Entrevistas

Day Out Of Time comenta como suas experiências mundo afora beneficiaram a vida artística

Com uma história de vida que abarca multiculturas e vivências diversas pelo globo, em uma busca artística, Alexandre Cesar Chaves , trouxe ao mundo um projeto musical de live act que baliza o instrumental, orgânico e natural, com as linhas sintetizadas criadas pelos recursos eletrônicos.

Sua identidade sonora vibra essencialmente nas características da cultura brasileira, especialmente de camadas étnicas e ritualísticas. Day Out Of Time entrega um blend musical original e criativo que percorre as linhas do Organic House, Progressive House, Deep House, Deep Tech e Downtempo, tudo adornado com elementos, samples e melodias que nos transportam para um cenário pintado pela mãe natureza e pelos povos ancestrais.

Ainda que seja nascido na França e tenha vivido em diversos locais entre Europa, Ásia e América do Norte, foi aqui, em solo brasileiro, que ele sentiu maior inspiração para criar algo próprio para expressar, verdadeiramente, sua versão enquanto arte. O artista já trabalhou com bandas, composições, produções e trabalhos como Sound Designer de clipes de artistas como Gilsons e Fran, mas desde 2020, decidiu mergulhar de cabeça em seu projeto de live act e produções autorais.

Pois bem, com uma história tão interessante, convidamos ele hoje para um bate-papo sobre como tudo aconteceu até aqui e sobre seus projetos.

Olá Alexandre, tudo bem? Muito legal poder conversar com você. De antemão já li sobre sua história e gostaria que você contasse um pouco sobre sua história com a música, em geral. Como tudo isso começou para você?

Olá, tudo bem, é um prazer estar aqui conversando com vocês!

Minha história na música começou quando eu tinha 8 anos de idade. Minha mãe comprou uma guitarra para mim com a esperança que eu me acalmasse, já que eu era uma criança muito agitada. Na época eu já sentia uma intimidade com o instrumento, mas não levei muito a sério, talvez por ser tão agitado mesmo, hahaha. Uns anos depois, na adolescência comecei a me interessar mais e acabei mergulhando de cabeça na guitarra, piano, teoria musical e muita pesquisa também. Começando pelos discos de Jazz do meu pai até o mar infinito da internet.

Com um tempo fui me interessando muito por música instrumental, especialmente trilha sonora e foi aí que comecei a sonhar com uma carreira na música para desespero da minha mãe que só queria que eu me acalmasse. Com esse objetivo em mente fui estudar no conservatório Musicians Institute em Los Angeles, CA.

E a música eletrônica? Como você conheceu o estilo e o que te fez ter esse estalo para querer trabalhar com isso e criar um projeto de live act? Quais foram os nomes que te influenciaram nesta fase?

Quando criança eu era fascinado por psytrance, Eric Prydz, deadmau5, summer eletrohits, vídeos de festivais como o Ozora e Universo Paralello além outras faixas de sucesso da época, mas não conhecia o movimento de raves e festivais ainda.

Quando terminei meu curso do MI eu estava perdido em relação a qual caminho seguir na música, já que eu gostava de tocar muito estilos diferentes. Foi quando decidi trabalhar em Festivais de música pela Califórnia sem saber o que me aguardava.

Foi quando reencontrei a música eletrônica, mas dessa vez no contexto que faltava, as festas! Foi amor à primeira vista. Fiquei encantado com o som, a estética, a dança, o público e tudo que o festival apresentava. Foi no set do Mano Le Tough no Lightning In a Bottle de 2015 que tive certeza de que gostaria de fazer isso pro resto da minha vida.

Após essa temporada de festivais pude conhecer tantos artistas talentosos e originais como Bob Moses, Merkaba, David August, Kiasmos, Hernan Cattaneo, etc. Fui direto para o estúdio produzir esse som. Como eu vinha de bandas, da guitarra e do piano, logo comecei a querer misturar esses mundos que compõem minha história na música e só poderia comportar no formato de Live Act.

Você esteve em diversos locais, bebendo de muitas fontes, mas diz que foi aqui no Brasil, onde viveu boa parte da vida, que você se inspirou de fato. O que da cultura brasileira mais te encanta e como isso se manifesta em sua música?

Apesar de ser apaixonado por música brasileira, especialmente o samba, bossa-nova e choro. É a natureza brasileira que me inspirou musicalmente. As histórias, mitologias e medicinas dos povos originários e sua relação com a floresta, tem grande influência na estética do meu projeto.

Durante sua residência em Berlim, você se conectou muito mais profundamente com seu objetivo de um live act. E convenhamos, a cidade é uma grande fonte de cultura para artistas da música eletrônica. Você chegou a ter alguma experiência, enquanto artista, por lá? Sei que trabalhou bastante como produtor. Como foi?

Sem dúvidas a exposição que eu tive a tantos artistas incríveis e os clubes de Berlim foram fundamentais para moldar meu gosto musical e abrir minha mente em relação ao gênero. Mas curiosamente foi fora de Berlim onde eu me encontrei com minha turma. Foi nos festivais que trabalhei no verão que conheci o house progressivo e o público que mais tinha a ver comigo. Além de conhecer tantas pessoas incríveis, tive o prazer de tocar em alguns festivais como o Waldfrieden Wonderland, Hainacht e Ebbe & Flute.

Por falar nisso, o que te motivou a buscar o formato de live act e por que? E quais são os instrumentos e equipamentos que você utiliza?

Acho que o Live-Act era um caminho natural para mim desde o início da minha jornada na música eletrônica. Eu sempre fiquei fascinado pela adrenalina de se tocar um instrumento ao vivo num show. Sempre valorizei muito o improviso desde meus tempos de guitarrista de blues e jazz até as incontáveis jam sessions que fiz com os músicos que conheci. Quando comecei a tocar como DJ sentia que faltava algo que me estimulava no palco, era legal, mas me faltava a possibilidade do acidente, do erro e da criação espontânea.

Quando montei meu primeiro show eu encontrei uma possibilidade infinita de performance que me surpreendeu muito positivamente. Tanto em arranjo, improviso e releitura das minhas próprias músicas, já que meus shows são e serão sempre diferentes uns dos outros.

Meu setup muda em quase todas as performances que fiz, mas atualmente eu uso uma placa da focusrite (Scarlett 18i8) receber e enviar todos os sinais para as caixas, o ableton live no macbook, o push2 para controlá-lo e disparar as cenas, uma outra controladora da novation (Launch Control XL) para mixar, soltar efeitos e arranjar as músicas na hora, O Nord Lead 2X é usado exclusivamente para improvisar novas melodias, texturas e efeitos na hora, para completar eu levo minha guitarra para tocar ao vivo as partes das músicas que foram gravadas em estúdio com ela.

Bom, é indiscutível que tantas vivências assim contribuíram muito para sua formação artística. Você sente que agora, com mais maturidade e considerando os acontecimentos globais, firmou sua base no Brasil? Que projetos você tem desenvolvido por aqui, desde que chegou?

Sem dúvidas é muito bom retornar a minha casa. Acho que ainda tenho um longo caminho para me consolidar no Brasil e construir uma carreira aqui. Estou muito motivado para essa jornada. Desde que cheguei pude produzir muitas músicas novas e pretendo lançá-las em selos nacionais. Comecei a minha festa chamada Rito com dois DJs e produtores culturais que sempre admirei muito, o Dé Buffara e o Alexiz BcX. Nossa festa está nas suas primeiras edições, mas estou surpreso com a velocidade que tem crescido e o engajamento do público.

Sei que é muito difícil se definir e que nem precisa, mas para as pessoas que estão te conhecendo: o que elas vão encontrar quando ouvirem sua música e assistirem à sua apresentação?

Eu vejo meu som como uma trilha sonora de uma floresta psicodélica. Busco contar uma história de forma progressiva com elementos lisérgicos. Gosto de contrastar percussões étnicas e tribais com muitas melodias e harmonias. É um show de muita intensidade sem dúvidas.

E sobre os planos atuais e futuros, como isso tem se desenrolado? Quais são as novidades? Obrigada!

Meus planos no momento são de criar muitas faixas novas, lançá-las em selos nacionais, me conectar com os artistas locais e assim achar meu espaço nessa cena tão rica. Estou muito feliz com tudo que já alcancei desde que cheguei e todos que conheci até então. Tenho alguns remixes e EPs encaminhados para lançamento esse ano ainda e muito mais que ainda está por vir! Muito obrigado pelo convite.

Imagem de capa: divulgação