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Tudo que você precisa saber sobre cocaína e redução de danos

É inegável que o uso de substâncias de forma recreativa sempre esteve ligado ao mundo da música, seja no uso de maconha em shows de reggae, na ingestão de ecstasy em festivais de música eletrônica, ou até mesmo no consumo da bebida alcoólica de uma maneira geral. Diante disso, e sabendo que esse tema se aproxima mais de uma questão de saúde pública do que de um crime, a Play BPM sempre tratou do assunto sob a ótica da educação, visando informar seus leitores sobre o modo correto de ingestão, tão quanto os riscos e efeitos positivos que o composto pode oferecer ao usuário. Desta vez, vamos tratar do uso da cocaína.

HISTÓRIA

Por milhares de anos, índios da América do Sul tem mascado as folhas da coca, planta que contém nutrientes vitais, assim como inúmeros alcaloides, a exemplo da cocaína, de onde é extraída. A folha da coca foi, e ainda é, mascada universalmente por várias comunidades indígenas. Para se ter ideia, já foram encontrados restos da coca em múmias anciãs que viveram na região do Peru, na época do descobrimento do Brasil. Há também evidência que essas comunidades mascavam a planta antes de atividades que exigiam esforço físico, como uma fórmula de estímulo.

Quando os espanhóis chegaram à América foram apresentados a planta pelos indígenas. A partir de seu uso, ficaram impressionados com seu poder entorpecente que os dava força e energia. Diante disso, levaram várias mudas para cultivar na Europa, expandindo o uso da planta para todo o ocidente. Alguns nomes importantes da história ficaram conhecidos por utilizarem da planta em várias ocasiões. Entre eles, Américo Vespúcio, um dos principais atores na descoberta do novo continente, que levou o seu nome, América.

Entretanto, a extração da cocaína por completo só ocorreu em 1855, pois até lá não se havia tecnologia suficiente nos laboratórios ao redor do mundo para tal feito. Com o isolamento do composto, cientistas começaram a explorar as possibilidades de uso, que ia de tratamento para cabelos até misturas em vinhos. Na época, se tornaram comuns cartazes espalhados pelas principais cidades oferecendo serviços a base da cocaína.

A popularização do produto aconteceu anos depois, quando começou a ser usado para o tratamento de viciados em morfina. Um clássico exemplo é o de John Stith Pemberton, inventor da Coca-cola. Pemberton se viciou em morfina quando começou a utilizá-la para tratar de um ferimento no peito que sofreu numa batalha. Para se livrar da substância, ele começou a pesquisar alternativas que poderiam substituí-la, até encontrar a cocaína. E foi pela base desse composto que ele fabricou a primeira garrafa de Coca-Cola, que manteve a substância na lista de ingredientes até a sua proibição em 1905.

EFEITOS

Quando o composto começa a fazer efeito, existem aqueles considerados positivos, neutros e negativos.

Os principais efeitos positivos são: mudança no humor para um estado eufórico; estimulação física e mental; pensamentos sexuais e sensações eróticas; aumento de um estado sociável e conversativo; diminuição de percepção da dor; diminuição da fatiga.

Os principais efeitos neutros são: anestesia local; sensação de estar dopado; aumento da frequência cardíaca e da pressão arterial; mudança geral na consciência; suspensão do apetite.

Os principais efeitos negativos são: desejo de usar mais cocaína (vício físico); irritação nasal quando aspirado; boca seca; sensação da garganta fechar; tolerância, hábito e vício psicológico; ansiedade e pânico; insônia; carência emocional; paranoia e medo; raiva e agitação; tremores e taquicardia; super-aquecimento; espasmos musculares; distonia; convulsões (overdose); ataque cardíaco (overdose); hipertermia (overdose).

Cuidado: os efeitos negativos podem aumentar com doses mais altas que o recomendado.

