Entrevistas

'Ninguém vai lembrar quem foi o melhor DJ de 2013 em 2030, mas as pessoas vão lembrar das músicas', declara Showtek em entrevista

O duo Showtek dispensa apresentações! Com grandes sucessos na cena eletrônica mundial, os irmãos provaram o quanto tem potencial para crescer e se reinventar dentro das vertentes e possibilidades da indústria musical.

Em uma entrevista super detalhada, a dupla conta sobre a carreira, as dificuldades, os momentos de glória e o que ainda está por vir. Se liga!

Wouter e Sjoerd! Como vocês estão? É um grande prazer falar com vocês. Com certeza, todos nós sabemos quem é Showtek, mas acho que não sabemos muito sobre vocês dois como pessoas "reais". Poderiam apresentar-se a nós? :)

Oi, pessoal. Bem, nós somos Wouter e Sjoerd Janssen, mais conhecidos como Showtek para o mundo, mas para nossa família e amigos, somos apenas dois irmãos trabalhadores (sendo Wouter o mais velho) perseguindo seus sonhos. Crescemos em Eindhoven, Holanda, que está cerca de uma hora de distância de Amsterdã. Nós dois crescemos apaixonados por esportes, principalmente futebol, judô e basquete. Sempre falamos sobre ter uma carreira no basquete e sonhávamos em jogar na NBA um dia, mas isso nunca aconteceu. Não foi falta de talento que nos fez perseguir uma carreira musical, mas sim o sucesso que ganhamos em um estágio inicial, quando começamos a lançar músicas. Nossos pais se divorciaram quando éramos adolescentes e isso nos uniu mais como irmãos, pois encontramos uma maneira de expressar nossas emoções por meio da música.

Foi uma ótima distração e muita diversão. Ficávamos acordados até tarde da noite, trabalhando em nossos fones de ouvido sabendo que tínhamos que estar na escola cinco horas mais tarde. Encontramos motivação e paixão em fazer música e percebemos que isso poderia ser algo maior do que apenas um hobby. Lançamos algumas faixas que foram muito bem, nossa música estava sendo tocada por muitos DJs em clubes e festivais, então nunca paramos de trabalhar para tornar este nosso sonho a viver.

Os esportes ainda são uma grande parte da nossa vida, mas apenas para nos divertir e ficar em forma :)

Vocês voltaram com sua música de assinatura no lançamento mais recente, "Pum Pum", ao lado de Sevenn. Contm mais sobre como as ideias dessa produção e colaboração surgiram.

Estávamos na Austrália durante nossa “Stereo Sonic Tour” em 2018. Alugamos um estúdio em Melbourne e trabalhamos em algumas ideias legais junto com o cantor Sonny Wilson (conhecido por nosso single "Booyah") e o cantor GC (conhecido por nosso single "Island Boy"). Uma das ideias que surgiram naquele dia foi “Pum Pum”, que foi muito engraçado, porque estávamos rindo quando GC estava cantando os vocais, que são muito divertidos e meio estúpidos, mas também muito enigmáticos. Dois anos depois percebemos que nunca havíamos terminado essa ideia, assim, contatamos o "Sevenn" e perguntamos se ele havia interesse em fazer essa música junto com a gente. Foi assim que ela surgiu, levando cerca de quatro semanas para terminar quando (re)começamos a trabalhar nela. Esta colaboração aconteceu principalmente por FaceTime e WhatsApp!

Vocês tem uma longa trajetória na música eletrônica, começando em 2001 tocando Techno e depois migrando para o Hardstyle. O que todos esses anos de história e experiência refletem na música que vocês produzem e tocam hoje?

Achamos que é muito importante ser capaz de crescer como artista e expressar sua criatividade. Se você não tentar fazer isso, você nunca saberá e provavelmente ficará travado em um bloco de "escritores" ou "produtores". A música é uma forma de arte e o mais importante é amar. A razão pela qual mudamos os gêneros é porque também queríamos continuar evoluindo e nos reinventando. Showtek é mais conhecido por suas melodias “únicas” e drops de “batida pesada”, mas isso nem sempre funciona para todas as faixas e é por isso que continuamos experimentando diferentes direções que se adaptam melhor para aquela música em particular. “PumPum” é perfeito para festivais e clubes, mas nosso recente lançamento, "Someone Like Me", é mais uma música divertida, mas temos muito orgulho dela. Adquirimos muita experiência ao arriscar coisas novas e isso também nos deu confiança, seguindo nossos corações. O sucesso não deve ser medido apenas pelo ganho ou renda, fama ou exposição, ter orgulho de seu trabalho, não importa qual seja o resultado, é a coisa mais importante.

