Entrevistas

15 mulheres que fazem a cena da música eletrônica no Brasil acontecer

O cenário da música eletrônica é marcado por mulheres que fazem acontecer dentro e fora dos palcos, mas ainda não é o suficiente, pois a representatividade feminina neste universo ainda é pequena. Com muita luta, cada dia mais as mulheres vem conquistando seu espaço na cena. Conversamos com 15 desses nomes que carregam a força feminina na indústria musical deste gênero que tanto amamos para mostrar que sim: lugar de mulher é onde ela quiser! Principalmente fazendo a diferença em tantas esferas do mercado. Confira abaixo o depoimento de mulheres de diferentes setores da cena que representam muito bem a força feminina. Essa é uma homenagem da Play BPM a potência feminina que atua em várias frentes e possibilidades neste universo.

Carol Félix – Sócia Fundadora da Agência FX Talents

“Eu acho que tudo começou em 2012, quando fazia um programa chamado Gypsy Road, onde eu percorria grandes festivais de música no Brasil e no mundo. Naquela época, eu não conhecia nada de música eletrônica, então, conheci o André Guazzelli (Dre Guazzelli), e, mesmo sem ter conhecimento do mercado de bookings e de management, consegui levá-lo para tocar no Burning Man em 2014. Eu descobri que tinha esse talento, pois o levei para se apresentar em três diferentes campings do maior festival de contracultura do mundo. Então, descobrimos uma grande sintonia entre nós e começamos a trabalhar juntos. Comecei cada vez mais a mergulhar no mercado da música eletrônica no Brasil, consumir todos os tipos de vertente e entender cada ponto. Até que, em junho de 2019, decidi abrir a FX Talents, inicialmente com cinco artistas, porém, do ano passado para cá tivemos um grande crescimento e, já para 2020, a projeção é dobrarmos de tamanho. Minhas atividades hoje, do dia a dia, envolvem desde a venda de artista, até o business de trazer e fechar parcerias com marcas. Eu acho que trabalhamos em um mercado ainda muito machista, onde temos que nos provar cada vez mais, porque infelizmente ele é muito machista, é muito difícil as pessoas acreditarem em uma mulher que entenda do business, de um CDJ, de um mixer, da qualidade sonora, ou que saiba negociar um cachê e brigar pelos interesses do seu artista. Acredito que minha parte de ajudar é incentivar cada vez mais as mulheres a estarem lutando por aquilo que acreditam, por aquilo que sonham. Porque nós somos capazes de qualquer coisa.”

Claudia Assef – Jornalista e fundadora do Women’s Music Event

“Sou jornalista por formação mas também atuo como produtora cultural há muito tempo. Sou também DJ e escritora, tenho 3 livros publicados. Trabalhei em redações como Folha de São Paulo, já tive agência de conteúdo, trabalhei em diversos sites e atualmente coordeno o Centro Cultural Olido em SP e sou co-criadora da plataforma Women’s Music Event.

Ajudar outras mulheres não é apenas uma preocupação mas é o mote do trabalho com a plataforma WME. Queremos que todas tenham mais espaço em todas as áreas da cadeia musical. Fazemos isso há 5 anos e sentimos uma melhora mas está longe de estar bom.”

Cuca Pimentel – Tour manager

“Sou tour manager já há 12 anos e trabalho com música eletrônica há 15. Caí meio que por acaso no mundo do tour management. Uma grande amiga minha, Monique Dardenne, me chamou para ajuda-la ‘cuidando de um DJ’ na Tribe em 2008. Nem sabia o que iria fazer na verdade (rs). Com o tempo, fui aprendendo e entendendo mais sobre essa função e comecei a ser chamada para outros trabalhos. Hoje posso dizer com muito orgulho que já cuidei de grandes nomes da cena eletrônica e que tive a chance de trabalhar com DJs que admiro demais e que também sou fã de carteirinha. Meu trabalho é cuidar do bem-estar do DJ dentro e fora do palco, fazer com que a logística da turnê e das gigs funcionem, falar com produtores, motoristas para alinhar tudo e não haver atrasos. Tenho que cuidar para que tudo ocorra dentro do planejado, que eles não percam voos e também ‘apagar incêndios’(problemas) que possam ocorrer durante a tour.

