Entrevista com Ban Schiavon, fundador do único centro de música eletrônica do mundo!
William, mais conhecido como Ban Schiavon, começou a tocar em 1988. Tornou-se profissional em 1992, em 1994, já estava nas rádios, onde participou ativamente como DJ e locutor até 2004. Seu currículo também inclui a produção de diversas festas, além da direção e apresentação de muitos programas que colaboraram bastante para o atual mercado da música eletrônica. Em 2001, “Bunnys”, como ficou mais conhecido ao participar das ações acima, criou a DJ Ban EMC, primeiro espaço no Brasil com cursos de DJ, produção musical, salas de treino, gravação de sets, workshops, e venda de discos e equipamentos. Em apenas dez anos, a DJ Ban EMC transformou-se no primeiro centro de música eletrônica do mundo – com loja física, online, maior leque de cursos, museu, locação de equipamentos, conteúdo editorial atualizado diariamente no site da Ban, e a Ban TV, que gera conteúdo de qualidade dentro do mercado em que atua – e expande! São mais de dez programas, e em dois deles, Ban participa ativamente: Batendo Prato, como apresentador, e B Radio Traxxx, como DJ residente. Confira a entrevista que realizamos com essa fera, que já está confirmada para a primeira edição do Electric Daisy Carnival! ;)
Na realidade, não despertou nessa forma de “quero ser DJ”. Sou radialista, e por meio do programa de rádio, eu divulgava alguns eventos que iriam acontecer em uma discoteca que eu participava. Então, a partir daí, começar a tocar foi apenas uma consequência. Eu não tenho nenhum ídolo que eu tenha visto e pensado “quero ser igual a ele”; mas claro que depois que eu descobri que era isso que queria, fui me informar e estudar. Tudo isso aconteceu por volta de 1989, mas eu comecei mesmo a me apresentar em 1992.
Trabalhei por 10 anos na Metropolitana, e durante este período, muitos ouvintes me perguntavam o porquê deu não oferecer cursos de locução. Então eu pensei: “porra, já sei tocar, posso colocar as duas paradas em prática.” Foi então que, em julho de 2001, aluguei uma sala na paulista e comecei.Obviamente a Ban não começou do jeito que está hoje, foi um longo processo de 10 anos para construirmos o único centro de música eletrônica do mundo. Nenhum lugar na Terra comporta todas as atividades que fazemos, como cursos, estúdios, TV, programas fixos, workshops, gravação de vídeos, redes sociais, e muito mais. Abrimos bastante o leque, mas não porque nos achamos os melhores, e sim para podermos mostrar que existem muitas outras coisas na cena eletrônica que poucos conhecem – procuramos mostrar o outro lado do mercado.
Bem, depende da época. Quando eu me apresentei fora do Brasil, o techno que tocávamos aqui, groovee hard groove, era diferente do que era tocado lá fora. Além disso, nenhuma vibe do mundo se comparada com a daqui. Então é basicamente isso!
Como DJ eu não cheguei onde gostaria, reconheço isso, talvez por falta de talento, ou talvez por não ter investido mais. A vida é feita de escolhas, e quando optei por investir no meu negócio e fazê-lo prosperar, não foi fácil. Nos dois ou três primeiros anos, a empresa precisou ser mantida com o dinheiro que eu ganhava na rádio. Foi só quando percebi que poderia sobreviver fazendo isso que sai da rádio para dedicar totalmente o meu tempo à DJ Ban EMC.Muitas pessoas me questionam o motivo pelo qual eu não aproveito(ei) o sucesso da minha empresa para me promover como DJ. A resposta é simples: é muito importante saber separar as duas coisas. Existe o Ban DJ e o Ban empreendedor, e as duas personas são diferentes uma da outra.Sabe aquele ditado: o olho do dono engorda o gado? Então, eu escolhi por empreender mais do que ser DJ. O maior ensinamento é esse: você não consegue ser algo se não se decidir e investir pesado.
Quando nós falamos de um DJ, e que boa parte dos DJs fazem a mesma coisa, nós podemos falar que boa parte do público também faz a mesma coisa, e que boa parte dos eventos também fazem a mesma coisa. Ou seja, é muito fácil contratar um artista que esteja em um bom momento e toque músicas que são conhecidas. O Electric Daisy Carnival é o primeiro festival que está dando a oportunidade para nomes totalmente desconhecidos, mas com talento.Fui convidado porque boa parte da curadoria conhece o meu trabalho, e fez o que acho correto. Convidar os artistas que vão realmente atrair as pessoas, e chamar os que vão dar outra cara para o evento. Adorei isso!Em relação à ansiedade, desde 2011 eu passo por um processo de depressão e ansiedade, no qual as pessoas não acreditam, mas tem me enchido muito o saco, pois me atrapalha muito. Sofro de ansiedade em todas as palestras e eventos que participo. Há uns 2 ou 3 anos, eu estava recusando todos os convites.Tem até um documentário chamado “DOC 20:10:10” – 10 dias que antecederam um set de 10 horas comemorando 20 anos de carreira. Esse foi o maior e pior set de toda a minha vida, pois eu já sofria com essa depressão e ansiedade e não sabia, então eu estava me sentindo muito mal, queria sair correndo do lugar. Quando descobri o que era, fiz um pequeno depoimento no Facebook, que me surpreendeu com o número de pessoas que falaram como eu era corajoso de contar o que estava acontecendo.Tudo isso é um processo que pode tanto melhorar quanto piorar, e por isso eu decidi enfrentar essa merda. Descobri que ao falar abertamente sobre o assunto, posso encorajar outras pessoas a enfrentarem também.