Duração da Cocaína (uso nasal)
Duração total: 1 – 1,5 hrs
Tempo de espera para os primeiros efeitos após a ingestão da substância: 0 – 5 mins
Tempo para crescimento dos efeitos até o pico: 1 – 15 mins
Pico: 10 – 20 mins
Do pico até acabarem os efeitos: 15 – 60 mins
Tempo para que alguns efeitos do dia após o uso acabem (cansaço, sensação de calor etc): 1 – 2 hrs

DOSAGEM

Dosagem do cocaína (nasal)
Efeitos quase inexistentes 5 mg
Light 20 – 50 mg
Comum para pessoas sensíveis 60 - 70 mg
Comum para a maioria das pessoas 70 – 85 mg
Comum para pessoas grandes ou poucos sensíveis 85 – 100 mg
Doses consideradas altas 100 - 150 mg
Doses consideradas muito fortes 150 + mg

Importante: arritmias, pânico, hipertensão e tontura podem resultar de uma dose muita alta de cocaína. Algumas pessoas são mais sensíveis a essa substância que outras, por isso, tome cuidado caso você esteja usando pela primeira vez ou tenha posse de um material de pureza desconhecida. A morte por cocaína é imprevisível: algumas pessoas já morreram ingerindo 30 mg da droga, no entanto, existem usuários que toleram até 5 g do composto por dia.

O uso ocasional de cocaína raramente causa problemas permanentes ou graves ao corpo e à mente. Em termos de neurotoxicidade (conforme definido pelo dano ou morte de células no cérebro em resposta à superexcitação ou oxidação reativa causada por drogas), a cocaína não parece exibir esses efeitos, ao contrário de outras substâncias, tais como como metanfetamina. Seu uso prolongado ou abuso, no entanto, causa a diminuição da regulação de curto prazo dos neurotransmissores.

Os efeitos físicos potencialmente mais nocivos da cocaína parecem não ser neurológicos, mas cardiovasculares. Eventos adversos cardíacos graves, particularmente morte súbita cardíaca, tornam-se um sério risco em altas doses devido ao efeito bloqueador da cocaína nos canais de sódio cardíacos. Além disso, o uso prolongado de cocaína pode resultar em cardiomiopatia relacionada à cocaína. Insuflação regular de cocaína, o método mais popular de ingestão, pode ter efeitos adversos nas narinas, nariz e nas cavidades nasais. Estes incluem uma perda do sentido do olfato, hemorragias nasais, dificuldade em engolir, rouquidão ou um nariz escorrendo cronicamente.

PROBLEMAS

A cocaína vendida no Brasil tem uma pureza contestável. A maioria da droga é misturada a condicionantes químicos para fazer com que "rendam" mais. Com isso, o perigo também aumenta: a partir de análise de agências especializadas, sobretudo da DEA, agência americana antidrogas, foi constatado que a maior parte da cocaína que tem entrado nos Estados Unidos - que é de origem sul-americana, principalmente da Colômbia - contém Levamisole, um poderoso fármaco usado no tratamento a doenças causadas por verminoses, que tem o efeito de comprometer o sistema imune do usuário. Com isso, fazendo com que o corpo do paciente fique sujeito a desenvolver complicações de patologias simples, como uma gripe que evolui para óbito. Além disso, a reação da substância com a cocaína tem a probabilidade de causar vasculite generaliza.

COMBOS

É imprescindível saber que jamais deve-se misturar a cocaína com outra substância, visto o grande risco de efeitos tóxicos e até overdose. Abaixo listamos alguns compostos e a relação de segurança que mantém quando usada em conjunto com a cocaína.

Perigosos:

  • Opioides , compostos que se assemelham ao ópio. Podem causar parada respiratória.
  • aMT , droga psicodélica.
  • Tramadol , analgésico. Doses acima de 300 mg provocam convulsões.
  • IMAO ou inibidores da monoamina oxidase , usado no tratamento da depressão. Combinado com a cocaína provoca crises hipertensivas.

Inseguros:

  • NBOMes (25i, 25c, 25b, 25x) , psicodélico frequentemente vendido como LSD. NBOMe e cocaína provocam considerável estimulação quando usados em conjunto, o que pode resultar em severa taquicardia, hipertensão e ataques cardíacos.
  • 2-C-T-x, usado em conjunto com a cocaína, pode provocar falência cardíaca.
  • 5-MeO-xxT , quando usado em conjunto a cocaína, provoca ansiedade e intensos pensamentos indesejáveis.
  • PCP, a combinação leva a estados hipermaníacos.
  • DXM, aumenta o risco de ataque cardíaco e pode causar ataques de pânico.
  • DOx, droga psicodélica muito potente e de grande duração. A combinação dos efeitos estimulantes da cocaína e DOx tendem a ser desconfortáveis. O término dos efeitos da cocaína enquanto o DOx ainda está ativo pode provocar um grande aumento na ansiedade do usuário. Além disso, os dois usados em conjunto podem aumentar o estímulo abdominal, causando intensa dor.

