Entrevistado #12: com identidade marcante, Cavallieri conta como seu sonho vem se tornando realidade
Apaixonado por música eletrônica desde os 6 anos por influência do tio, Cavallieri vem se destacando na cena nacional após o lançamento da track “Shake My Boo” ao lado do duo Almanac e responsável pela track mais vendida do V.A em que saiu, atingindo o top 8º no top 100 de Bass House e top 52º no top 100 de Tech House no Beatport. À nosso convite, o DJ e Produtor conversou com detalhes sobre sua carreira e você confere agora:
Play BPM: Fala Cavallieri! Tudo certo por aí? Obrigada por ter aceito nosso convite em participar do quadro ENTREVISTADO. Vamos lá: Qual seu nome completo, cidade natal e há quantos anos você é DJ e Produtor?
Cavallieri: O prazer é todo meu! Muito obrigado pelo convite! Feliz demais de estar sendo entrevistado por vocês. Bom! Meu nome é Iago Rosa, sou de Sorocaba-SP, aprendi a tocar com 6 anos mas comecei a tocar na minha cidade aos 20 e produzir faz 5 anos.
Já que citamos sua cidade natal, você consegue nos dizer os prós e os contras em morar no interior da maior capital do país?
Cavallieri:É uma cidade que tem bastante clubs mas as oportunidades são poucas para quem toca música eletrônica justamente porque de uns tempos pra cá foram tirando esse estilo dos clubs/eventos. Hoje em dia um ou outro faz, porém, não são todos os meses e isso acaba diminuindo muito as oportunidades dificultando a apresentação do meu trabalho. Eu mesmo tive poucas oportunidades na música eletrônica e tocava mais Black Music pois as festas estavam abrindo mais espaço para esse tipo de som, então, eu mostrava mais meu lado B ao invés do principal. Atualmente alguns amigos estão fazendo um trabalho massa e contribuindo com várias oportunidades nas festas deles, com isso, acabei indo em algumas e vi muita gente nova tocando… Acredito que a tendência seja melhorar!
Falando em primórdios, quem era Cavallieri aos 13 anos de idade?
Cavallieri: Nessa época já ia muito em matinês e ficava quase o tempo todo olhando para o palco querendo estar tocando mas tive que ter um pouco de paciência até chegar a minha vez.
É mais do que evidente que seus dreads e personalidade forte chamam atenção em cada canto que você passa. Além de ser sinônimo de ouro estilo, você carrega algum significado maior por trás deles?
Cavallieri: Desde criança eu era pirado em tranças/dreads, cortes com desenhos mas nunca fazia pois durante muito tempo quis me esconder dentro dos padrões da sociedade (já até alisei o cabelo, por muito tempo inclusive) e isso fazia com que não me sentisse tão bem comigo mesmo a ponto de não me aceitar. Até que um dia voltei a ser careca e comecei a fazer os risquinhos mas ainda sentia que faltava algo. Sempre gostei de ser diferente e precisava de algo que fizesse com que eu me encontrasse comigo mesmo, ficasse satisfeito e valorizasse mais as culturas da minha cor a qual tenho muito orgulho. Logo após deixei o cabelo crescer, deixei ele black power por um tempo e fui tomando coragem para fazer os dreads. Enrolei um pouco pois era uma mudança radical pra mim que sempre usei boné, mas depois que fiz me senti realizado, extremamente feliz e diferente! Falei: “cara, é pra sempre, eu sou isso!”. Foi uma forma de me conectar comigo mesmo e me libertar.
Sabemos que em suas redes sociais você usa muito a expressão “niggabass”. Como, quando e por que surgiu essa marcante expressão em seu projeto?
Cavallieri: A expressão surgiu em 2017 em uma conversa entre eu, Breaking Beattz e Mochakk em um club que o duo veio tocar em Sorocaba. Eles estavam explicando o significado da tag deles “#bassdevagabundo” e nisso perguntaram para mim e para o Mochakk se tínhamos alguma tag. Mochakk falou a dele, explicou o significado e nisso rapidamente deu um estalo na minha mente, raciocinei rápido e falei: “a minha é niggabass”. O Rafael disse que tinha chances de pegar pois era forte e perguntou o significado, aí falei: “Nigga vem do hip hop/trap americano pois eles falam muito isso nas músicas e eu também toco Black Music. Algumas tracks que eu faço tem alguns elementos de trap, chamo meus amigos mais próximos e Bass vem da música eletrônica mesmo”. Nisso surgiu a tag. Quando fui ver tinha uma galera me chamando assim e de fato pegou.
Estamos vivendo uma fase em que as manifestações contra ações racistas ganham força mundialmente dia após dia em todas as áreas, principalmente, na música. Como negro, qual sua opinião sobre essas manifestações?
Cavallieri: No dia em que rolou o #blackouttuesday fiquei muito emocionado pois nunca tinha visto algo do tipo… O mundo todo parando e se juntando a nossa luta, me senti literalmente abraçado. Nossa luta começou muito antes daquele dia e vai muito além dessa hashtag também. Isso foi um passo muito importante e espero que muita gente que postou realmente esteja ciente da importância dessa luta contra o racismo e que não tenha postado só por que todos estavam postando. Acredito que todas as manifestações contra o racismo são válidas, principalmente se forem pacíficas. Não somos a favor de que tudo seja resolvido com violência justamente porque muito dos nossos morrem por conta dela e nossos ancestrais carregaram por anos muita dor. Dor a ponto de preferir a morte do que continuar sendo escravizado. Chegou a hora de não nos calarmos e nem nos reprimirmos mais. Estamos lutando pra que no futuro ninguém tenha que sofrer mais por conta disso! Eu nunca sofri racismo mas infelizmente estou sujeito a isso e sei que muita gente passa por isso todos os dias… Não é por que comigo nunca aconteceu que um dia não pode acontecer e que com o próximo não acontece. Pode acontecer com qualquer um!
