Entrevistas

ENTREVISTADO #2: DJ Glen abre o coração em entrevista emocionalmente detalhada sobre sua vida e carreira

Responsável por representar o Brasil por dois anos consecutivos, sendo o último com direito a sold out em pleno Caribe, Glen Faedo desenvolveu suas habilidades voltadas à discotecagem e à produção musical no intuito de se tornar um artista mais dinâmico e completo, ultrapassando cada dia mais os seus limites em busca de uma constante evolução musical e pessoal.

À nosso convite, Glen conversou conosco um pouco mais sobre sua vida profissional (com importantes detalhes) e pessoal em um bate papo exclusivo e muuuito bacana. Confira:

PLAY BPM: Olá Glen! Tudo bem? Muito obrigada por ter aceito nosso convite de participar do ENTREVISTADO! Vamos lá, começando realmente do início, conte-nos qual seu nome completo, idade, cidade natal e há quantos anos você é DJ e produtor?

GLEN: Olá, o prazer é meu! Meu nome é Glen mesmo, porém, há alguns anos atrás cheguei a usar meu sobrenome Faedo como nome artístico também, mas no fim acho que DJ Glen é mais direto ao ponto, (risos). Tive o privilégio de nascer no ano do lançamento do álbum do Kraftwerk que mais me influenciou, o Electric Cafe, que até hoje guardo o vinil original em minha coleção. A cidade que nasci tem o nome de outro álbum que foi a trilha sonora da minha adolescência, o “Americana” do Offspring.

PLAY BPM: Já que você falou em Americana, sabemos que você tem um carinho mais que que especial pela sua cidade natal, ainda mais por estar “fixo” aí logo após seu período no Rio de Janeiro. Tendo isso como base, você consegue nos dizer os prós e contras em morar no interior e em morar na grande “cidade maravilhosa”?

GLEN: Americana sendo a cidade que nasci e cresci naturalmente não era valorizada por mim até eu me mudar para o Rio de Janeiro. Morando em uma metrópole pude vivenciar todos os seus problemas e como essas estruturas estão obsoletas. Apesar de amar de verdade aquele lugar, quando surgiu a vontade de criar uma família optei pelo interior de São Paulo para viver e logo entendi o porquê da fama de qualidade de vida das cidades menores. É bom estar fixo estando próximo aos 3 melhores aeroportos do país, significa muito mais flexibilidade na fixação, risos. Eu poderia ficar o dia todo falando sobre o Rio, afinal até hoje não conheci nenhuma cidade tão encantadora em todas as minhas voltinhas pelo mundo, seus contras também, mas vou simplificar com uma definição pessoal: Lá é o centro do Brasil e o equilíbrio perfeito entre extremos de qualquer natureza. A vida é mais viva lá.

PLAY BPM: Voltando um pouquinho à sua infância, quem era e o que fazia o pequeno Glen aos 10 anos de idade?

GLEN: Olha… com 10 anos eu era um garoto equilibrado, adorava videogames e computadores, mas também dividia o tempo em andar de bicicleta e até competia BMX a nível nacional, mas sem disciplina para ser um campeão, (risos). Com 10 anos também era responsável por uma parte do repertório musical do meu irmão mais velho (que era DJ na época) e pedia para eu ficar ouvindo rádio o dia todo e gravar quando eles tocavam as novidades. Estranho? Talvez… mas era assim, em terra sem internet um radialista tinha todas as bombas.

PLAY BPM: Já que estamos falando de você, estamos curiosos para saber: há quantos anos você tem seus dreads? O que eles representam para você?

GLEN: Os dreads vem de loooonga data, 2005 pra ser mais exato. Decidi fazê-los inspirados no meu vocalista favorito, Zack de Larocha, do RATM. Foi uma época de grande mudança, fazendo com que realmente simbolizassem a fase em que a cena raver me abraçou e fez com que eu me sentisse um artista pela primeira vez na vida.

PLAY BPM: Uma pergunta difícil para uns, fácil para outros: qual a pessoa que mais te inspira na vida? Por quê?

