Entrevistas

Entre projetos e processos, conversamos com Seed Selector sobre as novas sementes que ele tem plantado na cena nacional

- Via Assessoria de Imprensa -

Muita água correu debaixo da ponte nos últimos cinco anos de vida de Bruno Henriques de Carvalho , conhecido na cena como Seed Selector . Desde quando deu o start oficial no projeto, em 2019, já foram mais de 30 músicas lançadas entre originais, remixes, edits e collabs, e também mais de 30 sets gravados, sejam eles ao vivo ou para podcasts, sempre preservando pela sua essência musical em torno do House e sua imutável originalidade.

Nesse meio-tempo, plantou sementes importantes em gravadoras como Levels Rec, Cocada, Warung Recordings, Me Gusta Records e Solitude Recordings (onde também é curador do projeto). Além dos lançamentos, se apresentou em palcos que faziam parte de seus sonhos, como Warung , D-Edge , Beehive e o famoso Universo Paralello , além de ter acompanhado a crew da The Boogie em uma tour de três datas na Europa.

Até falamos aqui , em 2020, sobre importantes pontos da sua trajetória, mas chegou o momento de atualizarmos o papo resgatando um pouco do que de mais importante rolou de lá pra cá, além de trazer algumas novidades em primeira mão.


Bruno, tudo bem? Há três anos, nós fizemos uma entrevista com você num momento em que seu projeto ainda estava em fase inicial. O que mais mudou no seu perfil como artista de lá até aqui? Onde você acha que mais evoluiu?

Sim, de fato bastante coisa aconteceu e mudou nesse meio tempo. Acredito que as principais mudanças foram uma busca incessante no meu desenvolvimento como produtor musical, onde busquei ter uma consciência mais ampla dos processos de criação num geral. Além de como incrementar as minhas músicas, principalmente na parte de finalização. Também pude melhorar minhas conexões com outros artistas e coletivos.


Mas antes de tudo isso começar, como era sua relação com a música? Na infância, com a família e até mais tarde, já na adolescência…

Na infância meu contato com a música foi fortemente influenciado pelo gosto da minha mãe na MPB e pelo gosto do meu pai em RnB. Porém na época eu pouco conhecia sobre… Durante a minha pré-adolescência ouvi muito funk 2000, mas com o passar do tempo, tive contato com a e-music e foi aí que minha relação com a música mudou. Comecei a pesquisar tracks, ter interesse em descobrir o nome dos artistas e suas histórias, ouvir mais a fundo discografias deles e naturalmente frequentar locais que tocassem esses estilos ou que me apresentassem novas possibilidades dentro desse universo.


Percebemos que a MPB e as brasilidades de forma geral sempre te acompanharam. Atualmente até vemos artistas e gravadoras de fora trazendo samples e edits de músicas que fizeram parte da nossa história. Na sua visão, este é um sinal de que o Brasil está cada vez mais sendo valorizado na cena global?

Eu sempre acreditei muito na música brasileira, prova disso são as diversas referências da nossa cultura em minhas músicas e meus sets, dos lançamentos mais antigos até as coisas mais atuais. Aqui no Brasil temos o verdadeiro ouro musical, alguns gringos e brasileiros  já sabem disso a um bom tempo, mas acho que  agora está cada vez mais assumindo uma escala global.


E aproveitando para falar da sua assinatura sonora: você acredita que tiveram mudanças significativas dos seus primeiros lançamentos para os mais atuais? Como você definiria (ou pelo menos tentaria definir) o que você toca e produz hoje?

Apesar de normalmente bater na tecla da House Music, eu nunca busquei me fidelizar a nenhum gênero musical específico, gosto de poder variar na hora de produzir e tocar conforme meu gosto e do momento específico, sempre vão existir muitas variáveis que podem influenciar esse processo de criação.

No começo, produzia numa estética mais melódica e emotiva e com o passar do tempo fui me aventurando em outras propostas, hoje em dia procuro criar músicas, que acima de tudo, gerem movimento! Que façam dançar e possam marcar alguém de alguma forma, também acredito muito no poder das misturas e dos testes. Durante o processo criativo viso trabalhar livremente, deixando a própria música conduzir as ideias que nela fazem sentido, também utilizo das minhas referências nas pistas pras definir alguns padrões de estética desejados.


Uma conexão muito importante que você fez ao longo do caminho foi com o Warung. Primeiro, lançando “Amolador” e “Desaceleração” pela Warung Recordings, depois sendo curador do projeto Solitude, até chegar no grande feito que foi tocar no club, na pista Garden. Como você avalia essa relação com a marca, considerando o fato trágico que aconteceu no início do ano?

