ENTREVISTADO #3: Com 18 anos de carreira, Pirate Snake fala sobre sua vida e a “troca de pele” em nova fase profissional
Nascido no interior de Goiás e criado em Niterói, além de carregar a responsabilidade de ser um dos fundadores do grande festival Federal Music, Raul Mendes, nome por trás do projeto Pirate Snake, tem o perfil característico de quem corre atrás e faz acontecer.Para entender melhor suas motivações e planos para o futuro, batemos um papo com o artista e empresário sobre a cena atual, sua carreira, o novo projeto e outras curiosidades em uma entrevista exclusiva que você confere abaixo:
Play BPM: Olá Pirate Snake! Como vai? Obrigada por ter aceito nosso convite de participar do quadro ENTREVISTADO! É uma honra ter você aqui conosco! Vamos lá, começando realmente dos primórdios, qual seu nome completo, idade, cidade natal e há quantos anos você é DJ e Produtor?
Pirate Snake: Raul Mendes Jorge Neto, 35 anos, nascido na cidade de Catalão (GO), mas só fiquei 2 meses, partindo então para Niterói no Rio de Janeiro, e desde 1998 em Brasília (DF). Comecei a tocar em 2001 e a produzir em 2005 quando me juntei a um projeto de um amigo de psytrance.
Play BPM: Você lembra quais músicas escutava aos 10 anos de idade?
Pirate Snake: Lembro demais. Ano de 1994, Brasil era teeeeeeeeetra campeão mundial de Futebol. Lembro de cada jogo e dos detalhes. Não vou lembrar das músicas que embalavam Raulzinho gordinho?! US3 – Cantaloop, DJ Bobo – Let The Dream Come True, Afrika Bambaataa & Khayan – Feel The Vibe, Ice MC – Think About The Way.
Play BPM: Qual a melhor e a pior lembrança que você tem da sua infância? Por quê?
Pirate Snake: A pior sem dúvidas foi a perda do meu pai aos 5 anos de idade. Uma situação muito trágica para uma criança perder um pai ou mãe, né. Mas em contrapartida a melhor também foi ter ganhado um novo pai, que me criou, me educou, e é o meu pai. Pai sem dúvidas é quem cria! Seu Raul, que Deus o tenha, e seu Evandro.
Play BPM: Vimos que você começou a treinar em uma CDJ 100 de um amigo nos anos 2000 e desde então nunca mais parou. Como é para você ter tocado em um equipamento da época e atualmente estar tocando nos mais diversos aparelhos da atualidade? Você vê uma diferença significante?
Pirate Snake: Diferença não tem como não ver. Na CDJ 100 por exemplo só tem pitch e um jog, sem ajuste. Hoje em dia temos muitos recursos e ajustes possíveis. Eu toco nos equipamentos antigos sem problema algum… Afinal, aprendi neles. Acho mais complicado um garoto de hoje aprender no atual, ficar dependente de certos recursos visuais, e depois pegar uma CDJ100, que era basicamente tudo no ouvido e feeling. Obviamente que todos nós preferimos as atuais que tem muito mais recursos. Eu mesmo utilizo muito os Hot Cues, por exemplo.
Play BPM: Seus primeiros sets aconteceram em uma das festas que você mesmo organizava, passando a se profissionalizar em menos de 1 ano. Como foi essa mudança de chave de algo feito por “diversão” para algo levado a sério? Você penou muito no começo?
Pirate Snake: Comigo aconteceu muito natural porque já era envolvido com umas festinhas… Não posso mentir né. Afinal, conhecimento vale muito. Penei muito foi para crescer, mas para entrar foi fácil. Agora para cresceeeeeeer meu amigo, to até hoje! hehehe
Play BPM: Quando você começou a se interessar por produção musical? Você tem a primeira música produzida para nos mostrar? E o que você estava pensando na época quando a fez?
