Entrevistas

Toco, CBS, Sony, Iraí Campos, DJ Marky, Edo Van Duyn e até o Faustão: conheça a trajetória de Paco, comandante da nova rádio SpaceSex FM

Por Lau Ferreira.

Paulistano de nascença e capixaba de alma, Wagner Henrique, ou melhor, Paco, não é um nome dos mais famosos a nível nacional, mas tem uma bagagem riquíssima de mais de 30 anos de estrada no mercado da música eletrônica brasileiro. Nele, atuou em inúmeras funções: DJ, empresário, diretor de gravadora, radialista, funcionário de lojas de discos, além de também ter trabalhado com nomes como DJ Marky, Gui Boratto, Leo Janeiro, Edo Van Duyn, Luiz Eurico Klotz e até o Faustão.

Seu grande sonho e vocação, contudo, sempre foi mesmo o rádio. E foi no fim de 2020 que foi premiado com a oportunidade de inaugurar e comandar o direcionamento de uma nova estação de música eletrônica: a SpaceSex FM, que vem crescendo organicamente neste ano e, segundo Paco, tem o potencial para ser uma das melhores rádios de música eletrônica do planeta. Também disponível por streaming, a SpaceSex é abraçada pela estrutura do grupo capixaba HF News, que ainda possui outras duas frequências regionais: a premiada Rádio Cidade, voltada ao pop, e a Rádio Rocket 977, voltada ao rock.

"Montamos uma estrutura forte para gerarmos conteúdo jornalístico. Nos preparamos para ter o melhor som e o maior alcance do Estado. Quase cem municípios recebem o sinal da SpaceSex, e estamos negociando um modelo de rádio praticamente inédito no Brasil. Quando fecharmos, será um choque!", promete Paco.

Mas para entender melhor o que está por trás de tudo isso, precisamos compreender o contexto; a linda trajetória de Wagner Henrique até chegar onde chegou, e como seus caminhos se cruzaram com o grupo do Espírito Santo por onde atua hoje com tanto afinco.

Uma infância triste, salva pela música

Aos cinco anos de idade, em 1977, a mãe do pequeno Wagner precisou ser afastada da família, pois sofria com sérios problemas de saúde. Pouco tempo depois, percebendo a tristeza do menino, seu tio, que era DJ, resolveu levá-lo a algumas festas. E funcionou.

"Quando tinha entre sete e oito anos, fui a uma festa de garagem com meu tio Mauro, que era Disc-Jockey (não se usava as siglas DJ ainda) para ganhar uma grana a mais nos finais de semana. Quando vi meu tio tocando "Foxy - Get Off", pensei: 'quero ser isso!'. Foi ouvindo Foxy, Bee Gees, Sylvester, Tavares e todas aquelas maravilhas que o moleque sorriu e quis aquela alegria pra vida!", conta.

Entre 82 e 84, Paco passou a frequentar a Toco, famosa discoteca da zona leste de São Paulo que funcionou entre 1972 e 1997. Na mesma época, tornou-se fissurado em programas de DJs em rádios, como a Pool FM, e revela que chegava a matar aula para curtir e gravar a programação. "Era fanático nos programas Big Apple Show, do Julinho Mazzei, Gregão, Iraí Campos, Ricardo Guedes, Dynamic Duo, Cuca. Cheguei a ser office boy do Iraí Campos em 1988", relembra.

Paixão que vira profissão

Depois de ter atuado por um tempo como office boy de Iraí Campos, um dos maiores DJs brasileiros da época, Paco foi convidado a trabalhar na Metropolitana FM. Começava, então, uma história de amor com o rádio que nunca terminaria. Seu trabalho se destacou e acabou entrando no radar de gravadoras. Passou por CBS, Bullet Records e Back 2 Basics, antes de ser contratado, em 1993, por uma loja de discos e CDs — e então retornando à CBS, agora sob o guarda-chuva da gigante multinacional Sony.

"Foram dez anos trabalhando na área comercial e aprendendo muito, conhecendo artistas, assistindo a shows, lançando discos e bandas incríveis, conhecendo gente, e sempre que podia, tocava sem jamais esquecer o que havia me levado até ali: o sonho de infância de ser DJ", segue Paco.

O jovem sonhador deixou a CBS/Sony em 2003 e passou ainda por Sum Records e Universal Music, mas nem tudo eram flores: "Ali a indústria dava sinais de que as coisas não iam bem. A era digital havia começado e ainda não se sabia lidar direito com aquilo que eu pensava: 'esse será o futuro'...".

Investindo na carreira de DJ (e manager)

Com o mau momento do mercado, Wagner decidiu recomeçar em 2005, e enfim tentar seu grande sonho: a carreira de DJ. Recebeu a ajuda de amigos como Marky e Deeplick, e acabou também transformando-se em manager dessas figuras. Em 2008, graças a seu trabalho na função, recebeu o convite de Edo Van Duyn, Luiz Eurico Klotz e Paulinho Silveira para fundar a célebre 3Plus Music (que viria anos mais tarde a se transformar na Plus Talent, atual Plusnetwork, uma das maiores agências do mercado).

"Fizemos muitos discos de sucesso: Gui Boratto, House Ship, Leo Janeiro, Rodrigo Ferrari, Boghosian, Mario Fischetti, Marky, Southmen, Mari Olivetti, Dance 4Life, Mixhell, Buga, Anderson Noise (um DVD incrível), e nessa época comecei a minha interrompida e sonhada carreira como DJ", narra.

"Fui convidado por Marcus Buaiz a ser residente do Shaya na Rua Amauri, que tinha como sócios Felipe Faria e Faustão. Buaiz era um dos donos do Royal, em São Paulo, e logo me convidou para ser residente do club também. Assim, entrei pela porta da frente dos melhores clubes do país, agenciado pela melhor e maior agência, em companhia das melhores pessoas, dirigindo um label dos sonhos", afirma Paco.