Falo num módulo sobre tour management em um curso sobre produção que uma amiga criou e que foi ministrado na DJ Ban. Foi nossa primeira edição nesse final de semana, mas haverão outras em breve. Acho muito importante passar a mensagem adiante, informar as pessoas sobre o meu trabalho, sobre o que acontece atrás do palco e fiz questão de participar. Fiquei muito feliz em ver que tinham mais mulheres do que homens no curso. O número de mulheres trabalhando na cena ainda é muito pequeno, temos que nos ajudar para que isso mude. Tenho o prazer e a honra de trabalhar com mulheres incríveis que admiro demais, mas seria muito bacana se houvesse mais espaço pras meninas que querem começar a trabalhar nessa área. Mas estamos ganhando espaço e acho que esse crescimento será algo gradativo e natural. Já tivemos que batalhar por tanta coisa que já conseguimos, e sei que isso também acontecerá no nosso meio. E não vai demorar não! A mulherada manda muito!”.

Denise Klein – Booker (Nova Bookings)

“Eu morei fora do Brasil por muitos anos e voltei em 2001, bem na época que a cena eletrônica estava começando aqui. Como eu falava vários idiomas, comecei a trabalhar como tour manager de artistas internacionais. Durante os tours, tive oportunidade de conhecer muitos clubs, promoters e produtores de eventos. Muitos deles são meus parceiros até hoje. Não demorou muito e fui convidada a trabalhar no departamento internacional da Remix Agency e depois fui para a Plus como booker. Hoje estou na Nova Bookings.

A rotina de um booker não é nada fácil. Eu tento me organizar para atender a demanda que é gigante! Zerar os e-mails e as mensagens do WhatsApp é sempre uma missão quase impossível! O sucesso dos artistas em grande parte depende do agente. Não basta ter todas as qualidades que um DJ precisa ter para ser bem-sucedido. Atrás de todo artista de sucesso, existem um manager que cuida da carreira dele e um booker que cuida da agenda. Eu presto uma consultoria para o contratante, e colocar o artista certo no evento certo, é muito importante. Um booking errado pode ser muito prejudicial tanto para o contratante, como para o artista. O booker é responsável por traçar uma estratégia de carreira ao seu artista, tentando inseri-lo em eventos de relevância e sempre tentando valorizar o cache. Eu gosto de ter um contato bem próximo aos meus contratantes e artistas. Acompanhando-os e prestigiando os eventos.

Tenho no momento 3 artistas mulheres em meu casting. Barja, Devochka e Groove Delight. É muito gratificante ver o crescimento delas na cena. São guerreiras que já passaram por vários obstáculos durante a trajetória e hoje tem carreiras consolidadas no mercado.

Uma das formas que vejo de abrir mais espaço para as mulheres no mercado, são as próprias mulheres olharem para as outras com mais respeito. Apoiar a parceira de profissão, divulgar quando achar interessante e abrir portas. Cada vez mais, mais mulheres estão tomando coragem e tentando achar o seu lugar dentre tantos homens na cena eletrônica.A indústria da música eletrônica, por muitos anos foi dominada praticamente apenas por homens. A maioria dos gêneros de música nasceram e foram difundidos por eles, com algumas poucas exceções. Ultimamente isso tem mudado, as djanes estão cada vez mais conquistando o seu espaço na e-music. Vejo muitas mulheres surgindo no mercado, mas infelizmente são poucas as que conseguem se manter. A disputa pelo sucesso não é fácil para nenhum DJ, não importa o sexo. Para se destacar dentre todos os novos artistas que surgem, é preciso focar na carreira, e produzir na minha opinião é essencial. Na Nova Bookings 80% dos colaboradores são mulheres, que arrasam em suas funções. Tenho muito orgulho de todas e é um imenso prazer tê-las em meio dia-a-dia.”

Eli Iwasa – DJ e sócia fundadora dos clubs Caos e Club 88

“Cada sócio de nosso grupo tem suas funções, mas todos nós opinamos sobre tudo basicamente – a minha é a direção artística e curadoria das noites eletrônicas, desde o conceito até a contratação e logística dos artistas, além da comunicação. Temos uma rotina em que nos encontramos todos dias durante a semana em nossos escritórios, trabalhando de manhã até o final do dia. A maioria das pessoas só vê o resultado final que é a festa em si, mas muita coisa e o trabalho de muitas pessoas tem que acontecer antes para os clubs serem uma realidade.

