O que a reportagem do Programa Fantástico sobre o consumo de drogas não falou…
Uma reportagem divulgada pelo Fantástico no último domingo abordou o uso de drogas ilegais e legais — aquelas criadas em laboratórios que o governo não tem conhecimento, e por isso ainda não foram proibidas — nas raves e eventos de música eletrônica.
Se pararmos para pensar e pesquisarmos um pouco, veremos que o maior problema não é o consumo em si, e sim o desconhecimento do que está sendo ingerido. São essas substâncias que ninguém faz ideia do que são, nem mesmo pesquisadores e cientistas, que matam pessoas com uma frequência que, infelizmente, vem crescendo exponencialmente.
A mídia e o governo exercem um papel fundamental para continuarmos sem entender quase nada sobre este mundo. A única informação que te oferecem é: a droga é perigosa, a droga mata! O intuito disso é fazer com que as pessoas fiquem com medo de trilhar esse caminho. Mas no final das contas, essa estratégia não faz com que as pessoas deixem de usar drogas ilícitas, apenas impede que elas tenham uma educação básica para entender com o que estão realmente lidando.
Foi o caso da jovem Martha Fernback, de apenas 15 anos, que ao ouvir de sua mãe que as drogas que consumia possuíam substâncias muito perigosas e desconhecidas, resolveu procurar por conta própria uma cada vez mais ‘pura’, acreditando ser mais seguro — o que resultou em sua morte. Hoje, a mãe de Martha, Annie-Marie Cockburn, luta para que a legislação em relação à legalização de algumas drogas ilícitas mude na Inglaterra:
O médico legista do condado de Oxfordshire, Darren Salter, chegou à conclusão de que a morte de Martha foi acidental:
Alguns países adotam estratégias de redução de danos; uma proposta diferente da maioria das abordagens em relação ao uso de drogas, que costumam não funcionar. Enquanto muitas dessas abordagens exigem abstinência antes mesmo de se começar o tratamento, a RD se propõe antes a escutar o usuário e o uso que ele faz das drogas, e partindo disso, agir para reduzir tanto quanto for possível os eventuais danos que vêm sendo provocados a esse indivíduo pelo uso indevido das drogas, bem como orientá-lo no sentido de fazer um uso menos prejudicial dessas substâncias.
O Fantástico também mostrou um laboratório montado dentro de uma balada na Inglaterra, que testa os alucinógenos e alerta os consumidores sobre os possíveis riscos. Como já disse a Stereo Minds em sua matéria sobre este assunto: “Mesmo que o funcionamento do laboratório dependa de drogas que os seguranças tomaram da mão das pessoas, e não de um teste voluntário por parte dos usuários, é um trabalho de dentro para fora, já que a pesquisadora pode publicar alertas na Internet sobre as drogas que considerou perigosas. Imagine como seria se todos os principais clubs fizessem isso. Teríamos uma Folha Diária de Alertas.”
Este trabalho de redução de danos também existe no Brasil, mas uma ONG que atua no setor se queixa de que é preciso liberar a importação do reagente capaz de testar as drogas, visto que já se perdeu o controle sobre a origem das drogas sintéticas no país.
Bruno Logan Azevedo, representante do Projeto ResPire, declarou em suas redes sociais que infelizmente suas falas foram cortadas da reportagem. Mesmo assim, fez questão de compartilhar com todos o que havia dito:
Devido ao excessivo consumo de álcool, em 1920, os Estados Unidos aprovaram a Lei Seca, também conhecida como “O Nobre Experimento”, que proibia a fabricação, venda, importação, e exportação de bebidas alcoólicas para consumo nacional, como estipulou a 18ª emenda da Constituição dos Estados Unidos.
O efeito causado pela lei foi totalmente contrário ao que era esperado. Claro que, nos primeiros anos, houve um grande apoio da população em relação à medida, mas com o passar do tempo, um problema mais grave surgiu: o comércio e consumo ilegal. Traficantes lucravam de forma absurda em cima da ‘ilegalidade do álcool’. O ponto de encontro das pessoas que queriam beber eram bares clandestinos, localizados no subterrâneo com o objetivo de não chamar atenção.
Quase 13 anos depois, com o argumento de que a legalização do álcool geraria mais empregos, elevaria a economia, e aumentaria a arrecadação de impostos, os opositores do então presidente norte-americano Franklin Roosevelt o convenceram a pedir ao Congresso dos Estados Unidos que legalizasse novamente o álcool. Com isso, em 1933, a Lei Seca foi revogada.
Segundo uma matéria publicada pela Gazeta do Povo em 2014, a cada ano, cerca de 8 mil pessoas morrem em decorrência do uso de drogas lícitas e ilícitas no Brasil. Um estudo elaborado pela Confederação Nacional dos Municípios (CNM) aponta que, entre 2006 e 2010, foram contabilizados 40,6 mil óbitos causados por substâncias psicoativas. O álcool aparece na primeira colocação entre as causas, sendo responsável por 85% dessas mortes.
Uma parte um tanto quanto engraçada na reportagem da Rede Globo, foi o momento em que Solomon, após quase ver a amiga morrer (essa história não nos convenceu), declarou:
“estou tentando diminuir ou só beber, como qualquer um”