Entrevistas

“É difícil ser reconhecido em nosso país”, conta Meduza sobre cena eletrônica italiana em entrevista exclusiva

Meduza, trio italiano formado por Luca de Gregorio, Mattia Vitale e Simone Giani, se tornou sensação mundial na música eletrônica e no cenário pop. Os produtores foram revelados mundialmente pelo hit “Piece of Your Heart”, em 2019, que hoje conta com quase 115 milhões de plays no YouTube. Mas não pense que o trio parou por aí. Eles vêm emplacando uma sucessão de grandes faixas, como “Lose Control” e “Paradise”, prometendo dar continuidade em muita música boa neste 2021.

Para saber mais detalhes da rotina do Meduza durante a pausa nos shows devido a pandemia, conversamos com Mattia e Luca em uma entrevista exclusiva, pautando também assuntos como a relação dos artistas com o Brasil, a decisão sobre escolha de gravadoras e o processo de produção das faixas. Além disso, o que os italianos revelaram detalhes sobre a cena eletrônica de seu país natal na entrevista abaixo:

Play BPM: Fala galera, como vocês estão? Meduza: Bem e você? Bom vê-lo!

Play BPM: Ótimo poder ver vocês também! Bem, você já veio ao Brasil, claro, um de vocês, no ano passado e o anterior. Como foi o sentimento de tocar aqui no Brasil? Vocês acham que têm uma boa relação com o país? Meduza (Mattia): O certificado de platina aí demonstra isso. Eu honestamente tenho um bom sentimento com todas as pessoas no Brasil, pois eu me lembro que estive aí algumas vezes, mas eu me lembro especificamente do Carnaval. Foi provavelmente a melhor experiência da minha vida. E o bom daí, é que parece que as pessoas tem a música dentro delas, sabe, é um sentimento que é diferente de outros lugares do mundo e é somente no Brasil. Toda pessoa que você conhece e toda a música que você toca para elas, faz com que elas mexam seus corpos, para uma música ou especialmente para um DJ, isso é a melhor coisa possível.

Play BPM: Sim, a conexão entre a pista de dança e o DJ é impressionante, claro! Bem, vocês vieram com uma sequência de diversos releases, dois remixes, dois singles e os últimos hits “Born To Love” e “Paradise”. Qual foi a expectativa de vocês para esses dois últimos? Vocês pensam em continuar nessa mesma pegada de lançamentos e sonoridade ou algo diferente? O que podemos esperar? Meduza (Mattia): Nós levamos quase 1 ano para lançar “Paradise”, pois “Born To Love” foi mais para clube, por isso lançamos na Defected ao invés da Universal. Desculpas para o pessoal da Universal escutando isso rs. Meduza é diferente, você pode ver dois lados do projeto. Um mais voltado para os clubes, dos remixes, de “Born To Love” e outro lado mais comercial com “Paradise”, “Piece Of Your Heart”, “Lose Control”. Obviamente do lado mais rádio estamos tentando trabalhar com coisas House/Pop mas tentando puxar vibes de outros gêneros mas sempre do Pop, sendo por exemplo, do Rap e do Soul, então tentando fazer coisas assim para rádio obviamente com destaque. Mas para o lado dos clubes, tentamos trabalhar como um álbum, colaborando com DJs underground que gostamos e respeitamos, com alguns nomes que eu não posso contar agora. Esperem o ano que vem! Somente com instrumentos de tracks underground, feitas somente para as pistas de dança. Assim podemos personalizar mais nosso set como DJ, tocando nossas tracks rádio, mas também nossas underground, dando pras pessoas algo diferente e especial.

Play BPM: Sim, não vou mentir. A última vez que vi vocês no Carnaval, como você citou, foi exatamente isso que recebi, pois eu não sabia o que esperar. Foi a primeira vez que vi você ao vivo. Pensei: “o que ele vai tocar? As músicas de rádio?”. E daí você veio com um set incrível, misturando isso tudo, misturando underground com tracks comerciais. Foi impressionante. Tenho certeza que a multidão também amou, porque checamos as redes e todos estavam falando o quão incrível e diferente o set foi. Acho que os brasileiros não sabiam o que esperar e foi incrível, e isso é exatamente o que vocês fazem. Então, parabéns. Meduza (Mattia): Opa, muito legal! Obrigado!

Play BPM: Como foi o processo de quarentena de vocês com a pandemia? Eu sei que vocês fizeram alguns sets live especiais. Como foi o tempo no estúdio? Mais produtivo? Contem para nós como foi esse tempo. Meduza (Mattia): Foi mais produtivo, porque infelizmente nos últimos anos eu estava sempre em tour, e não tínhamos tempo de estar no estúdio, nós três ao mesmo tempo, trabalhando em música nova. E por isso que foi difícil ter “Paradise” como primeiro single. Durante esse tempo de pandemia nós dissemos: vamos começar do zero, como antes de “Piece Of Your Heart”. Sem pressão, sem pressa, somente nós três no estúdio juntos, compondo novas músicas, com a experiência que temos hoje depois de dois anos de Meduza.