Especialmente no interior de SP, quero acreditar que temos feito um trabalho consistente há quase 15 anos para fomentar a cena local através de nossos clubs e eventos, promovendo música e valores que acreditamos. O mais importante é dar espaço e oportunidade – e desde o começo, os line ups do Caos trouxeram grandes mulheres, muitas que nunca tinham se apresentado por aqui, e que arrasaram em suas apresentações. Não é uma ajuda, e sim mérito de cada uma delas.”

Juliana Cavalcanti – Administradora de empresas e produtora de eventos

“Comecei trabalhando na empresa da família desde cedo, quando terminei a faculdade fui morar no RJ para fazer pos graduação e acabei conhecendo o mundo dos eventos, foi amor a primeira vista e ha 15 anos me divido entre a administração da empresa e a produtora de eventos. Na empresa da família gerencio quase 40 pessoas e na produtora 5, o dia a dia é bem corrido lidando com contratações de artistas, planejamento de eventos, supervisão de produção, atendimento aos patrocinadores, estratégias de MKT e divulgação alem de outras atividades correlatas. O mais importante é planejar muito e com antecedência, como preciso dividir meu tempo é o segredo do sucesso. Temos eventos que o planejamento começa um ano antes e qualquer decisão mal tomada ou ignorada pode levar a grandes perdas.

A maioria da nossa equipe é formada por mulheres, são mais detalhistas e criativas alem disso tentamos sempre contratar mulheres para o line up, infelizmente nem sempre conseguimos pois a cena que vende ingressos é muito maior para os homens mas seguimos tentando inclui-las para termos representatividade.”

Juliana Correa – Produtora artística (Cat Dealers)

“No meu trabalho como produtora artística, tenho contato diário com promoters e produtores de eventos, empresários, agência de bookings, artistas, equipe, fornecedores e marketing para definir, aprovar e coordenar logísticas e cronogramas de shows, demandas pessoais e de agenda do projeto, da equipe, assim como desenvolver relacionamento com essas partes.

Desde o início tem sido um caminho de muita dedicação e comprometimento. Sempre busquei observar e ao máximo o papel que cada um tem e desenvolve dentro do nosso mercado para ter o melhor entendimento das necessidades e perspectivas dos artistas, promoters, produtores, clubs, empresários, etc.

Colaboro com o desenvolvimento da cena buscando fazer um trabalho da forma que acho correta, sempre aberta a aprendizados. Sempre com o intuito de agregar, expondo a importância da música, do conteúdo artístico, da moralidade e do profissionalismo. Isso tudo somado ao comprometimento, dedicação e amor que sinto pelo o que faço e pela música. Naturalmente isso resulta em uma atração de boas energias com interesse mútuo. Conheci pessoas ao longo da minha trajetória, que ao me verem trabalhar, por um gesto de admiração, me auxiliaram a sempre atender minhas demandas e entender minhas necessidades para obtermos a melhor entrega final.

A presença feminina na cena é super importante. O trabalho pode acabar sendo um pouco braçal, mas nada que a adrenalina de uma guerreira não tire de fichinha. A mulher tende a ser mais cuidadosa e delicada, eu mesma estando na estrada com Cat Dealers hoje, sinto que eu acabo sendo uma ‘mãezona’ pra equipe inteira.”

Juliana Faria – Logística internacional (Plusnetwork)

“Hoje em dia coordeno o departamento internacional da Plusnetwork, mas no geral me apresento como produtora de eventos mesmo (rs). Desde o início dos anos 2000 trabalhei em rádio (Jovem Pan) ainda no Pará; então sempre tive contato com produção/promoção de eventos e artistas. Em 2008 se intensificou com a minha entrada na Jovem Pan em Curitiba e com a apresentação do Dance Paradise (programa voltado a música eletrônica). De tanto estar presente nos eventos como imprensa e em contato com DJs no estúdio, conheci o Sandro Horta, na época então dono da DJCOM. Iniciei como marketing da agência, comecei a fazer alguns tour managers até chegar na função de logística internacional. Tudo foi gradual. Em 2017 a DJCOM se uniu a Plus e segui nesse caminho até assumir de vez a coordenação do internacional no início de 2019.