GLEN: Eu realmente descuro uma pessoa nova que me inspira todos os dias, mas é na família que temos os grandes exemplos, tanto positivos como negativos.

PLAY BPM: Você é de uma época onde a discotecagem em vinil era algo simbólico e muito natural na cena musical. Atualmente, com a modernidade da indústria voltada aos discos, como você tem se posicionado sobre o assunto?

GLEN: Quando comecei a tocar o vinil já não era mais o principal formato de mídia (tanto que aprendi a mixar no CD Player Denon), mas pela precariedade tecnológica e baixo desenvolvimento, o vinil ainda era o protagonista com os melhores DJs e festas, o que me fez ter esse foco e só abrir mão dele há uns 4 anos quando conheci o CDJ 2000 Nexus (aí ficou ruim pro vinil). Ainda sou colecionador e continuo comprando, mas apenas toco eles em gigs muito especiais. A respeito da indústria de vinil nos dias atuais, ela vem crescendo e isso acaba sendo ruim para os DJs que usam esse formato. As pessoas que estão se interessando pelo vinil não são DJs, o que faz a indústria (que não evoluiu nem cresceu com o tempo) dar prioridade à prensagem de vinis mais comerciais, encarecendo o custo dos singles underground pela lei da oferta e da procura. O rumble também é um “pé no saco” com os ultrasoundsystems modernos. Já não faz mais sentido usar vinil por sua melhor qualidade sendo que muitas vezes tem que controlar o volume do retorno ou do sub da pista pra conseguir tocar.

PLAY BPM: Falando ainda sobre vinil, sabemos que você é apaixonado por essa cultura desde muito jovem, quais foram as suas compras preferidas nesse formato?

GLEN: É muito difícil e complexo falar sobre minha coleção de vinis, favoritos e etc… Creio que até beira o impossível. Digamos que minha última compra teve 5 discos iguais, pois eu o considero o mais importante de todos, se chama “Another Planet”, e que por sinal é a track que mais me orgulho de ter produzido até hoje.

PLAY BPM: Vimos que um de seus lançamentos mais recentes foram collabs ou remixes com artistas nacionais e internacionais bastante relevantes da cena. Como é para você produzir ao lado de mais alguém?

GLEN: Eu gosto muito de produzir com alguém dentro do estúdio, principalmente depois de alguns dias com a pessoa, assim conversamos muito sobre música e temos insights naturais antes de ir pra uma sala fechada fazer beats. Quando isso não é possível eu normalmente estudo o artista da collab, penso na ideia toda da track e mando o projeto meio que “rezando” para que não mude muito ou as vezes nada.

PLAY BPM: Antony Rother, DJ Hell, Kolombo, Mason e Sharam Jey estão na lista de artistas que você já remixou. Como é pra você trabalhar nessa posição? O que uma faixa precisa ter para possibilitar um bom remix?

GLEN: Para remixar uma track é muito importante que ela tenha uma ampla gama de elementos modificáveis como: vocais, leads, riffs pegajosos, pads e por aí vai. Quando um cara manda um som para remixar com seis canais, com os hihats e coisas inúteis nos stems, eu simplesmente pego um shot de qualquer coisa e faço uma track nova, só pra dizer que usei algo.

PLAY BPM: Aproveitando que estamos sobre tracks, sabemos que você tem uma consideração especial pela Dirtybird, gravadora na qual lançou em Abril o tão esperado EP “Another Planet” e, em Março, se apresentou no evento Dirtybird Players em Miami, ao lado de Bruno Furlan. Pessoalmente, quão importante é para você lançar por essa gravadora e participar de grandes eventos como esse?

GLEN: A Dirtybird foi a primeira gravadora que me mostrou que o “underground” pode ser divertido, criativo e desprendido de qualquer outro rótulo. Quando fui convidado ano passado pra tocar no festival Campout pude ver de perto toda a família unida e me senti um membro dela, foi ótimo! Já em Miami esse ano foi tudo isso multiplicado e, o Campout da California em Outubro me parece que vai ser mais ainda, empurrado pelo sucesso que está sendo a “Another Planet”. O sonho de fazer parte de um grande label internacional, tocar em mega festivais e ainda por cima sendo totalmente honesto com minha própria personalidade e skills… é bem isso… um sonho que se realizou! Agora, o desafio é continuar.

