As experiências noturnas vividas por dois moleques e seu tio vida lokanos anos 80 em São Paulo podiam muito bem ter virado roteiro de um filme tipo Curtindo a Vida Adoidado. Só que a música falou mais alto e aqueles rolês acabaram servindo de inspiração pra formar uma banda.
Assim nasceu o Aldo, cujo segundo álbum, Giant Flea, ganha lançamento agora pelo Ganzá, um dos três selos powered by Skol Music.
A história do tio Aldo, que levava os sobrinhos André e Murilo, então com 8 e 12 anos, pra ver rachas e observar garotas flanando pela Rua Augusta dos anos 80, tem tudo a ver com o espírito da banda. Porque muito antes de se preocupar com rótulos, o Aldo faz um som indie eletrônico que tem como proposta não se encaixar em fórmulas prontas. “Conseguimos não ficar escravos de um tipo de música só e isso é muito legal”, diz André Faria, guitarrista, produtor e vocalista da banda.
Esse espírito desencanado e divertido é a tônica de Giant Flea, um disco se permite mudar diversas vezes de mood ao longo de suas 11 faixas. Vai do Aldo festivo e puxado no molho do selo nova-iorquino DFA (som que a gente já conhecia desde o primeiro álbum) a faixas que metem os dois pés no pós-punk e até no folk.
Formada pelos irmãos André(guitarrista, produtor e vocalista) e Murilo Faria(sintetizadores, produtor e DJ) com os parças Érico Theobaldo(baterista) e Isidoro Snake(baixo) ,a banda passou o ano de 2014 tocando em festivais e festas pelo Brasil. As faixas de Giant Fleaforam criadas nesse clima de estrada e muita música, como conta André;
Com espírito livre e mente aberta, o Aldo foi abrindo espaço para todo tipo de influência em seu som. “Tentamos colocar tudo o que curtimos em um disco, fosse um violão folk setentista estilo Wilco(como o que se ouve em “Second Hand Chest”), um beat eletrônico pesado estilo Mr. Oizo e DFA(“Liquid Metal”) ou um vocal sussurrado tendo as gravações do Chet Baker como referência (“Hostage Song”). Nesse disco, tem até influências de Vangelis e Ryuichi Sakamoto nas linhas e timbres de synth”, explica o vocalista.
“Eu e Mura consideramos fundamentais as seguintes etapas de composição: gravar, buscar timbres, arredondar letras, testar microfones, amplificadores e maneiras alternativas de buscar um som. É nessa hora que você se abre para erros e experimentações. Você pode até seguir as regras e fórmulas de estúdio, mas corre o risco de soar como todas as bandas do ano estão soando. Por isso no Aldo não existe muita regra. Em Giant Flea, por exemplo, misturamos as gravações originais de uma demo caseira com gravações de microfones que custam US$ 10 mil”, conta.
O resultado disso vai muito além das referências a LCD Soundsytem, banda com a qual o Aldo foi comparado quando lançou o primeiro álbum. De Talking Heads a Devo, passando por house francesa, techno de Detroit, Neu!, Stooges… a viagem é intensa pelo que há de melhor nos arquivos da música contemporânea da mais alta qualidade.
Neste álbum, cantar em inglês não foi uma questão de escolha, mas de musicalidade. “O Aldo tem músicas em português, espanhol e inglês. Mas quando escutamos as demos, acabamos sempre preferindo as que são em inglês. Simplesmente combina melhor com música eletrônica. Assim como bossa nova combina mais com português”, acredita André. “Além disso, nascemos em São Paulo, uma cidade totalmente global e caótica, que tenta ser uma Nova York paraguaia. Nada mais coerente do que sermos uma espécie de Nova York paraguaio na música. E um bom nova-iorquino paraguaio canta em inglês, porque quer se comunicar com o mundo todo, não apenas com o Brasil”, zoa.
A produção do disco ficou por conta dos irmãos André e Mura com “dicas de US$ 1 milhão” do produtor Dudu Marote, que comanda o selo Ganzá, da plataforma Skol Music.