
Música eletrônica e sustentabilidade: RTUR traz uma lista de festivais sustentáveis
Por Ágatha Prado e RTUR.
Com o avanço da tecnologia, nunca foi tão necessário a implementação de ações imediatas para práticas sustentáveis em todos os setores do mercado. Trabalhar a favor da preservação dos recursos naturais é de suma importância para a manutenção das condições ideais de sobrevivência.
O compromisso com a sustentabilidade vem sendo uma bandeira levantada dentro da música eletrônica já há algum tempo, sobretudo por meio dos grandes festivais mundiais. A emissão de lixos, gases e detritos tóxicos que são gerados durante eventos de grande porte é algo que fez algumas marcas repensarem suas práticas e processos produtivos, adotando meios viáveis para a atenuação do impacto socioambiental antes, durante e após seus eventos.
O DJ e produtor catarinense RTUR, por exemplo, é um artista que incorpora a sustentabilidade prática no seu dia-dia e também em suas escolhas e ações profissionais. “Desde que me conheço por gente, sempre tive esse senso de sustentabilidade e preocupação com o meio ambiente, acredito que é algo que vem de dentro de mim, mas claro que meus pais possuem papel fundamental nesse senso por me ensinarem desde os primórdios”.
Adotando diversas práticas em seu cotidiano, RTUR considera que a sustentabilidade é uma preocupação que deve ser incorporada através da disciplina e conscientização coletiva no dia-dia. “Aqui em casa nós separamos o lixo orgânico do reciclado (algo simples, mas que muita gente ainda não faz), e muito do lixo orgânico aproveitamos para fazer compostagem; às vezes, quando vou a praia, coleto lixo que vejo jogado no chão para por na lixeira também. Ver a quantidade de lixo que o ser humano cria e não descarta de maneira correta e o tamanho do estrago que isso causa é algo bastante triste”, adiciona.
Alinhando os propósitos do dia-dia com seus objetivos de carreira e aproveitando que junho é celebrado o mês da sustentabilidade, convidamos RTUR para criar uma lista de festivais que incorporam medidas sustentáveis e que buscam promover a conscientização ambiental em seus eventos. Se liga:
DGTL
O primeiro, que mais considero e dou valor, é o DGTL Festival, na sua cidade sede em Amsterdã. Sua preocupação com o meio ambiente é seu objetivo principal e por isso estão trabalhando para ser considerados o primeiro festival circular do mundo, em que todo material usado no evento terá seu início, meio e fim, tudo sustentavelmente e não gerando desperdícios. Para isso eles investem fundo em tecnologias anualmente para atingir esse objetivo.
Para atingir esse objetivo eles tem diversos planos de ação, como: plano de energia solar, onde na edição de 2018 foi captado energia suficiente para mover um palco inteiro; o festival não conta com venda de carnes, diminuindo drasticamente a emissão de CO2, visto que o mercado da carne tem um impacto ambiental maior que o setor de transporte; praça de alimentação circular, onde com o auxílio de uma máquina de compostagem avançada conseguiram converter todos os resíduos alimentares em composto, e assim eliminando praticamente todo o desperdício de alimento. Por esses ideais esse é meu festival de referência em sustentabilidade.
BURNING MAN
Com uma proposta diferente dos outros festivais, em que cada ‘Burner’ (assim chamado os visitantes) é responsável por levar seu alimento e devidos equipamentos necessários para sua estadia, esse visitante tem o dever de recolher todo seu lixo gerado e o levar embora consigo, pois considerando que o evento ocorre no meio do deserto de Black Rock City, não há meios de descarte correto. E pelo fato do evento ocorrer no deserto, a única opção para se chegar lá acaba sendo com o meio automobilístico, porém, a maioria das pessoas compartilha caronas de carro ou vão de ônibus a fim de minimizar impactos ambientais.