Faço todo o controle relativo as nossas contratações internacionais e viajo com os artistas também. Reviso ofertas, avalio contratos, lido com contratantes locais e agências internacionais, tour managers e fornecedores diversos. Alinho vistos, logística e necessidades técnicas das tours que realizamos, controle de prazos e pagamentos, enfim, do início ao fim do processo (quando o artista finalmente se apresenta no país), eu estou envolvida. E também auxilio em algumas demandas eventos que fazemos ao longo do ano.

Eu procuro colaborar conseguindo equalizar as demandas de todo mundo, seja artista ou contratante. Afinal esse é o papel maior da agência, deixar todos satisfeitos e prover uma boa entrega, ainda mais agora nesse cenário desfavorável da nossa economia. Lidar com verba dos outros é sempre um grande desafio, então precisa ser feito com extremo profissionalismo. Felizmente, me vejo cercada de mulheres no meu dia a dia, elas concentram boa parte das funções de execução e controle de informação nesse meio. Sempre que posso, enalteço o trabalho de todas nós, dou suporte, indico, contrato. Se tem uma mulher executando qualquer trabalho que eu possa ajudar de alguma forma, minha mão estará estendida.”

Kalygan Poletto – Fundadora e produtora do Soundscape

“O Soundscape é um canal de streaming no qual filmamos DJs tocando em lugares extraordinários juntando música eletrônica e visual deslumbrante. Trabalho como produtora cultural e com produção de eventos relacionados ou não à música eletrônica, também faço assessoria artística para DJs que estão em início de carreira.

Sou formada em ciência política, fiz mestrado em cooperação internacional o que é bem longe desse meio, mas sempre fui atraída por todas as formas de arte. Cresci na França e lá isso é super incentivado e valorizado, trabalhei com teatro, moda, música e quando voltei pro Brasil há quase 10 anos comecei a trabalhar em festas e casas noturnas fazendo um pouco de tudo, hostess, promoter, produzindo os eventos, organização, pagamento dos funcionários, artístico, palco etc. Trabalhei como booker na DJcom Brasil, como tour manager de artistas internacionais, dei aulas de assessoria de carreira na Yellow DJ Academy e participei na produção de vários eventos para escola. Sempre estive de alguma forma envolvida na cena.

Há uns 2 anos e meio decidi criar o Soundscape, os canais de streaming estavam se desenvolvendo bastante lá fora e senti falta disso aqui, de algo com nossa identidade brasileira. Contei com a ajuda de vários amigos que entraram de cabeça no projeto, filmando e editando os vídeos, e dos amigos DJs que toparam tocar quando ninguém conhecia o projeto e quando nossos equipamentos de filmagem eram bem caseiros. Foi bem trabalhoso, principalmente financeiramente, mas o público e a cena (artistas, agencias, imprensa) sempre nos receberam de braços abertos.Hoje tenho uma equipe e sócios fantásticos que não medem esforços para que o projeto cresça e se destaque. A piada com a equipe é que só não varremos o chão, porque o resto todo mundo faz de tudo.

O Soundscape foi criado exatamente com o intuito de fortalecer e desenvolver nossa cena e valorizar tanto nosso patrimônio quanto nossa cena artística que é extremamente rica. Por ser algo já super desenvolvido lá fora, mas ainda muito novo aqui, o projeto tem essa ambição de mostrar para o público que nossa cena tem capacidade também para criar conteúdo de qualidade e que vale incentivar isso. Nossos vídeos são transmitidos em canais mundo afora graça a Dance Television e outros parceiros e assim estamos, como brasileiros, ocupando um espaço novo e isso apesar de não ter 1/10 do orçamento dos outros projetos.

Ajudar mais mulheres na cena sempre foi uma preocupação, as vezes passa despercebido, mas existem mulheres incríveis trabalhando nesse meio, elas trabalham nas agencias, nos bastidores, na imprensa, nos palcos, são artistas, produtoras etc. Existe um senso de solidariedade entre a gente acredito, por esse meio ser ainda de maioria masculino, estamos sempre nos ajudando e nos incentivando. Quando eu participo da produção de eventos do tipo conferência ou encontros eu faço questão de trazer para os debates essa temática das mulheres na cena seja com painéis específicos, seja convidando o máximo possível de profissionais mulheres e quando me convidam para participar de algum debate sempre tento encaixar nas discussões o quanto as mulheres são essenciais para essa cena e o quanto ainda é muito desafiador para uma mulher trabalhar nesse meio. O Soundscape é liderado por duas mulheres e queremos cada vez mais mulheres no nosso time, inclusive contratamos recentemente duas como social mídia e designer. Ainda está sendo difícil, mas tentamos muito equilibrar os episódios e ter o mesmo número com DJ homem ou mulher. Precisamos muito debater essa questão feminina na nossa cena, mas acredito realmente que a melhor forma de ajudar as mulheres é dando espaço pra elas demostrarem o quanto são competentes, dedicadas, eficientes e profissionais de alto valor para o mercado.