O racismo existe sim, tem gente que acha que é exagero, vitimismo, coisa de televisão mas não é. Não é por que você nunca viveu na pele que você tem que diminuir a dor do próximo e dizer “isso é bobagem”. Você nunca sentiu na pele, você não sabe o que a pessoa sente, procure ajudar ao invés de “achar” algo ou criticar. Vai ter gente que vai concordar com tudo que eu disse e gente que irá discordar, mas se eu apenas conseguir mudar a cabeça de uma pessoa que seja, já ficarei muito feliz.
Recentemente você foi convidado para fazer parte da curadoria de um V.A só com artistas negros no selo Problema é Grave. O que esse marco representa para você e para todos os artistas negros da cena eletrônica?
Cavallieri: Fiquei honrado demais por terem me escolhido como curador e também pelas palavras ditas na hora do convite. Isso representa muita coisa pra gente… Nos sentimos muito valorizados. Em breve será lançado e tem muita gente envolvida nesse trabalho. Será incrível!
1 destino dos sonhos: Londres1 arrependimento de vida: Acredito que nenhum. Tudo foi como tinha que ser para eu estar aqui hoje. Então é isso, só vamos (risos).1 momento inesquecível em sua carreira: Convite da Jana pra fazer parte do casting.1 música que te inspira: Rüfüs Du Sol – Eyes1 DJ: Marky1 pessoa: Minha Mãe1 collab: Illusionize1 bebida: Gin Tropical1 club/festa inesquecível: Kaballah no Hopi Hari em 2018
Sabemos da imensa admiração que você tem pelo mestre Illusionize desde suas primeiras produções (6 anos atrás) até os dias de hoje, se tornando uma das referências musicais mais importantes para você. Qual a razão para tamanha admiração? Fora ele, qual artista também tem seu respeito musicalmente falando?
Cavallieri: O que me marcou muito (fora o som dele) foi a forma como ele tratou todos que estavam ali para tirar uma foto com ele em um evento que fui em São Paulo em 2017. Eu não consegui falar nada na hora, estava meio em choque (risos) e a humildade dele, o carinho com a galera, eu fiquei literalmente de cara. Eu tinha a imagem de que os artistas grandes eram meio “malas” por conta das coisas que eu sempre ouvia e a forma dele tratar a galera me impressionou muito e fez com que minha admiração por ele só crescesse. Outros que admiro e respeito muito são meus amigos… Falar um nome só é impossível, e se eu falar todos vai dar uma lista enorme (risos). Mas é toda a galera da nova geração, todos com uma sonzeira e sangue bom!
SHAKE MY BOO! Acompanhamos toda a trajetória até o lançamento final da track pela Hub Records em collab com o duo Almanac e podemos afirmar: que lançamento! Você esperava a repercussão que ela tem hoje tendo suporte de grandes nomes dos quais você admira e sendo trilha sonora em inúmeros lugares?
Cavallieri: Eu não fazia ideia de que ela seria tão bem aceita até que me deparei com grandes nomes tocando e fiquei mais do que surpreso. Muita gente começou a me pedir e não tive reação. Óbvio que achei que ela iria se sair bem e que uma galerinha ia curtir, mas não imaginei que seria tão grande! Amo essa track demais e não deixarei ela morrer nunca.
Já que estamos falando sobre lançamentos, você pode nos adiantar se o próximo será uma collab ou você pretende trabalhar sozinho? Se sim, pode citar alguns nomes dos quais você está trabalhando?Acabou de sair uma solo pela grande Ciclo Records e tem mais algumas solos assinadas por outras grandes labels para esse ano. Em breve sai minha collab com meu menino RAIID pela Elevation, gravadora do Illusionize. É uma track que vem sendo muito bem aceita desde que postei o preview dela no meu instagram, vídeo do Pedrinho tocando ela em live, ela no meu set autoral, etc. Estou ansioso pelo lançamento! Essa track é especial demais e das novas é a minha preferida. Pra quem me acompanha no Twitter e no Instagram já sabe que andei trabalhando com meu irmão Mochakk. Tenho collab com outros grandes produtores também mas não podemos revelar por enquanto, porém, está vindo muita coisa boa por aí!
Sabemos que você vem conquistando seu espaço na cena dia após dia num trabalho árduo e admirável, para realmente finalizarmos esse incrível bate papo você teria alguma mensagem para passar a quem sonha em seguir carreira na música?
Cavallieri: Acredite no seus sonhos e nunca desista. Parece clichê mas é verdadeiro! Realmente é difícil mas se fosse fácil todo mundo faria, né?
Pessoas não escolhem sonhos, sonhos escolhem pessoas e o seu te escolheu. Vá atrás dele com todas as suas forças e todo seu amor. Vai dar certo! Todos que conseguiram, acreditaram. Fé!