a me encaixar nesse mercado, precisei fazer investimentos, fotografar eventos grandiosos como Tomorrowland Brasil e XXXperience como imprensa, sem receber nada e tendo altos custos para estar lá. Mas esses investimentos foram muito importantes para a Sigma F, eles trouxeram um portfólio de grande aceitação no mercado e muitos clientes que depositavam seus tickets e confiança na nossa fotografia. E assim foi até chegar em grandes festivais como fotógrafos oficiais. Em 2017 e 2018, a Sigma F entrava como imprensa para fotografar a XXXperience, e em 2019 finalmente fomos contratados para fotografar oficialmente o evento, com 4 fotógrafos no coletivo e em 2020 novamente.

Qual foi o momento na carreira da empresa em que você parou e falou: “UAU, eu estou aqui!”? Pode ser um evento, um profissional que fotografou, uma conquista, enfim, um momento muito marcante!

Com certeza foi no Tomorrowland Brasil 2016, mesmo fotografando como imprensa, acredito que foi o evento de maior importância para a Sigma F e o seu boom na música eletrônica. Fotografar um evento tão lindo como o Tomorrowland, desde a cenografia, a experiência das pessoas e os efeitos especiais, foi algo muito emocionante para mim e algo que virou o jogo, pois antes disso me encontrava em uma situação instável na minha carreira, de incertezas de que aquilo que estava fazendo iria dar certo, mas as consequências de ter um portfólio com o Tomorrowland foram de extrema importância para estabilizar o negócio e criar grandes oportunidades para a construção de uma carreira concreta.

Você sempre foi fã de música eletrônica? Esse é seu foco principal em se tratando de festas ou você topa fotografar todo tipo de evento?

Sempre escutei, mas não tanto quanto escuto hoje. Eu não tinha o conhecimento das vertentes. Um ano antes de entrar no mercado da música eletrônica, para mim, ela se resumia ao que passava na rádio, então não era algo que me encantava. Em 2016, conheci através de um amigo o Trance e o Techno, foi quando acendeu minha paixão, pois o som mais underground agradou muito mais os meus ouvidos. Hoje, a Sigma F fotografa grandes eventos fora da música eletrônica também, eventos como Farraial Sertanejo (evento para cerca de 50 mil pessoas), Nômade, Sons da rua e outros festivais gigantescos. Com nossa equipe incrível de fotógrafos e a nossa fotografia de excelência, a procura pelo nosso trabalho ultrapassa os limites da música eletrônica, mas sempre tivemos como foco principal atender a todas as demandas possíveis da dance music, diferente dos outros eventos com outros estilos musicais, no mundo da música eletrônica temos uma fama enorme e atendemos quase todas as vertentes, seja grandes festivais de Trance, de Techno ou de Deep.

Você tem um estilo de fotografia muito admirado por outros profissionais do mercado e suas fotos são simplesmente INCRÍVEIS! Como você treina seu olhar para capturar os sentimentos que estão acontecendo no momento do clique para depois conseguir expressa-los de forma estática?

Primeiramente, tudo é questão de experiência. Eu já perdi as contas de quantos eventos fotografei na minha carreira, mas acredito que esteja beirando os 1000, então a experiência e o feedback dos clientes e fotografados me fez melhorar cada dia mais. Além disso, eu acho que algo que me ajuda muito a fotografar a capturar o auge dos sentimentos na música eletrônica é também entender a música, saber quais são os momentos de explosão e fotografar exatamente esses momentos, seja a pista ou uma pessoa dançando. A concentração e a observação também são pontos fortes para um click foda!

Você tem planos de levar a Sigma F para o exterior, fotografando festivais fora do Brasil e levando sua arte para fora do Brasil? Puxando esse gancho, em qual evento você mais sonha trabalhar, aquele que, quando acontecer, você vai sentir que “zerou a vida”?

Tenho sim! Quero, em algum momento, ir para a Europa fazer uma maratona de fotografia e fotografar festivais de Techno por lá. Já fotografei alguns deles aqui no Brasil, como o Time Warp e o DGTL, e tenho planos sim de levar nosso nome para esses festivais no exterior. Hoje sinto que já zerei a vida na fotografia e sou muito grato por isso, mas tenho muita vontade de fotografar o AWAKENINGS e o Tomorrowland Bélgica, acho que seria uma realização enorme para mim.

Em relação à edição das fotos, o que passa pela sua cabeça nesse momento? Você procura associar os pre-sets aos estilos de cada festa, por exemplo, numa festa de Techno, tons mais escuros... em uma festa de house, tons mais quentes... ou algo do tipo?

