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Coluna da Lisa #3: táticas de guerra no mercado da música eletrônica

Séculos e milênios se passaram, mas A Arte da Guerra ainda é um dos livros de cabeceira mais importantes para qualquer homem ou mulher com sede de conquista. Independente da área em que trabalha, o icônico livro de Sun Tzu pode ser aplicado no dia a dia e ao longo prazo em grandes, médias, pequenas empresas, freelancers, autônomos, e, inclusive, em todo o mercado da música eletrônica.

Mas vamos com calma. Antes de tudo: quem é esse tal de Sun Tzu e que livro é esse, A Arte da Guerra?

Estrategista de guerra, general e filósofo chinês, Sun Tzu nasceu em aproximadamente 544 aC. Suas sucessivas vitórias a serviço do rei Hu Lu do estado de Wu, no final do século VI aC, o “inspiraram”, por assim dizer, a escrever o livro A Arte da Guerra (entre alguns outros, também excelentes). O livro apresenta uma filosofia de guerra para gerenciar conflitos e vencer batalhas, e é aceito como uma obra-prima da estratégia. Ao longo de seus 13 capítulos, Sun Tzu descreve a melhor forma de entender o inimigo, estudar o campo de batalha, fazer uma auto análise do próprio exército e, como consequência, vencer guerras.

Agora você deve estar se perguntando como um livro de antes de Cristo, escrito em um contexto político, social e econômico completamente diferente do atual, pode nos ajudar a conquistar espaço dentro do mercado da música eletrônica… A seguir, citarei algumas frases do livro e analisarei com a lupa focada à nossa indústria. Vamos lá!

“Nunca houve guerra longa que fosse benéfica para qualquer um dos reinos envolvidos (…) o mais importante em uma guerra é a vitória e não a persistência.”

Em outras palavras: evite entrar em guerra com sua concorrência. Procure resolver a questão na conversa. Lembre-se que qualquer conflito exige recursos, muita paciência e gasto emocional, que pode ser resolvido de maneira precipitada com um simples bate-papo sincero e transparente. Muitas vezes queremos ser o dono da razão, mas esquecemos que este não consegue enxergar outras visões de um mesmo fato. É importante estarmos dispostos à conversa com aqueles que não concordam com nossas opiniões.

“Conheça a si mesmo e ao inimigo e, em 100 batalhas, você nunca correrá perigo. Conheça a si mesmo, mas desconheça o inimigo e suas chances de ganhar ou perder são iguais. Desconheça a si mesmo e ao inimigo e você sempre correrá perigo.”

Ou seja, autoconhecimento é tudo! Conheça suas forças, fraquezas e a sua verdade. Entre as 3 situações, em duas delas haverá chances de vencer caso você conheça a si mesmo; mas a única chance de perder a batalha completamente é quando há falhas de autoconhecimento. Entender o concorrente é extremamente importante, mas não tanto como entender a si mesmo.

Traduzido para o management artístico: um manager deve conhecer muito mais o próprio artista do que conhecer o concorrente do mesmo. O trabalho de um manager é com seu artista, não com o dos outros. A concorrência poderá ser um case de estudo, fonte de análise e inspiração; mas nem tudo que o outro faz cabe a você implementar ao seu artista. Por isso, em vez de copiar, conheça-se.

“O que todo mundo conhece não se chama sabedoria.”

Se você está jogando a mesma carta que seus concorrentes, não está fazendo nada de novo no mercado. Se você é um artista querendo lançar por uma gravadora ou entrar em uma agência, não jogue as mesmas cartas que os outros. Pergunte-se: qual é o meu diferencial? Jogue o jogo com cartas diferentes, esteja aberto à diferenciação, ao teste.

“Os que chegam primeiro no campo de batalha e esperam o adversário estão em posição vantajosa. Os que chegam por último, terminam a luta esgotados. Um bom guerreiro atrai o inimigo para si e nunca inicia o combate.”

O genial desta frase está na percepção da importância da conquista de espaço como forma de vencer a concorrência. Em outras palavras: você, artista, que está produzindo e tocando um som diferenciado… vai lá e conquista seu espaço, antes que alguém conquiste por você. No momento em que você é pioneiro no que faz, seu conhecimento é vantajoso perto do seu concorrente que está, apenas, seguindo seus passos. Isso que se chama vantagem: conquistar antes e esperar a concorrência chegar.

