Notícias

Coluna do Matheus – O surgimento do Brazilian Bass e o que aconteceu com a EDM no país

Embora a utilização correta do termo EDM seja para a palavra Electronic Dance Music, caracterizando todos os gêneros em geral, no Brasil ela ganhou um significado diferente: o de nomear toda a cena eletrônica comercial que iniciou em 2014, com o big room e o electro house, e vem se adaptando até os dias de hoje, com o trap, dubstep e associados. E é sobre esse último significado que falaremos nesta postagem.

Antes de tudo, muito prazer! Meu nome é Matheus e essa é a minha coluna. Nela, algumas vezes ao mês, abordarei um tema distinto sobre música eletrônica. Vale ressaltar que muito do que escreverei aqui será fundamentado em dados e análises profundas da cena em si, mas também não há como fugir do viés da opinião pessoal (até porque a coluna é minha, rs). Sem mais delongas… Vamos lá!

A partir da análise da cena brasileira de 2014 até hoje, se pode afirmar que no começo daquele ano Alok já despontava como número 1 do Brasil, com lançamentos que marcaram o início daquilo que seria considerado o Brazilian Bass, faixas como We Are Underground estouraram no SoundCloud, levando o nome do DJ para os quatro cantos do país. Entretanto, a cena brasileira ainda tinha fortes nomes de outros gêneros bombando pelo país, como a dupla Felguk, FTAMPA, Gui Boratto, Renato Ratier, etc. Então, em que momento tudo foi se concentrar em uma única vertente? Bem, podemos inferir que o insucesso da EDM no Brasil se deu por causas multifatoriais.

Com o sucesso inicial daquele novo e ainda não tão explorado sub-gênero, apelidado de Brazilian Bass, que unia elementos de outras diferentes vertentes, vários aspirantes a DJs e até artistas já consolidados viram nele uma oportunidade de crescimento em conjunto e começaram a estudá-lo para o incorporar em seus sets e produções. Dessa maneira, no ano seguinte, quase 20 artistas que integravam o top 50 da House Mag detinham alguma relação com aquele tipo de som, tendo Alok e Vintage Culture como primeiros colocados.

Além disso, alta do dólar no meio de 2015 foi, sem dúvidas, um fator determinante para que a cena brasileira ficasse totalmente restrita ao Brazilian Bass e derivados. Basta analisar as edições do Tomorrowland Brasil de 2015 e 2016 para ver uma total diferença no time de atrações, que no primeiro foi majoritariamente baseado em artistas internacionais, diferente do segundo ano, que teve um line 50% composto por artistas brasileiros. Além disso, como uma tentativa ainda maior de baratear os custos (e que gerou uma polêmica enorme na época), todos eles eram praticamente da mesma agência, a Plus Talent (hoje Plus Network), que foi a grande responsável pelo evento no país.

Para entender como a alta do dólar influenciou (e ainda influencia) nas apresentações de artistas em solo nacional, basta perceber que não compensa para um produtor de eventos contratar alguém por 30 mil dólares (120 mil reais), se não é tão certo vender tão bem quanto algum dos nacionais populares que giram em torno do mesmo preço, como Vintage Culture. Diante disso, a cena se resume aos mesmos artistas que se revezam nos principais eventos do país, tocando praticamente o mesmo som. É claro que existem exceções, como grandes clubs e selos pelo Brasil que tem um gigantesco capital advindo de patrocínio, além de um mercado consumidor fiel (leia-se Laroc, Camarote Salvador, etc). Logo, para esses, essa regra não se aplica tanto quanto para os produtores locais, pois a conta já está quase fechada (ou até fechada) muito antes das vendas se iniciarem.

Ademais, foi no final de 2015 que Alok lançou o seu remix para a faixa BYOB , do System of a Down e no ano seguinte bombou com Hear Me Now , em conjunto com Zeeba e Bruno Martini, dando uma repercussão internacional ao novo som nunca vista antes para um artista brasileiro. Também foi em 2016 que, pelos motivos referidos acima, o Brazilian Bass dominou a Tomorrowland Brasil, chegando a ter 3 palcos dedicados a vertente no mesmo dia. Vale ressaltar que no mesmo ano Alok estreou no festival Villa Mix, introduzindo a música eletrônica para o público de outros ritmos musicais e alavancando ainda mais a popularidade do gênero no país. Um exemplo disso foi o lançamento de Suave, de Alok em conjunto com Matheus & Kauan nos vocais. A primeira parceria de um DJ com cantores sertanejos na história, cujo objetivo foi alcançar os fãs desse ritmo e trazê-los para esse universo da eletrônica.

E não parou por aí, teve lançamento de Jetlag com Fernando & Sorocaba; Alok em parceria com Simone e Simaria; Bruno Martini em conjunto com Dennis DJ; além de vários outros. Outro exemplo se dá com Vintage Culture através do seu remix para Céu Azul, de Charlie Brown Jr. Uma das músicas mais famosas de uma das bandas nacionais mais populares da última década. É claro que muita gente que gosta de rock e/ou da banda, mas que não conhecia a música eletrônica, foi apresentado a ela por esse remix.

Por último, formou-se um ciclo: a enorme quantidade de novos ouvintes que eram introduzidos a dance music unicamente pelo Brazilian Bass geraram uma grande demanda que era suprida pela cada vez mais adição de novos artistas ao gênero. Isso fez com que no último ano alguns players do mercado e até artistas consagrados, como Vintage Culture, chegassem a comentar que alguém precisa fazer algo novo.

Talvez esse seja até um dos motivos para o boom do tech-house no país nos últimos meses: a tentativa de fuga de algo que parece que “já deu” o que tinha que dar. Só que para muitos nomes da música eletrônica underground no país, o tech house que rola no Brasil tem se mostrado um tanto comercial, como se fosse uma versão modificada do Brazilian Bass, uma adaptação da saturação.

Através de outra análise, se pode até afirmar que o Brazilian Bass se tornou a “EDM” do mercado brasileiro, pois ambos impulsionam o cenário – mesmo que de maneira totalmente comercial – e movimentam muito dinheiro, que vai para agências, promotores de eventos, DJs, e empresários em geral. Além disso, ambos estão saturadíssimos. A EDM, por exemplo, vem se reinventando: aquilo que começou em 2014 com o electro house, big room, e bounce, agora conta com o variantes do trap e com o bass house.

Até quando isso irá durar? O jeito é esperar pra ver…