PLAY BPM: Que o futuro sempre reserva grandes surpresas para você, nunca tivemos dúvidas. Agora, diz pra gente qual foi a sensação em tocar/comandar pelo 2º ano consecutivo a Discotech Boat Party em meio às águas serenas das belíssimas Ilhas Cayman, no Caribe?

GLEN: Estou atualmente com 33 anos na estrada, tempo suficiente para testemunhar amigos se dando muito bem e, ir para o Caribe justamente para fazer uma festa com um dos meus primeiros sócios em eventos em Americana… é algo simbólico pra mim, é um dos raros momentos em que paro tudo, tomo umas e olho pra todo caminho que percorremos, cada um com sua grandiosidade, chamamos todo mundo que a gente conhece, alugamos o maior barco das Ilhas Cayman e no segundo ano a festa é sold out pois no primeiro ela foi apenas a amostra grátis do que fazemos. Essa história do Caribe de fato começou em 2013 na minha primeira tour na Europa e, a última parada, por enquanto, foi em Miami este ano, na Space, onde choramos horrores de alegria. Amizades verdadeiras são raras e às vezes temos que pegar uns vôos internacionais para cultivá-las.

PLAY BPM: Como na política, temos duas frentes da música eletrônica: A cena underground e mainstream, portanto, como você enxerga o futuro da música eletrônica no Brasil para o final de 2019 e começo de 2020, levando em consideração nosso atual cenário?

GLEN: Eu, de verdade, não acredito em duas frentes pra nada. Esse pensamento simplista de bem contra o mal é algo muito simplificado, talvez para as pessoas relacionarem a vida com torcidas de futebol, criar farsas imensas tanto na política, quanto na música, quanto na vida. Pode ser que este pensamento tenha tido origem na religião, não sei. Eu realmente acredito em que cada pessoa ou grupo tem seus próprios interesses e verdades, não existe mercado comercial ou underground, é tudo relativo e talvez o comercial seja apenas o grupo que ganha mais dinheiro e chama atenção por isso, tornando todo mundo que ganha menos ou tem menos marketing em underground ou de esquerda. De acordo com meu pensamento, o futuro é cada vez mais grupos com mais consumidores e um mundo inteiro consumindo música de maneira contemporânea “eletrônica”, que nada mais é que ser organizada em um computador, mas no fundo saiu das próprias pessoas, mesmo que seja uma pessoa que criou um aplicativo que faz as músicas sozinho.

PLAY BPM: Na pista e no estúdio, como você avalia as transformações da sua carreira em 2019?

GLEN: Minha evolução pessoal na carreira está no meu foco. Com a paternidade e agora meu segundo filho por vir, comecei a levar mais a sério tudo, como um trabalho mesmo, algo que até então era meio livre pra mim.

1 destino dos sonhos: Cruzar o meridiano de Greenwich e explorar o Oriente. 1 momento inesquecível em sua carreira: Tocar na Space em Miami e ver minhas referências na pista pra me ouvir. 1 música para ouvir o resto da vida: Pink Floyd – The Wall; a favorita de meu filho Ben quando recém-nascido… Ele sempre parava de chorar quando tocava ela (tenha certeza eu testei várias). 1 bebida: Espresso-Martini: o drink ideal pra qualquer festa (não tomar mais de 5), (risos). DJ: Nana Torres

PLAY BPM: Você acabou de citar a Nana na hora certa! Queremos saber, como é pra você trabalhar ao lado de alguém que além de ser DJ e Produtora, também é responsável por ser sua esposa e mãe de seus dois filhos, Ben e Nico? Você esperava que essa união fosse dar certo desde o início ou teve algum empecilho ao longo do caminho?