Pirate Snake: Sempre quis produzir minha própria música, desde o começo… Mas só comecei a mexer diretamente com produção em 2005 quando fui convidado por um amigo a fazer parte do projeto de psytrance dele, o Digital Sequence (inclusive ele foi meu professor). Eu não tive uma primeira música sozinho. Não tive aquela primeira track horrorosa para vocês ouvirem agora e ficarem rindo da minha cara hehehe. Sobre ter a faixa? Juro que não tinha! “Cavuquei” até myspace, mas aos 45 do segundo tempo, consegui com um outro amigo. A track foi uma colaboração do meu projeto com outro chamado Groove Connection. Lembro como se fosse hoje essa primeira track que participei diretamente na produção. Um remix para The Killers – Somebody Told Me, versão psyzera. Não tinha um sentimento especial, só queria fazer uma faixa bem bombástica pra pista da época. Dei a ideia de fazer, fazia os cursos práticos com o brother e já coloquei em prática nessa track junto com eles.
Play BPM: No final de 2007 você acabou migrando para o House/Electro House e já em 2012/2013, no auge do EDM, você voltou a rodar o país com a segunda fase do seu projeto e participou das duas edições do Tomorrowland Brasil e Ultra Rio, além do Federal Music. Quais as lembranças que você tem dessa época? O que mudou de lá pra cá?
Pirate Snake: As melhores lembranças possíveis. Fiz absolutamente tudo o que sempre tive vontade de fazer. Todos festivais, clubs, toquei com todos os grandes big names. Hoje ouço bastante da galera nova que o sonho deles era ter vivido essa época, e trabalharam bastante para estarem hoje onde estão. O que mudou é que hoje eu cansei de muitas coisas, métodos e principalmente pessoas. Conheço a fundo realmente a cena e todo business que tem por trás da cena mais stream. Hoje não tenho mais paciência para isso tudo… Estou mais quieto na minha, procurando outros objetivos.
Play BPM: Se você pudesse voltar ao tempo para dar um único conselho ao Raul Mendes do início da carreira. Que conselho seria?
Pirate Snake: Na real? Mesmo? Ter usado mais a razão e menos o coração. Cancelado certas coisas que sabia que iria dar errado, ter aceito alguns convites… Fiz muita coisa com o coração pela palavra, pensando que as pessoas depois levariam isso tudo em consideração. E no final as pessoas cagaram. Deixei de “mudar de time” em nome da palavra. Contratei alguns artista sem precisar em virtude de um time. No final parceiro… Você é descartável!
Play BPM: Além de DJ e Produtor Musical, você também é Produtor de Eventos. Quando isso começou?
Pirate Snake: Oficialmente eu sempre fui envolvido com essa porra toda desde adolescente. Vendia ingressos para os eventos, depois promovia noites em boatezinha. Comecei a fazer eventos externos menores, fui sócio com percentual pequenininho de festas até legais, mas foi só em 2011 com o primeiro Federal Music que fiz algo realmente grande.
Play BPM: Qual foi a melhor festa, e edição caso haja, e qual a mais desastrosa que você já organizou?
Pirate Snake: Federal Music de Maio de 2014, onde acertamos na veia o lineup, com Martin Garrix, Showtek, Dvvbs, TJR, Alok, Tapesh, Pleasurekraft e muitos outros… Colocamos 25.000 pessoas às margens do Lago Paranoá. E a desastrosa sem dúvida a tour do Steve Angello de 2016 onde todos os produtores do Brasil foram forçados a assinar um rider absurdo, com a promessa que a agência auxiliaria perante ao artista para auxiliar em um contra-rider, e no final, claro, não auxiliou porque “não queria se queimar com o artista, managers e etc”. Tivemos que engolir exigências absurdas para o Brasil, custos estratosféricos. Perdemos quase meio milhão de reais. Belo Horizonte foi a mesma merda! O produtor do Rio foi o único sensato e chutou pro alto a palhaçada imposta. A agência assumiu para não se queimar e se fodeu junto com a gente também.
