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Boghosian dá dicas essenciais para trabalhar com samples

É do conhecimento de todos que para se produzir uma faixa, é necessário vasto conhecimento técnico além do lado artístico, um trabalho com qualidade profissional demanda horas a fio, em especial as partes que mais chamam atenção em uma música como os vocais. Foi pensando nisso que decidimos convidar Boghosian, artista graduado quando o assunto é estúdio, para nos contar como ele utiliza os samples nas produções — e dicas de como eles devem ser utilizados.

Dono de uma trajetória admirada, Paulo Boghosian é aquele tipo de artista que tem a necessidade de atuar dentro e fora das pistas, seja como DJ residente dos clubs Warung Beach Club e D-EDGE ou então, dentro de seu estúdio onde já produziu faixas lançadas por gravadoras como Yoruba Records, Defected, Bargrooves, Plastic City e Cécillepara citar algumas entre tantas. Desse papo surgiram várias dicas para que você dê um up no momento que tiver produzindo uma nova faixa. Caderno e caneta em mãos? Ou anota onde você preferir mesmo:

First things first O “sampling” é um recurso poderoso na música eletrônica. É a prática de “recortar” e reutilizar elementos de uma música na outra. Esses elementos podem ser de bateria, frases de vocais ou instrumentos, discursos, trechos de melodias e por aí vai. O sampling advém do Hip hop na década de 80 e 90, quando os samplers (equipamentos dedicados a manipulação de samples) como a MPC da Akai se tornaram amplamente disponíveis e difundidos, mas a técnica foi rapidamente incorporada também na house music e em outras modalidades de música eletrônica. Existe uma quantidade enorme de faixas de todos os gêneros de música eletrônica com samples, reconhecíveis ou não.

Dica 01: fuja do obvio Tão importante quanto a escolha dos samples é a maneira como são usados e manipulados. Fica mais inteligente quando um sample é utilizado de forma diferente da original, melhor ainda se der uma “dica sutil” sem “entregar” de onde vem. Esse efeito pode ser atingido de diversas formas: recortando e recriando melodias, criando loops hipnóticos partindo de pequenos trechos de som, mudando o tom, utilizando diferentes camadas de sons juntas, mudando a velocidade e por aí vai. São muitas possibilidades.

Dica 02: Crie seus samples Essa é a principal dica que eu quero passar. Crie seus samples! Ao escutar qualquer música, estou sempre atento a mínimos detalhes, seja kick drums, percussões orgânicas, pequenos elementos de bateria eletrônica, ou até sussurros de vocais e sobras de reverb que podem ser utilizados em uma música nova. Algumas vezes conseguimos até imaginar como ficariam ou como seriam utilizadas, outras não, são apenas timbres que você gosta. Mas eu gosto de picotar e separar esses pequenos recortes que podem ser usados para montar uma bateria ou podem até servir como primeira ideia no início de uma nova faixa. Claro, existem sample packs prontos e eles vão consumir muito menos tempo seu no tratamento do som e na edição, mas eles estão disponíveis para todos. Imagina que desagradável utilizar um loop de bateria e na semana seguinte sai outra música com a bateria idêntica porque o produtor utilizou o mesmo loop. Não é tão bacana, né?

Dica 03: Organização é obrigatório Ao montar uma biblioteca de samples, a forma de como você organizará ditará seu ritmo. Minha dica nessa hora é: organize os samples por tom. Sim, o tom é muito importante, mesmo na bateria. Se você não tiver um ouvido muito apurado, pode utilizar softwares como o Mixed In Key para te orientar em relação a tonalidade e campo harmônico.

Dica 04: Escolha suas armas Outra coisa importante que você vai precisar é um bom sampler. Eu gosto de utilizar a própria Maschine da Native Instruments para manipular os samples, mas existem várias opções: NI Kontakt, Akai MPC, Elektron Digitakt, entre outros. O sampler além de te dar vários recursos na edição desses trechos, facilita o teu workflow na hora de criar e performar ao vivo.

Dica 05: Efeitos são quase tudo Por fim, você precisará efeitos para encaixar os samples no arranjo. O mais importante para mim é o reverb. O reverb, se utilizado sutilmente pode colocar os diversos elementos de uma mix no lugar e dar a liga necessária entre eles. Algumas opções interessantes são UAD Lexicon ou o Reverb Solo que é uma opção mais simples. Você vai precisar também de um bom filtro, e/ou equalizador, para limpar frequências indesejadas de um sample e isolar somente aquilo que você quer usar. Alguns que se destacam são o FabFilter Pro Q e o UAD Manley Massive Passive. Você também pode se utilizar de delays e echos a vontade, como o Soundtoys Echo Boy.

Trabalhar com samples é um universo próprio dentro da música eletrônica. Alguns artistas o fazem com perfeição como o A Tribe Called Quest no Hip hop e o Daft Punk na música eletrônica. Espero ter passado algumas sugestões de como se aproveitar desse universo de possibilidades. E por fim, não se esqueçam de respeitar os direitos autorais.