Minha conexão com o Warung realmente foi muito importante, tanto como realização pessoal e para o projeto. Eles foram uns dos primeiros a dar atenção pro meu trabalho e me colocar em destaque, sou muito grato por toda parceria que seguimos construindo, além do fato de ter a oportunidade de me apresentar por lá.. É uma sensação difícil de descrever, foi muito f*da.

Quanto ao incêndio, salvo o fato do club estar se reerguendo e isso precisar de foco e tempo por parte do staff, acredito que não interferiu na nossa relação, foi uma tragédia. Mas a vida é feita de quedas, o importante é que a gente sempre se levante mais forte do que caímos, acho que o mesmo vale para o club, inclusive estou ansioso para saber os próximos passos deles!


Inclusive essa experiência com o Warung e o projeto Solitude te auxiliou também a entender mais o funcionamento e a gestão de uma gravadora, certo? Tanto que você está tirando do papel a ideia da sua própria label, Jardineira. Pode nos contar mais a respeito da ideia?

Sim, essa experiência me trouxe uma ampla consciência dos processos. A gravadora é uma ideia que já estava no meu radar há tempos, o intuito é ser um espaço de troca e cuidado, onde queremos lançar músicas autorais e edits de artistas que admiramos e acreditamos, tracks dançantes, animadas e que facilmente eu teria no meu acervo.


Qual será o diferencial dela perante as outras marcas já presentes no mercado? O que vocês querem destacar com os lançamentos?

Acredito que o principal diferencial será o cuidado e atenção, com uma rotina de lançamentos e de divulgação, visamos trazer organização e um planejamento, com a antecedência necessária para termos uma entrega de material relevante e com frequência. Acredito que a proposta da curadoria e a estética que estamos desenvolvendo com a Jardineira também poderá ser considerado um diferencial.


Pegando como gancho esse lance de gravadoras, hoje a gente vê um número quase que “exagerado” de lançamentos toda semana. Álbuns perderam aquela magia de antigamente e os singles tomaram conta do mercado. Qual a sua opinião sobre esse alto consumo de novidades a todo momento?

Tudo está sempre em constante mudança, hoje em dia, as coisas são muito mais aceleradas, vemos as coisas sendo encurtadas e compactadas, o tempo passa mais rápido e novos formatos de consumo vão se tornando padrões. Acredito que tudo isso não anula ou desvaloriza formatos mais tradicionais, um bom exemplo seria os próprios discos de vinil.

Com o lançamento de singles você pode focar toda a comunicação e priorizar aquele único trabalho, por isso é considerado mais eficiente, porém o lançamento de um álbum é algo mais consistente e enriquecido artisticamente.


Na sua visão, você acredita que a pesquisa e o repertório musical estão ganhando mais atenção nos últimos anos ou o que dita ter sucesso ou não ainda é produzir músicas que se tornam hits?

Acredito que o futuro pertence à diversidade, novos formatos, características, gostos e públicos. Sempre vai ter aquele DJ que toda vez toca as mesmas músicas, ou só toca um gênero específico, assim como terá o público que quer consumir exatamente isso. Por outro lado, também existirá o DJ que é muito valorizado por sua pesquisa, outro por sua produção, outro por sua performance. Mas no final, para qualquer artista ter bastante destaque, ele tem que ser completo, a característica que vai diferenciá-lo é só a ponta do iceberg e é geralmente definida pelo público.


Por fim, em um exercício utópico, se você pudesse mudar/melhorar algo na nossa cena, o que você desejaria?

Acho que um pouco mais de profissionalismo cairia bem algumas vezes, rs. Mas a real que é difícil dizer, dentro da nossa cena existem vários nichos e cada participante está numa posição diferente. Então, quando fico incomodado com algo, sempre me pergunto se é todo mercado que está complicado ou eu que ainda não estou na posição ideal/desejada, geralmente a resposta é os dois, rs. Querendo, ou não, é um mercado cada vez mais competitivo, o que é bom para um pode não ser pro outro. Vejo muita gente reclamando e criticando, outras apenas fazendo. O difícil é quem tem diversas oportunidades constantemente e não aproveitar da forma como deveria e ainda reclama. Eu, como qualquer ser humano, também tenho minhas frustrações e desilusões, mas sempre busco focar minha energia em entregas e desenvolvimento pessoal.


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Imagem de capa: Divulgação.