Eu cuido da parte administrativa, criativa e de produção (autorizações para gravação, direcionamento da equipe, produção durante os episódios, edição etc.) Com minha sócia Andreia Batista trabalhamos em conjunto em basicamente todas as áreas do projeto com alguns pontos específicos para cada uma. Fazemos toda a assessoria de imprensa, curadoria artística e de local, financeiro, organização dos episódios, das viagens, equipamentos, equipe, captação de patrocínio etc. Até uns meses atrás também fazíamos a parte de social mídia e de criação de conteúdo para apresentar o projeto aos parceiros e patrocinadores.”

Letícia Escobar – Assessora de imprensa

“Sou assessora de imprensa, mas cursei jornalismo. Atuei por alguns anos na área de política e cultura, mas desde adolescente tive fã sites de bandas gringas, então mesmo antes da faculdade já estava no meio da música. Meu primeiro trabalho como assessora de imprensa foi na gravadora Universal Music, onde fiquei por mais de dois anos. Como assessor temos várias demandas, mas as principais são releases, criações de pautas e agenda de entrevistas. Além de sempre estarmos em contato com jornalistas de vários veículos, temos que ficar ligados no que está rolando no mundo da música para sempre termos novas ideias de como apresentar o nosso cliente da melhor forma possível. Participo de muitos grupos voltados para mulheres na área da comunicação, também já participei de simpósios e workshops que tem como foca a mulher na área da música e assessoria. Acredito que aos poucos estamos recebendo o reconhecimento e espaço que merecemos, mas ainda temos um longo caminho pela frente.”

Liana Sayuri – Logística internacional (Box Talents)

“Sou artist liaison do departamento internacional da Box Talents, tour manager dos artistas internacionais e coordenadora do artístico do MOB (cruzeiro em parceria com Chilli Beans). Apesar de ser formada em Engenharia Agronômica (USP/2000), fui fotógrafa do Club A do apresentador Amaury Jr e também fotografava para algumas bandas de rock, incluindo Angra e Tihuana, onde conheci o Fernando Baía da Entourage. Como a agência estava precisando de alguém que para cobrir a licença maternidade da responsável pela logística internacional, o Fernando me indicou e logo fui efetivada. Lá passei a coordenar os eventos Só Track Boa e Kaballah. De lá acabei passando pela Alliance, Plus Network e agora estou na Box Talents.

Entre minhas atividades, assim que as turnês são fechadas, eu contacto com as agências dos artistas internacionais para verificar todas as necessidades para que as turnês aconteçam, de rider técnico até ir para as turnês com eles para uma entrega que satisfaça público, artista e contratantes. Como coordenadora do artístico nos eventos, eu monto toda a logística dos artistas que irão se apresentar, da mesma forma providencio o rider junto às equipes técnicas e todas as necessidades dos artistas.

Ajudar mais mulheres neste cenário é uma das minhas preocupações. Ainda somos minoria trabalhando no backstage, porém as mulheres que conheci e com quem trabalho são perfeccionistas, preocupadas com seus artistas e seus eventos, eficientes ao máximo e também nos sentimos mães de artistas e equipes, pelo cuidado e carinho com que executamos nossas funções.”

Mary Mesk – DJ, produtora e compositora

“O caminho que percorri até chegar aqui foi realmente como fã. Morei na Alemanha em 2002 e tive contato maior com a música eletrônica, como eu morava do lado de Ibiza, passei a frequentar os festivais e curtir as músicas. Comecei como fã e foi a paixão por tudo isso que me fez chegar aqui, basicamente o excesso de amor pelo que faço, porque quando percebi eu só queria saber de música e festivais, logo decidi trabalhar com isso. Comprei o equipamento e passei a tocar em várias festas no meu próprio estúdio e assim começaram a me chamar pra tocar fora também. Quando comecei com as gigs percebi que precisava produzir o meu próprio som também, então estudei produção e composição e foram saindo as minhas primeiras letras e músicas. Isso tudo demandou tempo de evolução e amadurecimento de todo esse conhecimento, são anos e anos de estudo e mesmo assim precisamos sempre estar melhorando e foi assim que cheguei até aqui.