Acreditamos que produzir ao lado de Tiësto deve ter sido um marco importante na história da dupla. Vocês acreditam que, em 2012, "Cannonball" foi um ponto chave na carreira de vocês? Quais eram seus pensamentos na época?

Foi na época que decidimos fazer “Slow Hardstyle”. Nós estávamos no topo com o Hardstyle por anos, vendendo shows solo em todo o mundo, então fazer uma mudança para algo novo não foi fácil. Quando começamos a trabalhar com Tiësto, aprendemos muitas coisas novas e isso deu-nos confiança. Nós somos para sempre gratos por esta oportunidade :) Percebemos que se esse som funciona com o Tiësto, por que não fazê-lo com o Showtek? Sabíamos que podíamos fazer isso, mas era apenas uma questão de tempo e foco. Quando lançamos "Cannonball" (que o Tiësto promoveu bastante), tornou-se uma referência do EDM atual que meio que se tornou um novo som para o estilo naquela época. Era uma das primeiras canções do “Big room” (ao mesmo tempo com “Animals” e “Epic"). Isso nos deixou ainda mais motivados para lançar mais músicas nessa pegada como "Bad", "Booyah" e "Beliver", por exemplo.

Desde então vocês se tornaram cada vez mais bem sucedidos, inclusive no Brasil e América Latina em geral. Existem DJs e produtores brasileiros que vocês conhecem e gostariam de produzir juntos?

Sim, trabalharíamos com caras como Alok e Vintage Culture. E quem sabe isso pode acontecer em um futuro próximo. Já faz um tempo que não vamos ao Brasil, mas nós amamos o país!! Mal podemos esperar para voltar e talvez reservar uma sessão de estúdio :)

Quais foram os palcos mais inesquecíveis que vocês se apresentaram? Escolham pelo menos três que marcaram suas vidas, e se vocês também puderem nos dizer por quê, adoraríamos saber!

Ultra Argentina: Este foi apenas um show massivo! Foi quando acabamos de lançar “Booyah” e nossa carreira estava explodindo. Trouxemos nosso pai em turnê, ele estava atrás do palco e ele estava chorando, estava tão orgulhoso. Havia cerca de 100 mil pessoas cantando a nossa músicas. Foi um momento que nunca esqueceremos!

StereoSonic Australia: Este é um dos melhores tours que já fizemos, com dois fins de semana consecutivos em cinco das maiores cidades da Austrália. Temos uma grande base de fãs lá por causa da nossa carreira hardstyle, mas durante essa turnê, nossa música “Bad” estava nas rádios da Austrália. Esta foi uma das primeiras vezes que tocamos em um mainstage por lá e a multidão enlouqueceu. A turnê também foi muito divertida, não só por causa dos shows malucos, mas também porque vivemos muito lado a lado. A única coisa que não foi divertida foi que o Sjoerd e Sonny Wilson caíram de um caiaque durante um passeio quando estavam no meio do oceano. Este local é conhecido pelos tubarões-martelo e levou cinco minutos para voltarem ao caiaque, principalmente porque Sonny ficava virando-o quando ambos estavam tentando entrar. Foi muito engraçado cuidar uns dos outros, mas eles estavam tão assustados lol. Nós amamos a Austrália!

EDC Las Vegas: Tocamos em muitos EDCs, este é um dos nossos festivais favoritos do mundo. Mas em 2018, nós fomos convidados a fechar o mainstage e isso foi uma grande honra. Tocamos no escuro, mas durante o show o sol nasceu, eram 6h30 da manhã.. É apenas para os obstinados, para aqueles que realmente querem festejar ao máximo e quem quer experimentar algo realmente diferente durante um evento. A atmosfera e a vista do nosso palco eram apenas magníficos. Um dos melhores shows que já fizemos.

Sabemos que ter uma gravadora é um sonho tornado realidade para a maioria dos DJs. Como surgiu a ideia da Skink Records, e quais são a missão e o diferencial da gravadora?