O evento conta com dez princípios criados pelo Co-fundador Larry Harvey em 2004 como diretrizes para os visitantes, desenvolvido desde os primórdios do evento, sendo um deles, que mais me chamou atenção, “leaving no trace” (não deixe vestígios), pois a comunidade respeita o meio ambiente e não deve deixar sinais que passou alguém por ali, e sim tentar deixar melhor do que antes.
Outros nove princípios que falam sobre responsabilidade, respeito, valores, participação, se tem para que o evento ocorra da melhor maneira possível tanto socialmente quanto ecologicamente. O evento todo (10 dias) é dedicado à arte e a comunidade, por isso, nas palavras deles, “não há um line-up fixo, as coisas simplesmente acontecem, por isso relaxe e aproveite sua viagem ecológica”.
WE LOVE GREEN
Festival francês que só pelo nome já podemos notar sua preocupação com o meio ambiente. Possuem oito pontos de sustentabilidade com foco em: energia, alimentação, água, lixo, transporte, aumento de conscientização, compensação de carbono e economia circular.
Algumas ações que mostram o quanto o festival vem se estabelecendo cada vez mais no mercado de festivais sustentáveis: mais de 80 mil árvores plantadas para restaurar o ecossistema, pois cada árvore absorve 50kg de CO2; ser um festival circular até 2025; utiliza 100% de energia renovável; conta com água gratuita, onde cada pessoa leva seu copo reutilizável e pode encher nas torneiras, deixando de gerar lixo com garrafas pet; o festival não conta com estacionamento para carros, o que achei bem interessante, pois assim eles incentivam ainda mais o uso de transporte público, táxi compartilhado ou até mesmo ir de bicicleta (que daí sim há estacionamento).
Enfim, mais um festival super bacana e que serve de exemplo para muitas pessoas e que acima de tudo, ajuda a criar esse senso de sustentabilidade em pessoas que às vezes não dão a devida atenção ao assunto.
TERRAFORMA
Fugindo um pouco dos festivais tradicionais, aqui temos um mais experimental, mas também com foco na sustentabilidade, onde a música é o catalisador, sendo “um centro de gravidade atemporal para as energias, com um ponto de ruptura a partir do qual sons e imagens criam uma sensação de suspensão capaz de nos apontar para novas percepções”.
A ideia é criar um novo conceito de escuta para tentar abranger tudo que a música expressa e pode nos revelar; estando dentro, ao redor ou fora de nós, da nossa sociedade e do mundo. Uma estrutura orgânica onde a música vai de encontro com projetos criados por artistas e artesãos proporcionando momentos de meditação e envolvendo o público ativamente.
Tudo isso focando na troca de experiência do público que se obtém com o entrelaçamento da música com a arte e com o meio ambiente, criando uma atmosfera no evento capaz de estimular a sensibilidade do público para olhar pro passado e futuro com outros olhos e novas percepções.
Entendendo um pouco como o evento funciona, fica fácil supor que sua preocupação com o meio ambiente é algo fundamental. E realmente, pois eles pretendem ultrapassar a gestão tradicional de eventos, desenvolvendo um modelo organizacional capaz de medir, reportar e reduzir os impactos em termos de resíduos, mobilidade, energia e água na natureza.
ØYAFESTIVALEN
Para finalizar trago um festival diretamente de Oslo, na Noruega. Mais um com o objetivo, desde 2002, de ser considerado um dos festivais mais verdes do mundo, e que vem ano após ano mostrando sua força nesse quesito e se destacando, seja buscando soluções sustentáveis para lixo, comida, transporte, energia e todos os insumos necessários para que o evento ocorra, buscando que o festival contribua para um futuro sustentável, sendo baseado em plantas e circular.
Um ponto bem bacana que observei é que para encontrar as melhores soluções sustentáveis, eles medem, levantam e reportam todos os dados adquiridos com o evento, sempre discutindo com organizações que trabalham e entendem desse meio. Algumas vezes, claro, eles falham em algumas ações, porém esses dados ficam disponíveis para que todos (aqui entram até organizadores de outros eventos) possam saber do ocorrido e assim não venham a cometer o mesmo erro.
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