As atividades que eu desenvolvo nesta profissão são a composição e a produção. Mas o dia a dia é bem dinâmico, tem dia que separo pra escolher um cantor e gravar um vocal e faço o tratamento da voz, tem dia que me dedico a composição de uma letra, outro dia produzimos a base, às vezes a base e a letra de uma vez e depois vou lapidando a música, e também tem o preparo para os shows também com os mashups, bootlegs e remixes. É um trabalho bem amplo com várias sabedorias: produção, composição, operação, lançamento e trabalho de pós lançamento.

Eu procuro sempre reunir meus amigos, que são produtores e pessoas que são da cena e compartilham do mesmo dia a dia, o que eu sempre falo é que: ‘Nenhum de nós é maior que todos nós juntos’. Prezo pela presença das mulheres nessas reuniões, produtoras, DJs e cantoras abrindo espaço para elas mostrarem seus trabalhos e participar dessa troca de conhecimento. Isso faz com que todas as vezes que eu faço algo aqui em casa, que seja para produção, composição ou pra curtir um som, acaba sempre em uma troca de experiências entre todos e uma integração legal de sabedorias, têm muitas collabs entre meus amigos que surgiram dessas reuniões. Eu sinto que promover esses encontros acabam gerando oportunidades de troca de conhecimento entre os produtores, compositores e cantores e tento passar pra galera que não devemos nos ver como concorrentes mas sim como aliados, sendo essa a visão que eu gostaria de passar pra cena.”

Milena Paiva – Produtora Artística (Ame Club e Laroc Club)

“Comecei em 2007 e até 2010 atuei como ‘booker’ da agência Trade Sound e, em paralelo, também exercia a função de ‘Stage Manager’ nos festivais do Grupo No Limits (XXXPerience e Orbital). Em 2011 abri a Modular Management, uma agência de DJs, em sociedade com a Monique Dardenne (Women’s Music Event), através da qual tivemos a oportunidade de trabalhar com artistas como Snoop Dogg, o rapper Pitbull, dentre outros grandes nomes da cena eletrônica. A maternidade chegou e decidi me dedicar em tempo integral aos meus filhos, Enrico (7 anos) e Gael (3 anos), até que em 2017 assumi a Produção Artística do XXXPerience Festival, onde ainda estou. Em 2018, surgiu a oportunidade de trabalhar também com a logística dos artistas do Laroc Club. O grupo hoje possui 3 casas, Laroc, Ame e Folk Valley. Assumi toda demanda de logística dos artistas e atualmente ocupo o cargo de Produtora Artística.

Entre minhas atividades, dou total suporte na contratação dos artistas que se apresentarão na Laroc e no Ame. Além disso cuido de toda demanda de logística, técnica e hospitalidade dos três clubs do grupo, e gerencio toda produção dos dias de aberturas dos clubs.

Procuro colaborar com a cena, acima de tudo sendo profissional, transmitindo o sentimento e a segurança de que o melhor esta sendo feito, tanto para o público, quanto para os artistas que se apresentam nas casas e, com isso, conquistando não apenas a confiança, mas principalmente o carinho de cada um deles, sentimentos que, além de gratificantes, fazem com que todos queiram sempre voltar.

A grande verdade é que são poucas as mulheres que conseguem se destacar nesse mercado, por infinitas e conhecidas razões, mas são exatamente essas poucas que fazem a coisa acontecer, com a excelência, a delicadeza, e o cuidado feminino, nos mais variados níveis do negócio em que estão envolvidas, além, é claro, do apoio mutuo de uma para com as outras, independente do tempo de cena, e do cargo ocupado!”.

