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Como seria a nossa vida sem a existência da música?

O surgimento exato da música ainda é um mistério entre os historiadores e cientistas que debatem até hoje quando os primeiros instrumentos musicais foram criados. Mas se há um consenso entre todos, é de que a música existe há tanto tempo que não conseguimos imaginar nossas vidas sem ela.

Para alguns a música preenche um espaço vazio, afastando o silêncio e ocupando a mente num momento de tédio, para outros a música é vida, uma paixão que transborda e se torna uma profissão. Para outros, uma experiência que só pode ser sentida, já que seus ouvidos não permitem escutar, mas as vibrações passam por cada centímetro do corpo.

Mas, e se a música não existisse?

A primeira mudança seria na sociedade como um todo. O ser humano tem a pré-disposição de formar grupos com quem se identifica, e a base para a grande maioria dos nichos é o gosto musical. O tipo de música que gostamos transmite a mensagem de quem somos e no que acreditamos.

Por essa razão frequentamos lugares que tocam música que gostamos, e por consequência conhecemos pessoas com gostos similares. Também é comum nos identificarmos de imediato quando encontramos alguém que gosta das mesmas bandas, cantores e DJs. Ter uma paixão em comum cria um laço entre as pessoas, como se a preferência musical tivesse um significado mais profundo do que apenas entretenimento.

Estudos já mostraram que a preferência musical de alguém nos faz deduzir que o outro possui certos valores, e ao assumir essa conexão nosso cérebro faz associações boas ou ruins em relação à essa pessoa. De certa forma, a música é como um idioma onde transmitimos nossas emoções e intenções, passando de geração em geração, e criando um senso de continuidade e lealdade a uma tribo.

Seguindo pelas interações entre as pessoas, também não sairíamos para simplesmente ouvir música. Imagine um mundo sem festivais, shows, bares com uma boa banda, ou baladas para dançar até clarear?

Além disso, pesquisas mostram que a atividade de ouvir ou produzir música em grupo ativa reações diferentes do que realizar outras atividades. O que ocorre é que compartilhar e prever os ritmos de uma melodia permite que duas ou mais pessoas se sintam sincronizadas, criando uma conexão entre elas. Essa conexão libera oxitocina, um neuro-hormonal, que por sua vez, quando está em níveis elevados, é ligado ao aumento de confiança, contato visual, memória, generosidade e empatia. Isso explica porque sentimos aquela sensação positiva quando produzimos música junto ou dançamos com alguém.

Já a segunda mudança seria na nossa vida pessoal. Como viver sem aquela música que te motiva durante um trabalho, ou aquela que te acolhe depois do fim de um relacionamento? Associamos músicas a bons momentos e a pessoas que gostamos para nos ajudar num dia ruim ou para nos alegrar.

A música é uma combinação de sons que nos fazem ficar arrepiados, rir ou chorar, e capaz de estimular diversos componentes que nos ajudam a lidar com os diferentes momentos das nossas vidas. Pesquisas revelam que a música é uma das chaves para ativar nossa “farmácia particular interna”, promovendo ou removendo os componentes necessários. Por exemplo, música alta e acelerada aumenta o nível de adrenalina no corpo, ajudando a manter o corpo acordado, e se você está tocando ou ouvindo uma música que gosta, o corpo libera mais serotonina, aumentando sua felicidade, e, consequentemente, cooperando com a felicidade das pessoas ao seu redor. Por outro lado, ela inibe a ocorrência de fadiga e também muda o ritmo de pulsação e respiração e níveis de pressão arterial. A música é uma cura.

Outro grupo que também seria impactado sem a música, e que poucas pessoas imaginam, seriam os surdos. Costumamos assumir que só há um jeito de aproveitar a música, mas o que nem todos sabem é que, definitivamente, existem outras maneiras desfruta-la.

Primeiramente existem diferentes níveis de surdez, que variam de pessoa para pessoa, e, independentemente desse nível, mesmo não tendo audição alguma, os deficientes auditivos conseguem sentir as vibrações das batidas. O som produzido pela escolha de um acorde de baixo ou o boom da bateria pode ser sentido muito facilmente por eles. Além disso, as letras ativam diferentes tipos de sentimentos, e a combinação de vibrações e letras é como as pessoas surdas curtem música. Alguém que usa aparelhos auditivos ou implantes pode ter alguns níveis aprimorados de audição, mas para aqueles que não utilizam, costuma-se aumentar o volume para que possam sentir as vibrações de batidas e graves mais fortemente enquanto leem a letra. Um ótimo exemplo de inclusão aconteceu na edição de 2017 no Lollapalooza Chicago, onde interpretes de libras foram escalados para diversos shows do festival.