Cuidado:

  • Cogumelos, psicodélicos. A estimulação advinda de psicodélicos pode aumentar a ansiedade e a presença de pensamentos indesejáveis, complicando a experiência com a cocaína.
  • LSD, alucinógeno mais popular no mundo. A estimulação advinda de psicodélicos pode aumentar a ansiedade e a presença de pensamentos indesejáveis, complicando a experiência com a cocaína.
  • DMT, presente no chá de Ayahuasca, e utilizado na seita ‘Santo Daime’. A estimulação advinda de psicodélicos pode aumentar a ansiedade e a presença de pensamentos indesejáveis, complicando a experiência com a cocaína.
  • Mescalina, psicodélico encontrado no cacto Peyote e no de São Pedro. A estimulação advinda de psicodélicos pode aumentar a ansiedade e a presença de pensamentos indesejáveis, complicando a experiência com a cocaína.
  • Cannabis, grandes quantidades de cannabis podem causar fortes experiências em combinação com a cocaína, inclusive causando ansiedade e pensamentos indesejáveis.
  • Anfetaminas, aumento do estímulo cardíaco, podendo levar a arritmias.
  • MXE, também conhecido como gás do riso. Pode levar a estados hipermaníacos e insônia.
  • Ketamina, dissociativo anestésico e alucinógeno. Combinação com a cocaína aumenta a pressão arterial. Além disso, doses consideradas altas podem elevar o risco de lesão física.
  • MDMA, base dos comprimidos de ecstasy. Combinação com a cocaína diminui os efeitos desejáveis do MDMA, podendo levar a ataques cardíacos.
  • Cafeína, Combinação com a cocaína aumenta a pressão arterial e causa taquicardia.
  • GHB/GBL, anestésico usado no combate à insônia, depressão, alcoolismo, e narcolepsia. Pode causar insuficiência respiratória.
  • 2C-X (2C-B, 2C-E, 2C-D, etc), droga psicodélica que apresenta efeitos semelhantes à combinação do MDMA com o LSD. Seu uso em conjunto com a cocaína pode provocar extrema ansiedade, além de desconforto físico e mental.

Baixo risco e aumenta os efeitos da cocaína:

  • N2O, gás do riso.

Baixo risco e diminui os efeitos da cocaína:

  • Benzodiazepínicos, drogas psicoativas.

Baixo risco e não altera os efeitos da cocaína:

  • Inibidor seletivo de re-captação de serotonina, antidepressivos. Diminui a efetividade própria.

Relação entre combinações de drogas:

RECOMENDAÇÕES

Deve-se entender que existem substâncias que certamente não valem a pena, e a cocaína é uma delas. Isso decorre do fato de que, com o uso, seus malefícios superam os efeitos positivos que o composto pode oferecer. Por isso, é imprescindível que o usuário da substância siga regras essenciais visando a redução de danos. A primeira de todas é: não use! Se essa for seguida com sucesso, não é necessário o cumprimento das próximas.

Todavia, se por acaso o uso seja de sua vontade:

  • Atente para a dosagem. É importante que sejam evitadas dosagens que o usuário desconhece. Alguém inexperiente deve sempre começar com doses muito baixas, tendo o objetivo de trabalhar em pequenos incrementos, conforme se sentir à vontade para fazê-lo. Isso deve ser feito aumentando minimamente a dose em cada experiência e nunca dando grandes saltos para o desconhecido. No caso da cocaína que usa-se principalmente de forma nasal, a substância agride também a mucosa do nariz. Por isso, alterne para outras vias de uso, como a oral.
  • Use poucas vezes ao dia. O efeito de uma dose média de cocaína é conhecido por durar alguns minutos, fazendo com que o usuário insufle o composto várias vezes para obter um pico, aumentando seu efeitos tóxicos. Com isso, ele está cada vez mais sujeito a sequelas e a ataques cardíacos. Dessa maneira, é importantíssimo que o usuário preserve o autocontrole.
  • Dê intervalos entre os usos de, no mínimo, um mês. A substância é conhecida por causa do vício psicológico e tolerância, por isso ficar alguns dias livre dela vai fazer com que o corpo não se adapte ao composto, diminuindo ou mantendo estável a quantidade necessária para fazer efeito no próximo uso.
  • Procure atendimento em saúde. Existem diversos grupos de saúde que são especializados no tratamento de usuários de entorpecentes. Acesso o site do Ministério da Saúde e se informe. Garanta o seu cuidado!