Sobre isso… não é tudo que funciona. Às vezes fazemos sessões online, às vezes é melhor fazer algo pessoalmente com o artista. Então nós gastamos bastante tempo tentando trabalhar com artistas em sessões remotas, tentando criar novas músicas e tentando trabalhar as sonoridades de 2000 e 2001 como em novos singles, depois de “Paradise” etc etc. Além disso, nós ficamos com nossas famílias, em casa. Vida normal clássica, sabe?

Play BPM: É bom manter nossa saúde mental e estar bem, pois são tempos loucos como sempre dizemos. Preparando-nos para 2021, certo? Estão empolgados? O que podemos esperar do Meduza em 2021? Meduza (Mattia): Novas músicas 100%. Depois de “Paradise” nós queremos lançar, assim que possível, o novo single. Obviamente retornando a nossa antiga vida nos palcos, como DJ, mundo afora, e eu acho que muita música nova para clubes que temos na pasta e precisamos lançar.

Play BPM: Legal, bom saber! Empolgado e ansioso para isso. Bom, trabalhar em grupo é sempre desafiador, ter três pessoas no projeto pode ser desafiador. Então como esse projeto de três pessoas funciona pra vocês? Como é a conexão entre vocês? Por que só um de vocês toca nos shows ao vivo? Expliquem para os fãs. Meduza (Mattia): No estúdio, às vezes, muitas vezes nós discutimos sobre muitas coisas, claro, sobre música. Sabe, com três cabeças no estúdio, as ideias são totalmente diferentes, todo o tempo. Então temos que achar a forma certa de fazer. Mas somos amigos e tudo que acontece no estúdio, fica lá. E fazemos isso pela música, para o Meduza. Não é de uma forma ruim. Discutimos de boa. Mas além disso, Lucca, quer dizer algo?

Meduza (Luca): Eu acho que o segredo é não ter regras. Eu normalmente toco o piano, uso o computador. Matt é o DJ, mas não tem regra. Matt pode tocar o piano e mexer no computador. Simo no synths, sem regras. Esse é o segredo, eu acredito.

Meduza (Mattia): Sobre as lives, eles não são DJs, então é por isso que só eu toco, mas nós estamos montando um show ao vivo de música eletrônica, talvez para 2021, depende da pandemia. Mas nós três no estúdio, eu como DJ, Lucca e Simone nos teclados tocando ao vivo, com três projetos visuais, criando um verdadeiro show do Meduza, não mais somente um set de DJ.

Play BPM: Incrível. Isso seria uma ótima apresentação para o Tomorrowland ou grandes festivais, pois vocês trariam algo diferente para os fãs e eles ficariam empolgados pra ver, certo? Meduza (Mattia): Esse é o próximo passo para o nosso projeto.

Play BPM: Legal, bom saber! Obrigado por essa informação. Uma última coisa, sobre a cena eletrônica Italiana, que está trazendo muitos nomes recentemente, como Tale of Us, Mathame, Enrico Sangiuliano, tendo a atenção da cena underground. Como vocês veem essa aparição italiana? O que podemos esperar disso? Vocês conversam muito com diferentes produtores italianos? Meduza (Mattia): Com todos esses grandes artistas italianos que você disse, como Tale of Us, Mathame, Sangiuliano, Riva Star, no House e no Techno. O ponto é que nós somos todos famosos fora do nosso país e toda a vez é muito difícil ser reconhecido em nosso país. Mas não há um problema específico. O maior problema da Itália é a cultura. Nossa cultura é baseada em um tipo diferente de música, não sendo House nem Techno. Então estamos tentando ser uma bandeira para a Itália e pelo mundo, e tentar trazer isso para nosso país, tentando mudar as coisas. Claro que leva tempo, mas passo a passo vamos conseguir.

Play BPM: Podemos entender um pouco, pois aqui no Brasil também temos diferentes gêneros que não são música eletrônica e são bem grandes, desde o passado. E agora a música eletrônica está crescendo e só agora temos um mercado mais sólido. Eu acho que vocês vão conseguir o mesmo, é só questão de tempo. Meduza (Mattia): E também precisamos claro do suporte das rádios, e às vezes você faz a track de House ou techno e é difícil emplacar na rádio durante o dia. É por isso que somos sortudos por fazer o que fazemos e por sermos apoiados pelas rádios durante o dia. Aconteceu muito.

Play BPM! Isso! faz todo sentido! Irado caras! Espero ver você Matt em breve aqui no Brasil, e muito obrigado por falarem com o Play BPM. Meduza (Mattia): Foi incrível! Espero também!