Entrevistas

“2021 será uma grande festa” afirma David Guetta em coletiva de imprensa

David Guetta foi coroado como o DJ nº 1 do mundo em 2020, depois de vencer a enquete anual dos 100 melhores DJs da DJ Mag pela segunda vez – quase uma década depois de ter conquistado o primeiro lugar em 2011. Depois desse grande feito anunciado no último sábado (07), o superstar francês apresentou-se no AMF 2020, fazendo um show para comemorar sua premiação virtual, gravado em Amsterdã, sendo transmitido para o mundo todo.

Em meio à comemoração por essa grande conquista, o artista participou de uma coletiva de imprensa nesta última segunda-feira (09) com os maiores e mais importantes sites e revistas de música eletrônica do mundo, e claro, o Play BPM esteve presente. Tivemos a chance de fazer uma pergunta para o DJ #1 e você confere aqui:

Play BPM: Você acredita que está na melhor fase de sua carreira depois de 20 anos na cena mundial? Guetta: Como DJ, acredito que esteja no meu melhor momento. Gravei um set incrível para o Tomorrowland Ano Novo e eu me sinto muito inspirado ultimamente. O fato de não fazer turnês e não estar sempre de jetlag, ajuda muito. A correria me deixa muito cansado e menos criativo. A pandemia trouxe um alívio, e o fato de não ter mais isso me faz sentir-me muito criativo. Essa nova fase está me trazendo novos sons e ideias, e sinto que até estou tocando melhor do que antes. Eu sinto que ainda estou somente no começo dessa nova fase, mas tudo isso ainda irá se desenvolver em algo ainda mais incrível.

Mais de 20 outros jornalistas do mundo todo fizeram diversas perguntas incríveis e o Play BPM separou aqui partes das respostas de David Guetta. Foram mais de 70 minutos de bate-papo com DJ #1 do mundo e ao final ele terminou com a frase: “Essa foi uma das entrevistas mais interessantes da minha vida. Pessoas perguntando sobre a música e suas influências. Muito obrigado à todos”, finalizou.

Confira agora alguns quotes de David Guetta sobre diversos tópicos abordados:

O retorno “2021 será a maior festa do planeta, pois todos estarão com muita vontade e saudades. Agora existe um teste que detecta o Covid em 5 minutos. Essa é uma possibilidade para os eventos. Os organizadores podem então testar as pessoas antes delas entrarem e resolve-se o problema. Algo para se olhar.”

Criatividade e o Future Rave “Acredito que a indústria da música não estava criativa o suficiente. O underground está muito mais interessante aos ouvidos de quem realmente gosta dos beats eletrônicos. Fui atrás de algo que fosse legal para mim e que agradasse o público ao mesmo tempo. Algo que trouxesse uma boa música com energia. EDM tem muita energia, mas a criatividade estava em baixa por lá, então eu quis misturar ambos, trazer a emoção e a energia, por isso criamos o Future Rave, eu e Morten.”

Conquistando seu espaço “Foi uma cruzada conseguir o respeito das pessoas como uma indústria séria, com a música eletrônica, no passado. Acredito ter ganhado esse espaço e respeito como um movimento de música, algo cultural. Mas agora com a pandemia, percebi que os governos não dão a mínima, não entendem, não respeitam o movimento cultural que a música eletrônica traz. Os clubes são locais de cultura, onde tudo começou e como as pessoas mostram seus trabalhos. Um problema da pandemia foi tirar a dependência do dinheiro de todas as pessoas que precisam dos shows.”

Ibiza e Guetta “Quando eu comecei em Ibiza, era uma festa por ano somente. Depois duas por verão. Hoje com duas apresentações por semana durante o verão, vejo o quanto cresci lá. Ibiza é uma parte importante da minha vida e carreira. Ser DJ é uma coisa, ser um entertainer é outra. No clube você pode experimentar coisas novas e usar o seu talento como um DJ de verdade. Nos shows de festivais, as pessoas já vão para escutar o seu som da maneira que entendem ele. Os clubes de Ibiza sempre foram uma inspiração para mim, usando-os sempre como um laboratório.”

Trabalho durante a quarentena “Foi uma decisão pessoal em trabalhar três vezes mais durante a pandemia, e produzir mais músicas. Mesmo sabendo que essas tracks não seriam tocadas em festas e por DJs pelo mundo. Eu fiz pela cultura e pelos fãs. Os shows em Miami e NYC foram incríveis para mim, para entregar o melhor para meus fãs. Fico feliz com o sucesso do Future Rave, mas isso é o meu trabalho sendo reconhecido. Trabalho pelo amor, o dinheiro é consequência. Acredito que as pessoas viram isso e por isso talvez eu tenha ganhado o #1 esse ano também.”