GLEN: Ser casado com uma parceira como a Nana é quase como ter corrido o mundo todo e achado algo extremamente raro e maravilhoso, é poder ser quem eu sou e querer sempre melhorar e vice versa. É fazer planos, viver o momento e ser grato pelo que já vivemos. Quando penso em passar adiante tudo que sabemos para nossos filhos e dar continuidade à nossa história, automaticamente um sorriso vem no meu rosto e o peito se enche de algo inexplicável, nem com música consegui explicar ainda, espero um dia conseguir… O início da nossa relação foi lindo apesar de trágico… Éramos amigos e ambos comprometidos. Eu não sabia porquê mas sempre queria estar perto dela até que um dia aconteceu uma faísca e foi como uma avalanche. Ficamos meses sem nos falar até que não aguentei! Abandonei tudo, fui para o Rio de Janeiro e pedi ela em casamento na lata. Depois de uma noite maravilhosa e meses sem nos falar, concluí que era a mulher da minha vida e fui buscar o que era meu, ponto! Desde então não ficamos um dia sem nos falar, ou 3 dias sem estar juntos, o dia todo, há 7 anos.

PLAY BPM: Nós amamos tanto essa declaração em público que agora queremos saber: qual o momento mais marcante que vocês passaram juntos?

GLEN: Um dia de grande emoção foi o nascimento do Ben, nosso primeiro filho. Decidimos fazer o parto na casa que construímos justamente para ser a base da família… Vish! Foi choradeira extrema depois de 6 horas de um parto insano. Aconselho todo mundo que conheço a ter esta experiência… Eu mesmo cortei o cordão umbilical do guri (claro que acompanhado das parteiras ultra experts e muita informação). Viva o Google!

PLAY BPM: Ao decorrer da entrevista é nítido a sua devoção e amor pelos seus filhos. Quem era o Glen antes de se tornar pai e o que você se tornou após?

GLEN: A paternidade vem com uma sensação de tranquilidade. Tenho sempre a impressão de que estou fazendo o que é certo com a vida. Ser o espelho pra alguém dentro de casa é algo que me faz querer ser uma pessoa melhor todos os dias, logo a evolução é inevitável, me sinto exatamente dessa forma.

PLAY BPM: Consegue nos dizer uma lição que você aprendeu com a Nana e seus filhos?

GLEN: Uma lição por dia eu diria, mas a maior é que um homem não precisa ser o melhor do mundo, basta ser melhor que o próprio pai e meus filhos serem melhores que o pai deles, como ser humano, tenho certeza que serão.

PLAY BPM: Estamos chegando próximos do fim da entrevista, por isso, voltando à música novamente, no geral, o que ela representa em sua vida?

GLEN: Música para mim é comunicação, é universal. A compreensão atinge outros lados que não necessariamente palavras ou imagens atingem e a gente aprende muito com isso.

PLAY BPM: A pergunta que não pode faltar e que nós adoramos! Quais são as novidades, e estamos falando principalmente das exclusivas, que você pode nos dar?

GLEN: Novidades para os próximos meses são muitas tracks (obviamente), as portas que o EP “Another Planet” abriram são gigantescas e espero muito aproveita-las no tempo certo. Algumas já dei o spoiler no meu Instagram, mas outras como um release num label totalmente diferente do que jamais lancei, o que não tem nada haver com a DB, com uma track chamada “The First Time” e uma collab que não é a primeira, fica aí no ar como promessa para o verão brasileiro… bom, é o que estão dizendo, não eu, (risos).

PLAY BPM: Para realmente finalizarmos esse incrível bate papo que tivemos: muitos jovens artistas sonham com uma carreira estabilizada na música. O que você pode compartilhar de experiência para essa galera? Você teria alguma mensagem em especial?

GLEN: Dica: vida estabilizada é meio que mito nos dias atuais… e talvez sempre tenha sido. Acho que as pessoas tem que se virar com o que têm e acrescentar algo novo na sociedade, desta forma sempre terá recompensas e poderá viver da música. Como sempre vivi da música não sei como são as outras áreas, mas digo uma coisa, se prepara que a concorrência é enorme. Pra criar uma carreira leva muito tempo.