Se você já se perguntou por que há tantos DJs holandeses famosos na indústria da música eletrônica, você não está sozinho. Tiësto, Don Diablo, Hardwell, Martin Garrix, Afrojack, Nicky Romero, Oliver Heldens / HI-LO, Joris Voorn, Bart Skills e Speedy J são apenas alguns exemplos de artistas holandeses de renome internacional. Embora a música eletrônica seja popular em toda a Europa, os Países Baixos têm uma quantidade significativamente maior de DJs de destaque, em comparação com países vizinhos como Alemanha, Inglaterra, Bélgica e França. Na verdade, de acordo com o DJ Mag Top 100, uma lista controversa, mas amplamente reconhecida, em média, 30% do ranking é composto por DJs holandeses todos os anos, sendo que nenhuma outra nacionalidade atinge essa porcentagem.
Para entender as razões por trás desse fenômeno, conversamos com pessoas da indústria durante nossas recorrentes visitas em Amsterdam, e estas foram as conclusões que chegamos:
Popularidade desde o início:
A cena da música eletrônica holandesa começou a ganhar força nos anos 90, com pioneiros como Tiësto, Armin van Buuren e DJ Jean, inspirando jovens talentos a se dedicarem à música eletrônica. Além disso, as estações de rádio, como a Radio 538, tiveram um papel importante, promovendo semanalmente as músicas de destaque do gênero. Isso contribuiu para a popularização da música eletrônica nos anos 2000 e a consolidá-la como cultura popular nacional. Atualmente, é comum ouvir música eletrônica até mesmo nos supermercados holandeses, e até o rei dos Países Baixos demonstra interesse, tendo comparecido a shows de artistas como Armin van Buuren em 2013 e Joris Voorn durante o King's Day deste ano, 2023.
Vibração musical e Geografia:
A Holanda possui uma vibrante cena de clubes, raves e festivais há mais de 20 anos. As pessoas começam a frequentar eventos musicais desde jovens, e o país concentra uma grande quantidade de locais onde DJs podem praticar e se apresentar. Além disso, a temporada de festivais começa em abril e vai até setembro, com dezenas de eventos ocorrendo todos os fins de semana.
Além disso, o país é pequeno, fazendo com que todos estejam muito próximos dos clubes e festivais. Essa proximidade geográfica facilita a conexão e a troca de conhecimentos entre os artistas, em um ritmo acelerado em comparação com regiões mais distantes. A Holanda possui uma extensa rede de transporte público, facilitando a locomoção dentro do país. Esses fatores tornam as pessoas mais propensas a viajar para festivais e eventos musicais. A presença de um mapa ferroviário bem conectado é um exemplo disso.
Atitude colaborativa:
Segundo profissionais da indústria, a mentalidade dos DJs holandeses é uma das razões para o sucesso deles. Embora desfrutem de sua fama, eles não são tão exagerados em relação às festas quanto artistas de outras nacionalidades. Durante entrevistas com Lucas & Steve, Sick Individuals e Firebeatz, todos destacaram a atmosfera amigável e colaborativa na indústria musical holandesa, o que também é notado durante o Amsterdam Dance Event. Apesar de os holandeses serem geralmente considerados um pouco rudes, na indústria da música eletrônica eles são conhecidos por seu apoio mútuo.
Drogas e cultura de segurança:
A Holanda é líder mundial na produção e distribuição de drogas recreativas, como anfetaminas e MDMA. Embora não possua leis antidrogas rigorosas, o país adotou uma abordagem de redução de danos. Nos festivais, há revistas de segurança na entrada, mas, uma vez dentro, os participantes encontram pontos de teste de drogas para verificar sua segurança, além de informações sobre hidratação adequada. A aceitação e o fornecimento de recursos para a segurança das pessoas refletem a mentalidade de lidar com o consumo de drogas de forma responsável. A indústria de drogas não é uma razão pela qual a música eletrônica tornou-se popular na Holanda, mas é uma das razões pelas quais ela continua a ser popular.
Empreendedorismo e marketing:
Assim como os suecos, os holandeses são conhecidos por sua habilidade em comercializar produtos. Isso se aplica também à música eletrônica. A Holanda enxergou a indústria da música como um negócio sério desde o início e abriga grandes empresas do setor, como a ID&T, organizadora de festivais, e a gravadora Spinnin' Records, que empregam muitas pessoas e geram grandes lucros. Essas empresas abriram portas para DJs holandeses, proporcionando-lhes melhores oportunidades internacionais em comparação aos artistas de outros países.
De acordo com o antigo dono de Spinnin’ Sessions, Eelko van Kooten, ser bom com mixers ou com produção não é suficiente para se tornar um grande DJ. É uma combinação de boa música e marketing bem organizado. Infelizmente, por isso, a produção de tracks por “ghost producers” (produtores fantasmas) está se tornando cada vez maior. Os fãs gostam de ouvir a música de grandes artistas. Para que suas tracks se tornem populares sendo um jovem produtor, você precisa trabalhar em conjunto com esses grandes artistas e, isso não é tão fácil. Existem DJs populares que trazem faixas feitas por um produtor fantasma sob seu próprio nome e apenas pagam ao produtor fantasma uma porcentagem do lucro. O produtor fantasma nunca teria feito esse dinheiro se ele o fizesse sob seu próprio nome.
Amsterdam Dance Event:
O país recebe há XX anos, milhares de profissionais e entusiastas da música eletrônica para uma grande evento de networking e apresentações únicas. Durante 4 dias de conferência e 6 dias de festas, a cidade holandesa proporciona showcases de gravadoras, label parties, festivais, palestras, encontros, simpósios, masterclasses e tudo que a indústria tem a oferecer. Assim como o fator das drogas, o ADE não é a razão, mas com certeza é algo que ajuda a fomentar demais a cena holandesa de música eletrônica.
Conclusão:
Como será o futuro? Nós não sabemos. Provavelmente devido a estas razões, as probabilidades continuarão a favor dos DJs holandeses. Há alguns bons talentos futuros para mencionar, como Dante Klein, Dastic, Mesto, Mike Williams, Sophie Francis e Trobi.
Curtiu? Então, se você deseja explorar ainda mais razões e entender sobre a cena holandesa, confira o vídeo abaixo: