Entrevistas

Um bate-papo sobre infância, carreira e produção com Seed Selector

Conciliar a carreira artística com outras responsabilidades é um desafio comum na vida de muitos DJs/produtores como é para Bruno Henriques de Carvalho, ou melhor, Seed Selector. Ele é uma das novas caras do cenário, mas talvez você o reconheça rapidamente pelo bigode bem característico que cultiva e faz parte da sua identidade visual, digamos assim.

A experiência como DJ vem desde 2015, como produtor desde 2017, mas Seed Selector, seu atual projeto, é bem mais recente, de 2019. O ambiente musical familiar — principalmente oriundo da mãe que ouvia muita MPB — foi um dos responsáveis por guiá-lo à carreira sonora. Além disso, na infância, frequentou uma escola alemã de pedagogia construtivista onde teve contato com diversas matérias ligadas à arte, como teatro, música, marcenaria, coral, jardinagem… essa experiência foi fundamental para despertar nele um olhar criativo.

Seed Selector também alcançou uma conquista bastante significativa recentemente sendo um dos mais de 20 artistas que marcaram presença no VA Solitude, promovido pela label do Warung, a Warung Recordings. Tudo isso e um pouco mais você confere na entrevista abaixo:

Foi de forma despretensiosa, com 16 anos comecei a me aventurar por festas, clubs e festivais e fui me envolvendo cada vez mais. Meus primeiros contatos com controladoras aconteceram na casa de amigos, em festas ou sociais. Sempre gostei muito de tocar, mas não tinha intenção de levar como carreira, já em 2017 resolvi me aventurar no mundo da produção musical, um caminho sem volta . Após um ano já estava começando a planejar meu projeto e decidido do que queria fazer.

A maior parte da minha infância frequentei o colégio Waldorf São Paulo, definitivamente foi um dos fatores primordiais na formação de quem eu sou hoje. Tive contatos e aprendizados nem um pouco tradicionais que me abriram muitos horizontes, mesmo tendo algumas atividades que na época não me agradavam muito, como aula de dança, mas hoje sei que tudo fez parte de um processo e eu, que já não era muito quadradão antes, sei que hoje em dia sou menos ainda, percebo a beleza de ser o que se é, principalmente em um mundo onde todo mundo quer ser alguém.

Comecei na Moving como embaixador e após alguns meses trabalhei como promoter, foi um experiência riquíssima e extremamente satisfatória, a equipe de lá incrível e o lugar nem se fala, só quem foi sabe como é. Durante esse período frequentando o club toda quinta-feira, presenciei diversos artistas de diferentes estilos de som, conheci muita música boa e bastante gente, sempre buscava fazer um network, o que nem sempre dava muito certo, pois na época, não sabia muito bem como conversar com um artista que eu tinha como referência e muitas vezes a conversa não passava de um “oi, gostei muito do seu set”. No meio de 2019 me desliguei da festa para realizar o lançamento do meu projeto.

Eu enxergo o MPB, assim como muitas outras obras nacionais, algo extremamente precioso, mas também muitas vezes mal valorizado pelos brasileiros. Acho a língua portuguesa é belíssima e sou apaixonado pelos ritmos, cheios de energia e história, influenciados por culturas afro e indígenas.

Essa oportunidade veio junto a pandemia… com o cancelamento de todos os eventos, o L_cio se disponibilizou para trabalhar com artistas menores como mentoria no processo de pós-produção, na segunda faixa que fomos trabalhar, ele acabou se interessando mais por ela, fez algumas modificações a mais e a versão dele me agradou bastante e resolvemos continuar trabalhando nela como collab. Essa música será lançada em breve em um EP com mais duas bombas.

Com a internet, hoje em dia é muito fácil aprender muita coisa, e isso é algo bom, eu mesmo tive a maior parte dos meus aprendizados vindo dela, porém também é cheio de formulinhas. Fazer algo novo ou diferente é algo simples quando você não procura fazer igual ao que já foi feito. Parece óbvio, mas é muito mais difícil de se sentir aceito ou aprovado pelas outras pessoas. Acho válido sempre buscar misturar ideias, referências, principalmente se não forem apenas eletrônicas, e produzir sentindo o que fica melhor pra você sem querer se encaixar padrões.