Algo muito importante na minha fotografia é exatamente isso: a edição. Hoje, a Sigma F tem uma personalidade muito marcante que destaca nossas fotos dos outros fotógrafos, e a edição foi algo que foquei muito e ajudei meus fotógrafos a entender e aplicar do jeitinho Sigma. Mantemos um slogan já faz cinco anos que é: “FOTOS ÚNICAS PARA DIFERENTES PERSONALIDADES”. A frase significa que para cada tipo de evento ou artista nós nos desdobramos para encaixar sua personalidade dentro da foto e nós fomos os primeiros a nos preocupar com isso e botar em prática. Então, por exemplo, hoje eu aplico em eventos de Techno um tipo de edição mais sombras, tonalidades mais “trevas”, já em eventos de House, trago a felicidade através das cores, fotos mais coloridas e mais vivas. Em alguns poucos eventos, o cliente precisa de fotos mais cruas e nós sempre iremos nos adaptar a necessidade dele. Aliás, vai muito além disso, é difícil explicar tudo aqui, precisaríamos de um texto enorme rs.

Escolha 1 foto sua e nos conte o porquê!

Essa foto de drone foi feita na última Tribe, em 2019. Gosto muito dela, pois além da estética passar muito a minha personalidade fotográfica, ela foi uma das fotos que mais repercutiu na minha carreira, além de ser postada em vários lugares. Também representa o auge da minha carreira, o momento em que estava fotografando os festivais que mais sonhava em fotografar e a Tribe foi um deles, uma enorme conquista na fotografia para mim e para a Sigma F.

Qual a marca registrada da Sigma F?

A marca registrada tem relação com outro slogan que nós temos: “Alterando a realidade para capturar a essência”. Ele faz parte do nosso sucesso, faz alusão aos filtros fortes da Sigma e tem a ver com o trazer o sentimento para a foto. Imagina que você está em uma festa e você viu tudo aquilo acontecendo, porém você não apenas viu, mas também sentiu, e a nossa missão através da fotografia é passar esse sentimento através da nossa edição forte, trazer de volta a essência de momentos alterando a realidade com a edição de cores e luzes, puxando de volta sentimentos de felicidade, alegria, euforia etc. Temos muito orgulho disso, pois fomos pioneiros nessa modalidade de fotografia, quando começamos a colocar filtros fortes nas nossas fotos, eram pouquíssimos fotógrafos de eventos no mundo inteiro que faziam o mesmo e isso nos destacou demais, o que inspirou muitos outros.

O que você diria para o Sigma de 8 anos atrás?

Diria para ter paciência, manter o esforço, a cabeça erguida sempre, aguentar a pressão e nunca desistir. Diria que tudo dará certo e virão conquistas muito maiores do que você imagina.

Que dicas e conselhos você daria para aqueles que, assim como você, querem entrar no ramo da fotografia e ter um olhar tão sensível sobre o mundo?

Acho que algo muito importante é criar uma estabilidade onde você quer atuar. Não adianta estar no alto se você estiver em cima de uma corda bamba, é preciso de uma estrutura para se sustentar, uma estrutura forte para caso um dia você cair, ter algo que te segure poucos degraus abaixo. Quanto mais forte sua estrutura, menor e menos dolorosas serão as quedas. Para construí-la é preciso de calma, paciência, muita experiência, contatos sólidos e parceiros fiéis que você só vai conquistar com empatia e honestidade. Nunca tente passar a perna em ninguém, em qualquer meio que você esteja na fotografia, procure construir ótimos relacionamentos entre seus concorrentes e clientes, colaborar entre si para fortificar essa estrutura. Não suba lá no alto em uma corda bamba.

Além de você, a Sigma F tem outros fotógrafos que fazem um ótimo trabalho, qual o critério que você tem para chamar esses fotógrafos para trabalhar com você?

Ao longo desses oito anos de Sigma F, trabalhei com muitos fotógrafos e apanhei muito para entender como lidar com outras pessoas, além de escolher as pessoas certas para estar comigo. Confesso que só entendi esse mecanismo quatro anos atrás. Muitos fotógrafos passaram pela agência e não ficaram pela falta de profissionalismo, então hoje digo sempre para quem quer trabalhar comigo: é preciso tratar a fotografia como um rolê de trabalho e não como diversão. É claro que sempre nos divertimos, né, mas é preciso manter a responsabilidade e as metas de entrega. Hoje agradeço por ter uma equipe foda de fotógrafos que entendem isso e sempre entregam o trabalho com excelência e profissionalismo, respeitando prazos e metas e esse é o ponto principal. Também procuro por fotógrafos com aquela paixão no olhar por fazer fotografia, que querem aprender cada dia mais e aceitam críticas, procuramos por pessoas que tenham uma pequena experiência e estejam dispostos a crescer junto com a gente. Nesses oito anos de Sigma F, treinamos muitos fotógrafos que saíram praticamente da estaca zero para tornarem-se grandes profissionais. Alguns seguiram seus caminhos, e outros ainda estão conosco, tem fotógrafo que está na nossa equipe há mais de quatro anos e somos muito gratos a todo mundo que passou pelo nosso coletivo.