Nós sempre vamos colher o que plantamos, e o lance da música eletrônica é que boa parte das pessoas que trabalham na área já vêm plantando isso há muito tempo, seja comercial ou alternativo; então o que estamos fazendo agora é colher os frutos.A única coisa que eu vejo acontecer atualmente, e acho bem chato, são marcas que veem a música eletrônica apenas como uma forma de se propagar, e como isso envolve muito dinheiro, essas marcas acabam tendo total controle e poder sobre as peças do tabuleiro, e discordam de tudo que não é feito do seu jeito.
Em um primeiro momento, muitos dos nossos artistas precisaram estourar lá fora para serem reconhecidos aqui no Brasil. Hoje, temos nomes apontando no exterior, que já fazem algum sucesso aqui, mas não são valorizados, tanto pelas pessoas, quanto pelo mercado. Todo sucesso incomoda, então, no caso específico do Alok, eu vejo que se fosse uma situação dessa no sertanejo, se a banda tivesse expressão nacional e entrasse em um ranking gringo, todos os sertanejos aplaudiriam de pé. Mas na música eletrônica não; o cara do techno não quer que o outro cara do techno ganhe. Os próprios estilos se confrontam. Aqui no Brasil, boa parte das pessoas fazem as coisas sozinhas, porque se elas fizerem um em collab, estarão dando méritos para outras. Faz parte da nossa cultura, seja nos eventos ou nas ações do nosso cotidiano.Mas existem também as pessoas que não têm essa mentalidade e tentam unir as tribos, e quando elas não gostam de algo, têm o melhor tipo de manifestação: ficam caladas e respeitam. No caso do Alok, não estamos falando de música sertaneja, estamos falando de um cara de produz música eletrônica e é importante para muitas pessoas. Posso não gostar do estilo, mas preciso reconhecer que gosto é diferente de respeito.
Como qualquer mercado que se populariza e tende a crescer, ele precisa ter esses meios. São essas ações que farão mais pessoas conhecerem a música eletrônica. Toda iniciativa que seja séria é bem vista. Então se eu citar meia dúzia de sites, são seis sites que fazem um trabalho com fundamento. Um cara que coloca uma rádio qualquer e escreve matérias erradas entra no hall da banalização. Mas acredita nesse camarada quem quer, assim só quem quer acredita naquele camarada que não sabe tocar. É claro que os portais serão sempre concorrentes, mas é importante ter essas iniciativas, como buscar informações diferentes, e contatar artistas do mercado.No caso do blog da DJ Ban, tentamos fazer algo mais voltado para informações, não para concorrermos com os outros, mas para sermos relevantes e importantes para todos que o acessam; nem que seja apenas uma pessoa, uma matéria que postamos pode mudar a vida dela. Trabalhamos para um grande número de pessoas para captar poucas.
Vamos lá. Hoje em dia, as pessoas podem encontrar todo tipo de conteúdo online. Todo! Se ela quiserem aulas em Havard, ela encontrarão na internet, e o mesmo se aplica a cursos de DJ. Então, eu sugiro que façam cursos técnicos em locais que tenham know-how. O que mais temos hoje em dia também são escolas que formam alunos e já os tornam professores dela – e sou totalmente contra isso. Não existe a possibilidade de um cara que toca há 2 ou 3 anos ser professor, não acredito nisso; mas algumas pessoas acreditam. Então essas pessoas precisam procurar uma fonte séria, e o fato de ter muito conteúdo à disposição fará com que elas absorvam informações erradas, e farão com que aquilo se prolifere.Mesmo que o cara não queira se tornar DJ profissional, é necessário fazer um curso especializado para que ele possa se tornar um crítico do assunto, para não cair em mídia furada, pois boa parte do marketing da música eletrônica é vendido de forma errada, para captar a pessoa errada, e isso não vai dar em nada.Cara, música é arte, e arte é muito mais do que ‘vou ganhar disso com isso’. Podemos citar casos de pintores que só ficaram famosos após suas mortes, mas isso só aconteceu porque a arte deles se eternizou. Se você quer viver de música, assim como em qualquer área, é necessário um planejamento, avaliar se tem talento para isso, se consegue captar informações, ações corretas… Tem que ver se nasceu pra isso. Gostar de música não torna ninguém um DJ ou produtor; tem que amar, entender, e pesquisar o processo.Pessoas sérias fazendo coisas sérias demoram mais, mas o mercado evolui. Independente do que você goste, examine, pesquise, e se informe; vá atrás do seu sonho. Se você acha que isso vai tomar grande parte do seu tempo, sugiro que trace uma meta: “em dois anos, serei o DJ mais famosos do mundo”. Se nesse tempo não acontecer nada, você precisa rever se fez algo de errado. Eu reconhecer que não fui longe como DJ é um retrato disso. Dessa forma, o mercado de música eletrônica certamente evoluirá!
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Para saber mais sobre a escola DJ Ban, acesse: http://www.djban.com.br/
Sobre o autor
Rodolfo Reis
Sou movido por e para a música eletrônica. Há 7 anos, idealizei trabalhar com esta paixão, o que me levou a fundar a Play BPM. 3 anos depois, me tornei sócio da E-Music Relations. Morei na Irlanda por 2 anos, onde aprendi a conviver e respeitar ainda mais outras culturas. Já tiquei 28 países do globo, mas ainda sonho em ser nômade. Apelidado carinhosamente pelos amigos de "Fritolfo": quando o beat começa a tocar, eu não consigo parar de dançar.