Play BPM: Você é um dos fundadores do Federal Music, o maior festival do centro-oeste brasileiro e, que este ano, chega ao nono aniversário. Onde, porquê e como esse sonho começou?
Pirate Snake: A gente vinha fazendo um bom trabalho na Moena (principal club da história de Brasília), bombando cada vez mais, trazendo cada vez atrações e representações maiores. Pintou a oportunidade de fazer o Armin Van Buuren em um domingo. O cara vinha pelo quarto ano consecutivo como melhor do mundo e aí pensamos: Porque não criar um produto? Um sócio tinha o nome e sugeriu. Caimos para dentro! O primeiro ano foi até engraçado… Ninguém foi no “Federal Music”, as pessoas só falavam no Armin. E ai? Vamos para o Armin? Graças a Deus colocamos quase 5000 pessoas e entregamos um evento muito bom para a época. Depois disso, foi que foi!
Play BPM: É muito louco olha para trás e ver todo o caminho percorrido. Há 9 anos você tinha apenas um desejo, hoje você tem o maior festival do centro-oeste. Nesse período, qual o maior aprendizado que você tirou?
Pirate Snake: Que a gente faz um negócio que vende ingressos e bebidas. Não adianta fazer as coisas conforme gosto pessoal, que se lasca. Tudo tem que ser feito para o público. Absolutamente tudo! Infelizmente essa é a verdade nua e crua.
Play BPM: O nosso país não passa por um dos melhores momentos econômicos já há algum tempo, e isso acaba afetando vários setores da dance music nacional, entre eles os festivais. Você sentiu alguma diferença no Federal Music devido a esse problema econômico? Como você faz para se destacar?
Pirate Snake: Em 2015 foi muito pior. A gente vinha muito bem, acostumado a pagar as coisas em um determinado valor, dólar mais em conta, as pessoas com dinheiro, gastando bem em ingressos e bares, quando de repente… BOOM! Todo mundo ficou ferrado, a gente pagando dólar e euro caríssimo, recebendo em real, muita gente segurando grana… 2015 foi o caos! Ahhhh, isso tudo aliado a uma mudança de cultura. O brasileiro começando a curtir muito o Br Bass e o que a gente fez? Se adaptou né amigo, (risos)! Não tem pra onde fugir… Lutar contra uma maré enorme e forte dessas, com um “cash flow infinito” do sertanejo e investidores gigantescos do pop botando tudo isso pra frente, não tinha como. Formigas não brigam com botas! (risos)
Play BPM: Já que estamos falando sobre o Federal, em quase 8 anos de festival, qual foi o momento de maior alegria em relação a esse grande evento?
Pirate Snake: Pra mim é chegar nos lugares fora de Brasília e as pessoas conhecerem e falar sobre detalhes do evento. Orgulho de ter participado da criação e estar até hoje em algo sólido e nacional.
Play BPM: Bate Bola Jogo Rápido:
Pirate Snake:1 time de futebol: Botafogo1 destino dos sonhos: Maldivas1 momento inesquecível em sua carreira: O primeiro Tomorrowland no Brasil1 arrependimento de vida: Nenhum1 música para ouvir o resto da vida: Bob Marley- Three Little Birds1 bebida: Heineken1 DJ: Frankie Knucles
Play BPM: Como e quando surgiu a vontade de criar o seu mais novo projeto voltado ao Tech House denominado “Pirate Snake” depois de 18 anos de carreira variando entre o Psytrance e House/Electro House?
Pirate Snake: Flutuei conforme meus gostos e a cena durante esses quase 20 anos de carreira. Conquistei muitas coisas, mas também era confundido como o produtor de eventos que virou DJ e produtor, mas na verdade era o contrário. Como eu já vinha fazendo tech house há alguns meses, meus amigos me deram um toque, porque o nome Raul Mendes era associado à EDM e meu lado empresarial. Então, decidi mudar.