Natália Santos – Fotógrafa (Sigma Fotografia)

“Formada em Designer gráfico, atualmente eu sou fotografa e tenho uma marca de roupas que atua no meio trance, a Just Go Store. Além de compor o time da Sigma Fotografia, sou responsável pelo coletivo fotográfico da Beats Art e Huracan Festival. Eu já era fotografa antes de começar na cena trance mas por gostar muito de musica eletrônica e já frequentar raves e festivais, eu achei que seria uma boa junção, então eu tive a oportunidade na minha primeira rave lá em 2016, a Divino Trance #1, conheci muitas pessoas ao longo do caminho que viram um potencial em mim, então eu comecei a investir mais em conhecimento e equipamentos para crescer na profissão, sai do emprego fixo que eu estava para me aventurar trabalhando somente com fotografia e minha marca e deu super certo.

Por já ser Designer, sempre gostei de criação de camisetas etc, então eu quis mais uma vez, juntar o que eu mais gosto com a minha profissão, então criei a Just Go Store juntamente com meu sócio e irmão David, além de ter a loja online, estamos fazendo Stand em algumas festas, e isso é muito gratificante pra mim, por que além da fotografia eu também consigo uma forma que as duas profissões trabalhem juntas.

Entre as atividades da profissão, tento equilibrar a minha semana, entre os eventos que eu costumo fazer nos finais de semana e minha rotina com a loja online durante a semana. Mas eu sempre procuro estudar bastante fotografia, por que além de saber fotografar uma pós produção é essencial nesse meio, então ocupo meu tempo livre com estudos.

Como responsável pelo coletivo fotografico da Beats Art, eu adotei um projeto que chamo carinhosamente de “jovens titãs” rs que seria, oportunidade de inserir essa galera que esta começando na fotografia mais não tem muito incentivo e oportunidade no meio trance, junto com o Rodrigo Lacerda (Sócio da Beats Art) que me dá total liberdade com esse projeto em poder inserir novos fotógrafos(as) na Crew, eu procuro ajudar o máximo de pessoas que eu posso, principalmente mulheres, infelizmente tem poucas mulheres fotografas nesse meio, mas sempre que eu vejo uma mulher, procuro ajudar da mesma forma que me ajudaram lá no começo.”

Paula Chalup – Curadora de estúdio de produção AZ, DJ e produtora

“Tudo aconteceu naturalmente. A musica sempre esteve na minha vida, tive sorte no meu caminho até aqui, sempre tive apoio de grandes DJs como DJ Mau Mau que é até hoje minha maior inspiração.

Trabalho diariamente no meu home estúdio onde desenvolvo minhas produções, pesquisas. E hoje colaboro com a cena com minhas festas, parcerias com DJs e produtores. Atualmente tenho um bar onde tenho sim a preocupação de ter uma noite somente para mulheres, onde eu posso e abro esse espaço para nos mulheres que ainda temos um espaço muito pequeno na cena.”

Vitória Zane – Jornalista e redatora (Play BPM)

“Sempre foi meu sonho trabalhar com jornalismo, mas acabei optando por cursar Letras. Terminei a graduação e comecei a trabalhar como professora, mas no fundo faltava algo. Passei em dois concursos públicos, mas larguei tudo e fui fazer Jornalismo. Já acompanhava a Play BPM, e incentivada pelo meu namorado, mandei um e-mail me oferecendo como redatora voluntária. A partir daí, comecei a escrever artigos mensalmente, depois textos semanalmente, até passar a escrever diariamente para o site, quando fui contratada. Estou há três anos neste universo do jornalismo especializado em música eletrônica, como redatora, editora e também assessora de imprensa.

Sou responsável pela publicação das matérias e programação nas redes sociais, incluindo os processos de apuração, redação, pesquisa e entrevista. Então, escrevo, subo os textos no site e agendo a publicação todos os dias. Recebo pauta dos editores chefes, mas também preciso estar atenta a tudo o que acontece na cena, porque a cada momento surge uma nova pauta. Também faço cobertura de eventos e reviews.

Além das matérias do dia a dia, procuro dar visibilidade para novos artistas e pautar eventos gratuitos e relevantes para quem se interessa pela cena eletrônica. Também sempre estou aberta para ajudar quem procura por dicas ou conhecimento acerca do jornalismo e assessoria de imprensa. Com relação às mulheres da cena, sempre prestigio o trabalho destas, busco abrir espaço para divulga-las e provocar questionamentos acerca da inclusão e visibilidade feminina na música eletrônica.”