Impactos da Pandemia “Eu acho que um dos terríveis impactos que o Covid trouxe foram os problemas para as pessoas que já não tinham dinheiro para se manter. Os DJs ricos não gastaram dinheiro para fazerem shows durante a PANDEMIA. Acho que isso é investir na sua marca, mas eles não quiseram. Mas agora com o retorno dos eventos, acredito que todos terão chances. Os DJs menores sofrem mais, os DJs underground, que não tem uma fama por causa de seus shows caros, mas sim por sua música, seu estilo. Eles ficam famosos com as festas e after parties que eles tocam, construindo sua reputação. Isso me preocupa, pois isso não existiu por 10 meses e esses DJs perderam sua maneira de serem reconhecidos e serem falados sobre.”

Política de retorno dos eventos “Vamos todos fazer uma pressão política para que os governos olhem para nossa indústria e trazer awareness para o problema que estamos sofrendo. Hoje vejo que estamos sem espaço. Eu falei sobre isso no meu discurso da DJ Mag Top 100 e vou continuar falando e dando voz ao problema, que não pode ser calado. Mas sinto que isso é o máximo que podemos fazer.”

AMF 2020 set “Eu amei poder tocar aquele set para o AMF 2020, com bastante tracks novas, remixes meus e coisas que eu gosto de tocar. Fiz para provar para muitos que eu consigo tocar ao vivo, mostrar outras técnicas, usando synths e drum machines, combinando live music com DJing e foi bem fresh para mim e para os meus fãs. As tracks foram feitas 100% por mim, o que deu muito trabalho, mas foi digno do DJ #1 do mundo. Depois de 20 anos de carreira, queria mais uma vez honrar meus fãs e mostrar que eu me importo com eles. Hoje estou fazendo música todos os dias e estou gostando muito.”

Arrependimentos “Algo que eu sempre quis ter feito diferente foi não ter treinado piano clássico desde pequeno. Aprendi muito tarde como ler música e da maneira mais difícil. Ou seja, se tivesse aprendido a ler música antes e estudado quando jovem, isso teria me ajudado mais e melhor. Pois hoje com certeza tenho limitações que não teria se tivesse feito isso mais cedo.”

DJ Mag Top 100 “Quando eu ganhei a primeira vez, achei que estava atrasado nisso, pois era o DJ que mais vendia há 2 anos já. Era o mais buscado no Google e tudo mais. Mas dessa vez, eu vi que coloquei meus esforços com Jack Back e Future Rave e daí logo depois ganhei o Top 100. Então as pessoas entenderam o que eu queria fazer. Sempre quis fazer que a música eletrônica chegasse mais longe, mas ao mesmo tempo, mostrar aos fãs que estou fazendo as tracks para eles.”

Gêneros “As pessoas querem dançar. Quando eu comecei, House Music não existia. E eu fui migrando para os outros estilos conforme o tempo foi passando. Mas esses nomes não importam. O que importa é que as pessoas querem dançar, fazer parte de um grupo, livre, sem se preocupar com formas impostas pela sociedade, e se divertir acima de tudo. Eu senti que o EDM não era mais criativo como deveria ser, e por isso algumas pessoas saíram dessa comunidade. Daí vi a minha responsabilidade de ser criativo e trazer uma música de qualidade para os fãs. Assim nasceu o Future Rave.”

Label própria para o Future Rave “Não penso nisso. Transformar o Future Rave numa label, agora não vejo, mas para o futuro talvez. Agora vou lançar na label do Tiesto minha próxima track com Morten, então vou dividir esse som com o povo. Não quero ter só pra mim. Isso é para vocês!”

Underground “Nunca quis que o underground ficasse underground. Eu sempre amei. O House era underground, não porque eu queria, mas quando ela ganha o povo e ganha os rádios, deixa de ser. Quando eu amo um tipo de música, quero que ela chegue o mais longe possível e que mais pessoas escutem. Dividir com o máximo de pessoas que possa. Mas sem fazer elas piores ou mais fáceis de digerir, mas sim convencê-las a entender o som como é.”

Motivação “Minha motivação quando estou no estúdio é ver e imaginar eu tocando a track pela primeira vez para o público no palco. Isso me dá muita adrenalina. É por isso que eu continuo trabalhando duro para poder sentir isso sempre. E isso traz um impacto cultural para nossa indústria e fico feliz com isso. Achar meu estilo próprio do momento é bem difícil.”

Saúde “Festejar faz parte, mas a música deve sempre ser o foco. É difícil saber controlar isso e saber o limite de um e do outro. Como artista às vezes você se sente muito bem, mas às vezes se sente muito mal. É uma montanha-russa. Chegar no topo é uma coisa e controlar esse sucesso é muito complicado, veja os exemplos como Avicii e Hardwell. O sucesso é viciante. E você tem que saber balancear. Depois da morte do meu amigo Avicii, eu mudei várias coisas na minha carreira, dando passos para trás, ficando mais com a família e cuidando mais da nossa saúde física e mental.”