Já num âmbito maior, o mudo do entretenimento seria totalmente modificado. O impacto musical é tão grande que, de acordo com uma pesquisa feita pela Boston Consulting Group, estima-se que hoje em dia, somente na cidade de Nova York, a indústria representa 60 mil empregos diretos, com salários combinados chegando a 5 bilhões de dólares, e movimentando 21 bilhões de dólares anuais. Por conta desses números, NYC está entre um dos maiores ecossistemas musicais do mundo.

Também já presenciamos as diversas evoluções dos meios para se ouvir música. Iniciando nos discos de vinil, passando pelos CDs e chegando ao streaming, que hoje já é considerado uma revolução. Isso porque durante os anos 2000 criou-se um estigma de que a industrial musical estava morrendo, mas com o estabelecimento de empresas como o Spotify e, posteriormente, a Apple Music, houve um crescimento considerável no rendimento líquido gerado pela compra de faixas ou álbuns completos.

Um exemplo de sucesso é o rapper Drake, que em 2016 teve 4.7 billhões de plays em suas músicas no Spotify. O que trouxe um resultado enorme para sua gravadora, Universal Music, que também é dona de parte dos royalties cada vez que alguém ouve Drake nas plataformas digitais.

O fato é que 10 anos atrás tínhamos que comprar, por cerca de 30 reais, um CD com mais ou menos 15 faixas, e carregar um diskman que não cabia nem no bolso, e hoje, com uma assinatura mensal por menos de 20 reais, temos acesso a uma biblioteca com 30 milhões de músicas. O resultado é que, em 2016, calcula-se que foram tocadas músicas por stream 431 bilhões de vezes somente nos Estados Unidos.

Outro viés tecnológico que não teríamos sem a música seriam os famosos Ipods da Apple, que trouxeram notoriedade à companhia, e, posteriormente, o player de mp3. Também não haveriam gravadoras, revistas, canais de tv e premiações musicais. O ramo musical é muito difundindo, o que por consequência alcançou todos os veículos de comunicação.

O maior exemplo é a MTV, que teve ramificação em diversos países, e até hoje celebra a música na sua programação diária e em premiações anuais. Apesar de ter mudado consideravelmente seu conteúdo nos últimos anos como alternativa ao Youtube, já que a plataforma permitiu ao público ver seus clipes on demand, o canal televisivo permanece como pioneiro nesse segmento. Além disso, temos revistas como Billboard e Rolling Stones, que assim como a MTV, brigam com as novidades tecnológicas do século XXI. Os blogs de música e os canais no Youtube ganharam uma fatia do público, que antes pertenciam às revistas.

Agora imagine seu filme ou série favorita. Será que teríamos as mesmas emoções sem a trilha sonora para acompanhar? Hoje em dia a música é facilmente inserida na narrativa do filme, e permanece conscientemente não observada, enquanto ainda estimula nosso subconsciente. Consequentemente ajudando no impacto emocional que esses filmes têm em nossas mentes.

A introdução de música nos longa metragens iniciou na época dos filmes mudos. Naquela época as canções não eram gravadas simultaneamente com as filmagens, mas tocadas ao vivo enquanto o filme era projetado para o público. Essa ideia surgiu porque os produtores pensavam que seria estranho tantas pessoas sentadas juntas em silêncio por tanto tempo.

Nos filmes de hoje, as músicas são usadas para instituir a atmosfera perfeita para uma cena, criando o tom e o humor ideal para a trama do momento. Isso faz com que saibamos discernir o nível de drama que o diretor espera que tenhamos, por exemplo.

Resumidamente, uma festa sem música, uma viagem sem sua playlist, o trânsito só com o barulho das buzinas, seria com certeza, uma vida mais cinzenta.

A maior evidencia do início da música que se tem até hoje, foram flautas criadas a partir de ossos, datadas de 43 mil anos atrás, e que segundo os historiadores que as encontraram, demostra a presença estabelecida de uma tradição musical, enquanto humanos modernos colonizavam a Europa. Eles também sugerem que a música pode ter ajudado a manter e aumentar laços entre grandes grupos de humanos, expandindo a espécie em número e geograficamente.

A música foi criada, evoluída e difundida nos 4 cantos do mundo, independente de religião, gênero, localização. Nos restando apenas agradecer e usufruir de uma das melhores e mais importantes invenções do mundo.