Baixando o ritmo e voltando às origens

Na crista da onda, uma missão mudaria completamente os rumos de sua vida. Em 2011, como DJ residente do Royal Club, foi designado para inaugurar a filial do clube em Vitória, no Espírito Santo. Lá, conheceu a radialista Mônica Camillo, apaixonou-se, casou e constituiu família, deixando a vida agitada e glamourosa de São Paulo para trás. Isso faria com que acabasse revisitando o começo da sua carreira, voltando ao mundo das rádios.

"Em 2016, cansei um pouco da vida louca que estava levando há mais de uma década e enviei currículo para rádios aqui no Estado, e tive a alegria de ter uma oportunidade na Rádio Cidade, a Rádio Rock. Após 27 anos, eu estava de volta ao início de tudo, o rádio, um dos meus amores", segue contando.

A SpaceSex FM

Até que, na virada de 2020 para 2021, foi positivamente surpreendido com a nova aquisição do grupo HF News.

"Em quatro anos, aprendi, cresci, conheci pessoas, me reinventei novamente e descobri que, talvez, jamais deveria ter saído do rádio — mas ao mesmo tempo, sabendo que a escola que tive me habilita demais. Pude utilizar tudo o que aprendi nesses 30 anos de mercado, e no final de 2020, um novo desafio surgiu: uma nova rádio foi adquirida pelo grupo em que trabalho, e recebi a incumbência do presidente José Luiz Dantas (provavelmente o ser humano mais incrível e genial que conheci na vida) a criar uma rádio de música eletrônica. E sonhos se tornam realidade", reflete Paco.

"Confesso que nem nos meus mais loucos desejos e devaneios imaginei que isso fosse acontecer um dia, mas está acontecendo. A SpaceSex nasceu com pinta de rádio grande, espírito de rádio grande e amor de rádio que já não existe mais. Por isso, acredito que seremos uma das melhores rádios de música eletrônica do planeta", afirma, com convicção.

A rádio começou devagar, apenas com música — sem nem vinheta, nem locução —, mas aos poucos foi evoluindo. Em 04 de janeiro, sob o comando da própria Mônica Camillo, estreou oficialmente, exibindo uma programação bastante versátil, que busca misturar os clássicos da dance music com os hits atuais, com espaço para o underground em programas específicos. "Meu lema é fazer uma rádio agradável para se ouvir", pontua Paco.

"Pela manhã, das 07h às 10h, temos o Energy Express, em que tocamos os clássicos dos anos 70, 80, 90 e 2000. Uma jovem jornalista, Lívia Marchi, é quem faz o horário com informações sobre música e entretenimento. Das 10h ao meio-dia, Lívia apresenta o Café Del Mar: uma trilha suave com muito tropical e deep house para quem curte o restante da manhã ouvindo um som gostoso, com cheiro de praia.

"Ao meio-dia, temos o Banana Show, com o melhor locutor do Brasil. Banana toca as novidades, os clássicos, te faz sorrir e alegra o lunch break de quem está conectado ou sintonizado. Às 13hs, Alexia Mariano apresenta o Lux Hits, com as novidades que rolam em todo o mundo da música pop-eletrônica. Às 15hs, rola o Muzik Royal, com uma mistura dos midbacks de dois, três, quatro anos atrás, com novidades da house music e produções  de artistas locais e nacionais. Às 18h, eu apresento o Sun-7 SpaceSex. Nele, toco clássicos dos anos 70 e 80, repaginados ou não, além das novidades, bate-papos com artistas, empresários, notícias sobre o mundo da música, tecnologia e entretenimento", explica.

Há ainda programas especiais de segunda à sexta, sempre às 21h, que vão de lounge e trap a novas tendências pelo mundo. Paco tem o slot da quarta-feira com o Rhythm N' Soul, em que mostra a influência black na música eletrônica. Ainda estão previstos um programa só com meninas — Strogen Beat —, um apresentado por ninguém menos que o DJ Patife e "outros dois com duas das maiores e mais respeitadas células de eventos do Estado: Equilibrium e Ecologic".

O futuro

Para o futuro, está nos planos tornar-se referência. "Queremos ser vistos como a melhor rádio de música eletrônica do país", diz Paco. "Com o streaming, o mundo todo poderá ouvir nossa rádio, e o céu é realmente o limite. Quando a pandemia acabar, certamente os eventos vão voltar a acontecer e estaremos aqui para apoiar artistas e empresários. Creio que as pessoas estão precisando de amor, e a música é isso, a cura para muitos males desse mundo", continua, cheio de esperança.

"Criou-se uma nova empresa de comunicação dentro da Universidade Vila Velha [onde José Luiz Dantas também é presidente], um portal de notícias funcionando como guarda-chuva para as três rádios. Temos um diretor geral, Renan Fae, que já havia passado pela Rádio Cidade e retorna após 12 anos dirigindo o grupo de rádios da empresa que detém a Globo para o Espírito Santo. Roberto Burura, outro profissional de enorme peso no Estado, é o diretor artístico.

"Temos um time de 12 estagiários trabalhando no jornalismo, design, mídia, contatos e tudo que uma grande empresa necessita. Temos um departamento comercial e de marketing muito ativo e comprometido. O marketing, em especial, é comandado por Gisele Madeira, um dos maiores talentos do Espírito Santo", conclui Paco, elencando os predicados do seu time.

Ficou curioso? Para ouvir a SpaceSex, basta acessar pelo site do HF News , pelo aplicativo da Apple ou, para quem for do Espírito Santo e estiver dentro da zona de cobertura, sintonizar na 101.5 FM.