Skink deveria ser o nosso “novo nome” em vez de Showtek. Estávamos com medo de fazer novas músicas com o mesmo nome e surgiu um “pseudônimo”. Wouter disse: "Foda-se isto! Eu não vou mudar meu nome por causa do que as pessoas podem pensar de mim, vamos manter o Showtek e fazer do SKINK uma plataforma para produtores / DJs que desejam lançar um estilo diversificado de dance music." Nunca mudamos o nome e decidimos nomear a gravadora SKINK, "porque" é um lagarto que pode regenerar sua cauda depois de perdê-la ao ser atacado por predadores, melhorando sua sobrevivência e aptidão evolutiva. Esta é uma metáfora de como operamos, sempre encontramos uma maneira para sobreviver, evoluir e permanecer vivos.

Vocês se apresentaram no Tomorrowland Brasil em 2015. Podem nos contar como foi essa experiência e sinergia com o público brasileiro naquela época?

Uau, foi em 2015 ?? OMG, O TEMPO VOA!!! Lamentamos não colocá-lo em nosso top 3 sets, mas está definitivamente entre os 10 primeiros! Este set estava cheio de energia e nunca iremos esquecer este show. A multidão no Brasil é incrível e mal podemos esperar para voltar. Lembramos que tinham milhares de pessoas apenas "assobiando” junto com cada música!!

Qual foi o maior desafio que vocês enfrentaram para chegar onde vocês estão hoje?

Decidir que queríamos seguir uma nova direção enquanto ainda estávamos fazendo hardstyle. Nem sempre foi fácil, estávamos com um pouco de medo de perder alguns de nossos fãs ou não ganhar novos fãs. Mas sabíamos que se não mudássemos nossa direção, não ficaríamos mais felizes em fazer o que estávamos fazendo. Demandou muita coragem, mas quando conseguimos, tínhamos certeza que estávamos no caminho certo.

Como vocês acham que a indústria da música eletrônica e do entretenimento voltará após a pandemia? Vocês acreditam que será ainda mais valorizada?

Infelizmente, a indústria da música foi duramente atingida com a pandemia e achamos que isso afetou demais os fãs. É aquela situação comparada com um elástico sendo puxado para baixo, pronto para atirar, e quando isso acontecer, ele voará alto! Pode demorar mais um ano, mas para sermos honestos, não podemos esperar para sempre e recuar. Porém, há alguma luz no fim do túnel. Não somos afetados apenas como artistas, mas também a cena como um todo, considerando os promoters, os seguranças, os engenheiros de som, entre outros. Todos os envolvidos na realização de um festival foram prejudicados. Por isso, imaginmos que as pessoas ficarão super animadas quando for permitido festejar novamente!

Vocês trabalharam duro no estúdio durante a pandemia, e isso se reflete nas últimas produções da dupla. O que podemos esperar do Showtek este ano? Podem nos dar algum spoiler sobre os próximos projetos?

Queremos fazer deste um grande ano para nós. Não ficamos parados em 2020 e queríamos garantir que todos os nossos fãs recebam o que merecem. Nós estamos trabalhando em um novo álbum este ano, que será uma coleção de muitas músicas novas, originais e remixes exclusivos. Estamos entusiasmados em anunciá-lo depois deste verão.

Qual legado o Showtek quer deixar para a indústria da música eletrônica?

Não acreditamos em ser o melhor em algo, pelo menos não neste setor. Música é uma forma de arte e você tem fãs que adoram, ou apenas um bando de haters que não amam isso. Nunca pretendemos ser os melhores DJs do mundo, porque ninguém vai lembrar quem foi o melhor DJ de 2013 em 2030, mas as pessoas vão lembrar das músicas como "Bad", "Booyah" ou "Pum Pum", porque as pessoas reconhecem nossa assinatura em nossos sons. Só queremos deixar muitas músicas para trás, porque quando você ouvi-las, ela trarão de volta na lembrança um determinado momento ou época de sua vida. Essa é a beleza disso e é o que gostamos de fazer.

Deixem uma mensagem aos fãs brasileiros!

Amamos o Brasil. Queremos agradecer a todos os nossos fãs por ouvir nossas músicas e por comparecer em nossos shows. Mal podemos esperar para voltar e tocar para vocês. Enquanto isso, fiquem seguros e cuidem de seus amigos e familiares! Amamos todos vocês!