O mesmo cabe aos produtores de evento: caso tenha uma ideia de festa inovadora e com diferencial, faça antes que outros façam. Quando o trabalho é bem feito, você irá conquistar um público que é fiel ao seu evento e a esse território que você está explorando como pioneiro; e quando a concorrência chegar haverá poucas chances de ‘roubarem’ o seu público.

“A vitória na guerra não se repete, ela se adapta e varia sempre.”

Você, como manager de um artista, não adianta usar um case de sucesso de um outro artista e copiar absolutamente todos os passos na busca do sucesso. O campo de batalha já mudou. Este muda constantemente. Não haverá chances de sucesso travando a mesma batalha que já foi vencida por outros ou conquistar um terreno que já foi conquistado por outros fazendo o mesmo passo a passo que já foi feito anteriormente à você.

Sun Tzu cita a adaptabilidade, palavra chave para o momento que vivemos atualmente. Esteja passível de mudança, saiba caminhar em diferentes terrenos e conquistar territórios de maneiras inovadoras. Caso jogue a mesma carta sempre, seus concorrentes irão entender o seu jogo rapidamente.

“Quem desconhece as montanhas e florestas, os desfiladeiros e pastos, os pântanos e charcos, não saberá manobrar seu exército. Use guias locais.”

Antes de entrar em qualquer meio (como artista, manager, produtor de evento etc.), saiba onde está se “metendo”. Antes de começar a trabalhar em um cenário, estude, analise, faça contatos e networking com quem já está trabalhando na área e faça amizades com pessoas que frequentam os espaços e consomem tal evento ou tal artista. Cada meio da música eletrônica, do mainstream ao underground, tem sua dinâmica, sua postura, sua comunicação específica. Faça uma pré-leitura do terreno antes de se aprofundar; isso evitará “quebrar a cara” mais vezes do que o necessário e o ajudará a surfar a onda do cenário.

“Não se ouvem as palavras durante as batalhas. Por isso, existem os tambores e os gongos. É difícil enxergar os outros, por isso existem as bandeiras.”

Irei dividir essa frase em duas:

“Não se ouvem as palavras durantes as batalhas”. Basicamente, no meio de uma briga ou confusão na agência ou no evento, é inútil gritar seu ponto de vista pois ninguém irá te ouvir; acalme-se, abaixe o seu tom de voz e leve a discussão para um lugar privado.

“É difícil enxergar os outros, por isso existem as bandeiras”. Às vezes é impossível ‘ler’ os outros, e as bandeiras podem ser traduzidas por ‘sinais’. Ou seja: leia os sinais da outra pessoa, analise sua trajetória como profissional e com quem este se relaciona. É mais estratégico ler as pessoas pelos sinais que elas dão ao longo da vida do que tentar lê-la em um momento em específico.

“O general saberá ponderar. Pensa o que é favorável e o que é desfavorável, e decide o que é mais acertado. Ao levar em conta o que é favorável, torna o plano executável. Ao levar em conta o que é desfavorável, soluciona as dificuldades.”

O Sun Tzu é tão visionário que antes de Cristo já propunha uma análise SWOT para um cenário de guerra. Caso seja manager de um artista, produtor de um evento, dono de agência (ou qualquer outro ramo, literalmente) faça uma SWOT do seu objeto de trabalho. Procure apontar o que lhe favorece ou não favorecem. Depois, use o fatores que favorecem no seu planejamento e comunicação, enquanto que melhora os fatores desfavoráveis.

Por exemplo: o manager de um artista acha importante que este faça stories no Instagram, mas esse é um ponto desfavorável ao artista pois ele/ela não leva “jeito”. Aprender a fazer stories é uma prática, um hábito. Então enquanto o manager vende o artista nas redes sociais de outras formas, deve treinar o artista a fazer stories até que o ponto desfavorável torna-se favorável, e pronto para aplicação.

“Fique a favor da luz. Posicione-se em um lugar elevado e acompanhe a correnteza.”

Esta dica é essencial para qualquer big player no mercado!

Por ser um big player, você já está no topo da cadeia. Então, não se cegue por conta de ego ou fama, e leia o que está acontecendo nas cadeias mais baixas, nos pequenos players. Muitas vezes, são os pequenos players que ditam os rumos futuros do mercado – eles são a base. Ao se fechar para si mesmo, poderá perder informações importantes e movimentos inovadores que estão acontecendo “lá embaixo”.

Enfim, queridos e queridas, termino a análise por aqui porque poderia passar o dia citando frases e refletindo sobre elas. A Arte da Guerra é um livro essencial, e por isso, recomendo. Boa leitura, e compartilhe sua visão comigo!