Play BPM:O nome “Pirate Snake” tem algum significado especial? Da onde surgiu a referência para o nome?
Pirate Snake: Depois de uma conversa com meu sócio, que lê sobre energia quântica, espiritismo e outras coisas do gênero, me identifiquei com o arquétipo de serpente, que é um animal símbolo de renovação e regeneração. Então comecei a procurar outras combinações em que eu me identificasse também, o que fez surgir a ideia do pirata, com sua simbologia e revolta com o sistema.
Play BPM: Vimos que seu mais novo projeto já possui mais de 25 faixas prontas. Dentre todas elas, você tem alguma que acaba sendo sua favorita?
Pirate Snake: Uma faixa que fiz com meu parceiro Out_Ctrl e a Thayana Valle chamada Sunshine que ainda não foi lançada. Um tech house meio progressivo com absolutamente tudo 100% original! Desde letras, vocais, arranjos… Tudo!
Play BPM: Já que estamos falando sobre lançamentos, com quais artistas você está trabalhando e qual o seu critério de avaliação para essas escolhas?
Pirate Snake: Eu procuro música boa, não procuro medalhões para alavancar as faixas. Meu critério é único! Hoje tenho trabalhos sendo finalizados com o Dakar, G.Felix , Out_Ctrl, Vanucci, Snowx.
Play BPM: Existe algo que você ainda não alcançou dentro da sua carreira de DJ e que você pretende correr atrás com o Pirate Snake?
Pirate Snake: Gostaria de lançar em algumas gravadoras e tocar em alguns lugares como Warung, D-Edge e etc.
Play BPM: Qual o seu desejo para a cena eletrônica brasileira para os próximos anos?
Pirate Snake: Gostaria que as pessoas gostassem mais de música e menos business. Seja ela pop ou underground. Porque engana-se você que pensa que os djs undergrounds não tem seus anseios e desejos de cada vez ganhar mais e mais.
Play BPM: Você é pai de uma linda menininha chamada Mariah. O que a paternidade já te ensinou até aqui?
Pirate Snake: Ela mudou a minha vida, né. Hoje penso muito mais nas causas de todas as minhas atitudes do que antes. Absolutamente tudo!
Play BPM: Não é um pouco difícil conciliar a vida de DJ, Produtor Musical, Produtor de Eventos, pai e esposo?
Pirate Snake: Muito difícil messsssmo. Final de semana vivo viajando e deixo de lado minha filha e minha esposa quase sempre! Sinto que perco muito da vida com elas. Estou começando a ser mais seletivo com o que aceito para tocar. Hoje principalmente com a Mariah, que não dá para levar… Penso muito nisso. O resto é trabalho! Eu sou workaholic. Acordo e durmo trabalhando, (risos). Só procuro organizar bem direito meus horários para não atrapalhar.
Play BPM: Alguma vez você já pensou em largar tudo e começar a trabalhar com algo totalmente diferente?
Pirate Snake: Opaaaaa! Algumas vezes. Atualmente, inclusive, faço outras coisas além da música. Mas não adianta… A música não dá pra largar! Está no sangue!
Play BPM: Qual o seu conselho para que jovens não desistam de ingressar no mercado de música eletrônica, independente da área?
Pirate Snake: Que a molecada não comece pelo oba oba, não pense somente em dinheiro, ser famoso, essas coisas. Existem também várias outras áreas de atuação que não sejam somente dj e produtor de eventos. Pense bem, estudem, procurem se atualizar. A vida de entretenimento não é farra.
Play BPM: Agora, um recado a todos que te acompanham e te fortalecem para continuar sua jornada.
Pirate Snake: Que cuidem o máximo de si mesmo e das suas famílias. Mente sã, corpo são. Ahhh, façam o que eu falo, mas não faça o que eu faço!