Entrevista: Boghosian fala sobre seu trabalho com sonorização de ambientes
Música faz parte de nossas vidas desde muito cedo. Já nos primeiros anos de idade, temos as canções de ninar, criadas especialmente para fazer bebês e crianças dormirem mais tranquilamente. Ao longo da vida, a encontramos nos carros, lojas, bares, restaurantes, hotéis, academias… fazendo uma breve reflexão, percebemos que para cada momento ou situação, existe uma trilha sonora que se encaixa perfeitamente, concorda?
Parte desse conceito é a base para o que conhecemos como music branding, uma estratégia de marketing sensorial que serve para reforçar o DNA de determinada marca através de músicas e sons. Entre as empresas especializadas neste segmento está a RGFM, fundada e idealizada por Brunno Mello, que tem no seu time profissionais super gabaritados como o conhecidíssimo Leo Janeiro e nosso convidado da vez, Boghosian, DJ com 20 anos de carreira que já foi eleito 3x como o melhor do Brasil.
Para muitos (e até para nossa equipe), foi uma surpresa saber que Paulo Boghosian atuava também neste ramo, já que seu nome é fortemente associado ao DJing e ao Warung Beach Club, local onde é residente há muitos anos. Então, para saber um pouco mais sobre o “lado b” do artista, nós o convidamos para uma entrevista com foco especial neste trabalho de sonorização de ambientes:
Play PBM: Conta pra gente quando essa parceria começou e como surgiu o convite? Você já tinha conhecimento do conceito de music branding?Boghosian: Sempre pensei em um serviço de montar trilhas para restaurantes, hotéis, lojas e lugares em geral. Primeiro porque faz total sentido você ter uma trilha sonora que reflita o seu posicionamento e o clima do lugar. Tem um ditado de um escritor alemão do século 18 que fala que: “arquitetura é música congelada”, e analogamente (aqui já parafraseando) música é arquitetura líquida.Segundo porque tem vários estudos que comprovam que, em um estabelecimento comercial, se o cliente gosta da música, ele fica mais propenso a comprar, a ficar mais tempo no local, etc. Mas para que esse negocio faça sentido e seja escalável, ele precisa ser automatizado, então passei a buscar ferramentas/programas para sonorização de ambientes.Foi aí que descobri que um grande amigo, o Leo Janeiro, já estava envolvido na RGFM, que tinha um timaço super competente e com o melhor software do mercado. Só que a RGFM estava no Rio de Janeiro e o maior mercado no Brasil é São Paulo. Então foi o casamento perfeito, fiquei responsável por montar a RGFM SP e nos tornamos sócios.
Play PBM: O foco principal da RGFM é a criação de playlists exclusivas, uma programação musical para diferentes negócios. Existem ainda outros serviços oferecidos?Boghosian: Isso mesmo, gostamos de falar que desenvolvemos produtos e serviços que conectam marca e clientes através de música. Isso vai desde as rádios “in-store” para os clientes, até eventos com curadoria própria, apresentações de artistas específicos (seja apresentação live de programadores, seja live de um artista presente na playlist do cliente), e também feeds musicais nas redes sociais do cliente.
Play PBM: Vocês possuem até mesmo um player autoral, certo? Seria como um “Spotify comercial”? Quais as principais vantagens disso para uma empresa que contrata a RGFM?Boghosian: Correto! Desenvolvemos um player proprietário porque acreditamos que o Spotify possui uma série de limitações para o nosso negócio. Mesmo assim utilizamos o Spotify para criar playlists públicas das marcas, mas não para a execução da trilha “in-store” do cliente.
O nosso programa possui recursos como a possibilidade de selecionar e programar moods ao longo do dia dentro de uma mesma playlist (ex: manhã, tarde e noite), um algoritmo de masterização/limiter para colocar as músicas no mesmo volume, um algoritmo que faz soft mix, além de um painel de controle para que o marketing do cliente consiga controlar a execução em cada um de seus estabelecimentos, gerar relatórios de execução, entre outras funcionalidades.
Play PBM: Sobre o seu trabalho pessoal: existe uma rotina com a RGFM ou é seu trabalho é mais “sob demanda”? Explica pra gente como é o processo do início ao fim quando um cliente entra em contato?Boghosian: A RGFM possui uma equipe própria dedicada, desde comercial, administrativo financeiro, TI e suporte. Essa equipe fica baseada no escritório no Rio de Janeiro cuidando de todo o dia a dia da empresa. Além deles existem dezenas de programadores, que são artistas de alto calibre espalhados pelo Brasil com suas próprias carteiras de clientes, montando seus playlists através do ferramental da RG. Atuo mais como um programador do que um administrador, embora faça periodicamente reuniões de acompanhamento com os sócios e também com clientes.
Play PBM: Você faz a curadoria musical para a rede de restaurantes e hotéis Fasano. Algum case dela ou de outro cliente para compartilhar? O que é mais importante levar em consideração na hora de criar essa playlist personalizada?Boghosian: Além do Fasano, temos vários clientes estrelados. Desde a rede de moda feminina Mixed até os restaurantes Kitchin, Ummi e Aragon, entre outros… não quero cometer injustiças, são muitas marcas fortes no portfólio. Mas o case Fasano é emblemático pela complexidade e nível de detalhe.São mais de 30 playlists diferentes tal que cada restaurante e cada ambiente de cada hotel tenha sua trilha ideal. Um trabalho minucioso e de muita pesquisa que demonstra o quanto se preocupam com a experiência do cliente. O Fasano representa o luxo na sua essência, a arte de fazer com que tudo esteja perfeito na experiência do hóspede.
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Play PBM: Existe uma diferença muito grande entre criar essa programação musical para empresas e construir um DJ set especial para as pessoas na pista?Boghosian: Total! E é importante que isso seja ressaltado. Na pista eu estou criando a minha arte, uso criações de terceiros mas o set representa a minha história. Na RGFM interpreto a marca do cliente musicalmente, não estou limitado ao meu estilo de som, o foco não está em mim e sim na marca. Estou usando da minha sensibilidade e conhecimento musical adquirido através dos anos para criar conceitos musicais distintos para marcas distintas.
Play PBM: Para finalizar: qual a parte mais interessante deste trabalho e o que você tira de mais proveitoso dele? Obrigado pela entrevista!Boghosian: Eu que agradeço pela oportunidade. Acho que o mais interessante é se aventurar e se aprofundar por diferentes estilos musicais, e com isso conseguir recriar ambientes. Ver o resultado da trilha seja em um restaurante, hotel ou loja e como isso se encaixa com a arquitetura, com as pessoas que estão ali e com o clima do lugar é muito interessante.
Sobre o autor
Vitória Zane
Editora-chefe da Play BPM. Jornalista curiosa que ama escrever, conhecer histórias, descobrir festivais e ouvir música eletrônica <3